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quarta-feira, 22 de março de 2023

Amando pelo silêncio - O besteirol como afeto

Os bostinha*

Temos, a patroa, e eu, seis filhos: Três dela, e três meus, e ao todo, então, são três, porque, por essas virtudes da matemática do matrimônio (temos que ajustar essa palavra discriminatória, pois, por que não "patrimônio"?), os filhos dela são também, prazerosamente meus.

Sou, conforme já mencionei anteriormente, um "senhorzinho aposentado", portanto, afeto à emocionalismos lacrimosos que compensam os que porventura não manifestamos no apogeu da juventude, porque na nossa geração, "homem não chorava", pois tinha que parecer duro, respeitável, ter pulso firme, e desse modo, acumular lágrimas para o tempo em que as cãs sejam a marca de nossas virtudes, mas que nos liberam os canais lacrimais para chorosas reminiscências que se acumulam desde a alva ao crepúsculo de nossos dias.

Comum é que a idade seja inimiga da memória, porém, então, até o presente momento, ainda sou beneficiado com chispas luminosas de lembranças de avantajadas imagens, sons, e perfumes que adornaram minha juventude e maturidade, e que ainda guardados em frascos de cristal da mente, abrem-se a espargir entre os que se acercam de mim como um repositório de afeto que necessito compartilhar, e o faço, de modo bastante particular e criativo, a falta de modéstia me chama a dividir com quem me lê.

Meus três filhos foram, são, e continuarão sendo amados, e cada um a seu modo receberam tais manifestos de carinho de minha parte, porém, em todos eles, o bom humor sempre foi o selo deste relacionamento afetuoso. Ri e fiz meus filhos rirem muito das minhas palhaçadas, dos meus deboches, e a recíproca fez-se verdadeira, e ainda se faz até hoje.

Meu filho temporão, hoje com vinte e sete anos de idade, é presente de contínuo em nossa vida, porque trabalha em casa, com ponto no relógio e tudo o que um emprego convencional exige. É compenetrado, serio, exageradamente nerd, e umas duas ou três vezes aventurei-me a ver o que estava escrito naquela tela preta com milhares de símbolos e linhas, e sim, eu não entendi uma única vírgula do que estava lá. Assim, curvando-me à minha insignificante sapiência diante desse cabedal, entro cautelosamente algumas vezes do dia, em seu refúgio produtivo, e na maioria das vezes, ampla maioria, nada dizemos um ao outro, senão uma asneira, com ar de seriedade, com cumplicidade de que, um e outro sabem que a vida é esse contínuo de rir e viver, de rir e sonhar, de rir e produzir. Às vezes, entro e fico olhando serio, olhar firme, e ele nem levanta a cabeça, continua em sua pensativa faina, e o silêncio nos trai, e instintivamente rimos daquele silêncio, o que faz quebrar o encanto do inusitado, e respeitosa silenciosamente me retiro, a pensar na próxima investida, na próxima asneira, para fazê-lo rir, para que me faça rir.

Do mesmo modo, à distância, meus outros filhos também recebem minha visita virtual, com uma besteirinha, uma figurinha engraçada, uma frase sem nenhum sentido, mas que façam-nos lembrar que, mesmo longe, estamos aqui e ali, no coração uns dos outros, em afagos pelo pensamento, pelo bom humor. É mais fácil assim, suportar o ninho se esvaziando de nossas esperanças, e se enchendo pelas lembranças. Então, que sejam boas. Que sejam divertidas.


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