A glória de Deus é ocultar certas coisas; tentar descobri-las é a glória dos reis. (Provérbios 25:2 NVI).
Está certo, eu não sou rei, nem mesmo sou adepto da monarquia como sistema de governo, porque não combina com meu pensamento democrático, pensar que alguém tenha um cargo vitalício por hereditariedade, como um atributo divino. Não mesmo! Mas "reis", aqui, tem um contexto de magnitude, isto é, somos criados pelo Rei do Universo, à Sua Imagem e Semelhança, então, há sim certa majestade neste indivíduo, que o diferencia de um tijolo, uma árvore, um gato, ou uma lagartixa. Nossa natureza majestática se faz notar exatamente por nossa necessidade de entender aquilo que vemos e compreender aquilo que não somos capazes de tocar, pela reflexão; de pontuar o intangível pelos fragmentos que nos são mostrados. Assim, buscar desvendar o que está oculto em parte, mas que deixa uma silhueta a nos instigar à puxar a ponta do lençol que os cobre, é próprio dessa Semelhança com O criador. Diz o Talmude, que D-us Se revela, Se ocultando, para que O busquemos a conhecer, e desta forma, nos surpreendamos pelo modo maravilhosamente simples que mostra Sua complexidade. Assim, se nem todos os teólogos ousaram navegar por águas com certa profundidade, é porque seus mapas estavam limitados ao tamanho do pergaminho que os continha, porém, quanto mais minucioso for um mapa (eu sei disso, porque desenho mapas temáticos), mais fragmentado será este espaço, dando margem à que outros pergaminhos isolados complementem o que falta no anterior. A Bíblia é assim. Uma única letra, um único ideograma pode revelar um imenso compêndio de informações, se o estudioso dedicado se detiver em isolar este ideograma (ou caractere), e buscar referências de contextualização sobre o mesmo. É o que faremos neste estudo.
Temos duas definições complementares para trabalhar a expressão: "Um tição tirado do fogo". A primeira delas (não na ordem cronológica) encontraremos em Zacarias 3:2, onde Jerusalém, isto é, o povo escolhido do Senhor é comparado à uma "Brasa viva", um povo que tem valor. Porém, o contexto desta reflexão estará melhor definido pelo texto de Isaías 6:6 , onde o relato nos diz que enquanto estavam diante do Trono do Altíssimo, os anjos O adoravam, proclamando Sua Santidade, e (vamos elucubrar um pouco aqui para imaginar a situação) num cantinho, envergonhado e tremendo, se encontrava o profeta, até que um anjo se volta para ele (costume até hoje utilizado no rito de recitação de "Kedushá" em sinagogas), e diz: "Venha, Humano, vamos juntos adorar O Senhor!" Ao que o profeta, em lágrimas, responde: "Como posso eu, um Ser Humano, de boca e pensamentos sujos, proferir louvores À Santidade do Eterno?" Então, diz o relato bíblico, que o anjo vai até o brasiero do altar, e de lá, com uma tenaz, retira uma brasa ardente, e com ela, purifica os lábios do profeta, isto é, faz com que o fogo que purifica o ouro, e extermina o pecado, faça esta purificação e transformação nos lábios impuros do Homem. Naturalmente, temos aqui uma metáfora poliedral, que nos mostra muitas faces de uma mesma expressão. Isso é deixado muito claro e poderíamos encerrar aqui, se não houvesse uma segunda lição no texto, tanto de Isaías, quanto de zacarias, de "Um Tição tirado do Fogo", e em ambas as situações, embora se apresentem com objetivos diferentes (um fala do pertencimento de Jerusalém ao Reino de D'us, e outro fala de um instrumento de purificação dos pecados do Ser Humano por intervenção dos anjos, embora percebe-se que o anjo não toma a brasa com a mão, mas usa um instrumento, um gancho, uma tenaz, um VAV ( ) , que entre seus significados, simboliza O Messias).
Aqui nesse contexto, quero mostrar que o profeta poderia ter sido levado até o braseiro para sua purificação, mas vamos elucubrar novamente, e imaginar que ele estava encolhido, mortificado de terror, paralisado, e nessa condição, estaria impossibilitado de mover-se em direção à sua salvação, e nesse caso, o que faz o anjo, senão, por autoridade divina, prover meio de que A Salvação chegasse até ele, o Homem. Em hebraico, este gesto de levar a Salvação, é chamado de Yeshuah ( ) , daí, em minha licenciosidade espiritual, posso perfeitamente imaginar que O Anjo que proveu tal gesto, tenha sido O Messias, pessoalmente. Mas vamos adiante.
O ponto aqui é que O "Tição" (Brasa ardente) foi retirado do braseiro, seu lugar de conveniência, para servir ao Ser Humano, onde quer, e como quer que este se encontrasse. Percebemos que não houve exigência formal de santidade (porque era impossível) para que recebesse o "Fogo Purificador", mas o próprio Fogo Purificador saiu de onde estava para servir ao Ser Humano, em seu propósito de santificação, isso só aconteceu depois de um gesto muito significativo do diálogo: O Ser Humano reconheceu sua condição frágil e impura, e com isso, demonstrou vontade intensa de estar entre os seres santos que adoravam O Altíssimo. Isso se chama de "Confessar os pecados!"
Segunda parte do título desta reflexão é meu assunto favorito, do Livro de Números, Capítulo 19, que é o tema da Vaca (Novilha) Vermelha, onde sabemos que, semelhante à Brasa retirada do Altar, também o animal do sacrifício era retirado do Arraial (no deserto), ou do templo (em Jerusalém). Em ambos o casos, nessa linha de pensamento, podemos entender que há sintonia no propósito didático (sempre bato na tecla que a Bíblia, os ritos, são antes de tudo, pedagógicos, sejam materiais ou metafóricos os seus ensinamentos). Tanto em um quanto o outro elementos de reflexão, temos a ideia de Um Messias que sai de Seu trono de glória, para trabalhar pela redenção do Ser Humano arrependido. Temos a noção plena de que nem sempre o status quo dominante (tradições costumes, denominações, instiruições) são o ambiente em que os corações são transformados, e somos levados a perceber que não é o Homem quem encontra meios de redenção, mas é D'us, pelo Messias, Quem provê recursos, ainda que Emanando dos Céus (metáfora ou não), que Se faz presente diante do trêmulo pecador que nem mesmo sabe que pode ser transformado. Aqui está a diferença entre crer ou não crer. O que não crê, por desconhecer, ainda que cumpra a vontade do Eterno, também está destinado à salvação, não por mérito do que faz, mas por estabelecimento primevo de que amar à D'us tem que necessariamente também amar o outro, e assim cumprindo, ainda que sem rótulo de religioso, possa asceder à salvação, pelo mérito do Messias, porém com o agravante da incerteza, da angústia pelo desconhecido vindouro, ao passo de que aquele que ainda que pecador, chega trêmulo por reconhecer-se nessa condição, na presença do Eterno, tem a possibilidade de fluir pela vida com mais leveza, e isso de fato aconteceu com o profeta Isaías, que terminou sua existência terrena, serrado ao meio, dentro de um tronco, por mando do rei Manassés, e este rei, pela brasa que foi tirada do Altar, ao fim da sua vida, reencontrou a paz, mediante seu arrependimento, e ambos se abraçarão no primeiro dia da eternidade. Tudo por causa de uma Vaquinha Vermelha, e de uma Brasinha Ardente, que foram retiradas de seu ambiente natural de redenção, para serem levadas ao lugar onde a Redenção era realmente necessária: O coração arrependido de um pecador. E poderíamos encontrar uma terceira definição para o Tição tirado do fogo: Alguém que estava destinado a ser consumido pelo pecado, mas que teve a lúcida experiência de arrepender-se no último instante, e voltar-se para os braços do Redentor.
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