Minha mãe foi professora, nos dias da minha infância, lá nos distantes tempos do guaraná com rolha. Primeiro, professora municipal, e depois, foi aprovada para trabalhar no Estado.
O Município era pequeno, ainda pobre, oferecia poucos recursos à Educação, e osa salários eram pagos sempre com muito atraso. Algo assim como seis meses, oito meses. Tínhamos que comprar "na caderneta", e sobreviver pela generosidade dos comerciantes que suportavam, com paciência, a espera. Presto aqui minha homenagem aos já falecidos Horácio Cardoso, Abel Parmegiani, e Joãozinho Morais, de quem já escrevi a respeito.
Quando passou para o Estado, as coisas deram uma boa melhorada, e segundo me contava, o Governador era o legendário Leonel Brizola. Deve à Brizola, o Rio Grande, até mesmo um estilo arquitetônico na rede de escolas, ao que atribuíram a alcunha de "brizoletas", as pequeninas escolinhas de madeira, pintadas de tinta de cor Alumínio. Eu fiz o primário numa destas brizoletinhas. Saudosas brizoletinhas.
Os tempos passaram, os custumes mudaram, Gramado cresceu, enriqueceu, modernizou-se, ganhou projeção internacional, ajustou-se aos novos tempos, o que não poderia ser diferente, e com isso, o estilo de política cultivado pelo Ex-Governador Brizola, foi extinto. Quase completamente.
O próprio Brizola, foi obrigado a mudar de estilo, quando mudou de Estado e governou o Rio de Janeiro. Amado aqui e ridicularizado lá, Brizola alçou-se ao voo mais alto, à presidência da República, alcançando o melancólico índice de pouco mais de três por cento dos votos na última eleição onde participou, e encerrou ali sua trajetória executiva na política.
Brizola, embora não tendo sido, originalmente do mesmo partido de Getúlio Vargas, banhou-se do estilho caudilho de discursar, de olhar no olho de pessoa a pessoa do alto dos palanques,e confrontar os adversários com ataques incisivos e até mesmo de ofensas pessoais, optando pela ridicularização do oponente,com alcunhas do tipo: "Sapo Barbudo", e outras, que não lembro agora.
Sua forma de galgar notoriedade era sempre na tribuna, e seu estilo, muito vagamente, lembrava os históricos tributos romanos, onde havia um endeusamento dos heróis. Brizola não chegaria a tanto, até porque sua religião Protestante (Metodista) não permitiria tal coisa, mas aquela aura de heróis caía-lhe bem e proporcionava ao seu séquito uma certa embriagues de alma, que correspondia à ânsia por estar próximo de um herói vivo, quase uma divindade palpável.
Fedoca, Prefeito, carrega o mesmo estilo. Suas estratégias e foco administrativo abraçam causas que a médio e longo prazo permitirão que ele seja reconhecido pela galhardia e bom humor, mas impávida ousadia em olhar no olho dos adversários e confrontá-los para duelos verborrágicos, no confronto das propostas, ao que, um e outro se firmam em convicções antagônicas, e que, no modo caudilho brizolista que Fedoca se estriba, arrebanha delirantes seguidores, antes, populistas peões com foices e martelos e punho cerrado com brados de vitória antecipada, e hoje, valentes propagadores de urros repetidos com jargões pelo meio cibernético, até que se difamem e sejam destroçados os adversários, ou que se curvem e resignados se deixem difamar pelos espumantes impropérios disseminados em perfis pelas redes sociais.
Estou julgando tal atitude? De modo algum. Estou avaliando métodos. Se de um lado, resigna-se no conforto das lágrimas a oposição vilipendiada, e com isso aceita a dor como natural ou traição, de outro lado, Fedoca constrói sua estrada rumo aos objetivos, que por certo tempo quase foram guardados na zona do esquecimento, mas que pela sua inimaginável chegada ao poder, empurrado pela massa acéfala dos aliados, já arrependidos, volta ele, Fedoca, a reconstruir os sonhos de seu velho pai, e do jeito que sempre sonhou chegar.
Fedoca não tinha um plano, mas por não estar só nesta jornada, mais que depressa costurou um. E seu plano nada tem a ver com dar sequência ao crescimento material e urbano de Gramado, mas será pela Educação, o braço forte do brizolismo, que reconstruirá suas aspirações. Serão os professores, os educadores, os alunos, e através deles, as famílias, que estarão envolvidas neste projeto de volta do populismo caudilho, numa cidade que oferece um modelo de crescimento ao Brasil, e com tamanha vitrine, Fedoca e seus aliados poderão galgar voos mais altos. Piratini, Senado (não necessariamente nesta ordem), enquanto Gramado torna-se o Quartel general deste ressurgimento possível.
O momento político brasileiro está propício ao surgimento de novos heróis. Triste povo que precisa de heróis. Mas Fedoca tem as ferramentas políticas e o capital intelectual necessário para oferecer este legado. Tem o privilégio numa bandeja entregue pelo PMDB, que mesmo tendo liderado a composição dos dez partidos da vitória, ainda não está recuperado da possibilidade que não previu, onde o acordo de alternância em 2020, poderia ser quebrado. Fedoca viu um brilho com muita intensidade, e empenhou todos os esforços políticos que dispunha para adquirir a terra onde luzia aquele ouro.
E a oposição que não é oposição, empenha-se nas trapalhadas da equipe recém empossada do Prefeito, que chego a imaginar, tenha colocado colaboradores notadamente trapalhões em lugares visíveis, para que sejam criadas cortinas de fumaça para o projeto muito mais ambicioso que se oculta pelo silêncio das noites frias da Serra Gaúcha.
A estratégia é perfeita. Fedoca é talentoso com as mãos em dedilhar instrumentos de cordas, e hábil com as palavras, embora a homilética não tenha se mostrado o seu forte, e a retórica passa longe de suas habilidades. Mas o que ele pouco fala, e menos faz, ele muito pensa. Olha e pensa, Examina e pensa. E quem olha em diagonal e muito pensa, não pensa pequeno.
É ruim isso? Não. Pode ser proveitoso a Gramado, se junto com sua ambição, estiver um espírito pacificador. Se ele souber controlar o ímpeto de seus escritores de ocasião, a que edifiquem a união de Gramado, em lugar de vomitarem a ira. E um verdadeiro líder sabe como fazer isso, como frear a discórdia e estabelecer a paz.
Por enquanto, Fedoca tem em mim um observador, à distância. Não enquanto pessoa, a quem admiro e quero bem, mas na condição de político,de líder, de construtor de pontes e não de muros, que começam e serem levantados em Gramado. Espero, com sinceridade, que Fedoca veja o loirão norte-americano que quer construir um enorme muro, e separar pessoas, e que reflita que aquele homem está muito distante dos ideias de Brizola que é até hoje bem lembrado pelo povo, e que fez história no trato da Educação aos riograndenses, e que levante a bandeira da pacificação, que é o mais elevado modo de educar.
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