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No tempo em que os bichos falavam,vivia um velho gambá em sua toca, que passava os dias dormindo, e à noite, saía à procura de sustento para sua ninhada.
Entravam e saíam os dias, e o velho gambá saía troteando pelas veredas em busca de algum ninho esquecido, para roubar os ovos, ou de uma fresta no galinheiro, para refestelar-se com uma galinha gorda. Esta era a vidinha daquele gambá, e de todos os gambás. Comer, dormir, reproduzir, e deixar a vida em seu curso, assim como O criador havia deixado desde a Criação, tempos atrás.
Havia, próximo a um parreiral, onde o gambazinho apreciava, no verão, subir entre os galhos para comer saborosas uvas, um velho tronco caído, onde no oco da madeira, vivia uma também velha serpente. Passava todos os dias o gambá perto do tronco, cheirava, sorrateiro, e pressentindo o perigo, saía de mansinho, sem incomodar a astuta moradora do lugar.
Ocorre que o verão estava terminando, e a temporada de caça da velha serpente não havia sido muito promissora. Além disso, estava muito velha para abandonar sua toca e sair em busca de caça em lugares mais distantes, como fazia quando era jovem. E como via o gambá passar todos os dias à sua frente, engendrou um plano para fazer dele o seu abastecimento para o inverno, que prometia ser rigoroso.
Isto pensado, passou a espreitar todas as noites enquanto o marsupial passava, e como de costume, dava sua cheiradinha no tronco, antes de prosseguir caminho. Noite após noite,um e outro se espreitavam, até que um dia, a cobra velha decidiu executar seu plano alimentar, e colocou-se estrategicamente à espera do peludo.
Naquela noite, porém, o velho gambá também havia mudado seus planos, e estava pensando em mudar de dieta. Precisava de proteínas, porque o inverno prometia ser rigoroso naquele ano. E uvas, apesar de deliciosas, não ofereciam as proteínas das quais necessitava para enfrentar o rigor do frio. Decidiu então, que a velha moradora do tronco estava do tamanho certo para ser devorada. E passou, ele também a espreitar sua comida rastejante, e engendrar um plano de ação. E assim, u e outro, desconfiados e sorrateiros, lambiam os beiços quando sentiam as presenças, de um e do outro, ao anoitecer.
Mas, o gambá, por perambular mais que a serpente, também tinha mais amigos. Pelo bem da verdade, o gambá tinha muitos amigos, mas a serpente não tinha nenhum. Era temida e sorrateira, e por isso evitada. Era muito egoísta, e quando abatia uma presa, seu veneno mortal impedia que outros bichos partilhassem de seu refestelo.
Era vizinho do Gambá um velho lagarto, que por sua natureza, não fazia parte da cadeia alimentar do gambá, e vice versa. Mas de ambos, a serpente era inimiga, e ao paladar de ambos, era uma iguaria. E assim sendo, e diante das necessidades, de um e outro, que também sofriam os rigores do inverno, entraram num acordo: Iriam dividir a cobra velha. E sendo esperto como era, o gambazinho planejou a coisa. E assim feito, aguardaram o momento certo para seu banquete acontecer.
Noite de lua cheia, ótima para sair em busca de comida. E lá estava o gambazinho passando perto do tronco. De longe, passava cantarolando, na língua dos gambás. Atenta, a serpente pensou: Lá vem ele. Vou deixar a causa balançando do lado de fora, e quando ele der uma mordida, eu pulo em cima dele. E assim fez. Deixou a cauda ali balançando ao brilho do luar. De repente, percebe que alguma coisa tocou nela, e de pronto saltou em cima do agressor. Mas, ah, mundo cão esse! O agressor não era um gambá e sim seu pior pesadelo: o velho lagarto faminto, que deu uma lambada com sua cauda e esticou a jararaca em um único golpe. E assim, feliz com sua porção, deixou metade da cobra para o gambá, que estava logo atrás, e que de quebra, ainda ficou com a toca da serpente, bem mais confortável e quentinha.
Moral da historia:
Por mais veneno que tenha suas peçonhas, nenhuma cobra velha terá perspicácia, veneno ou força para vencer a união da floresta, que também, sente fome, mas tem a perspicácia de unir-se em prol de um inimigo comum.
A propósito, o gambá poderia ter matado a cobra sozinho se quisesse.
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