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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O Cortejo e o gambá da Carsulina (Sim, ela voltou com a corda toda)




Carsulina era a intendente do Cêrro do Bassorão, o que é de conhecimento de todos, e como tal, deveria cumprir com os requisitos da função, ou segundo ela, da "Fonção". E um dos requisitos, era viajar pra capital da Província, em busca de "binifício" pro povoado.

A questão  é que uma viagem é sempre algo muito dispendioso, além do que, como sua fama a precede, Carsulina em solo "capitalista", é deveras um acontecimento, e segundo ela, um "acunticimento", Quase uma efeméride, pois não? E não é por acaso que Carsulina, a Lady do Bassorão, é "biçuluta e compretamente" desconhecida por sete bilhões de pessoas do mundo que cerca o Cêrro do Bassorão. Acha pouco? Não é pouco não. Esse número expressivo empresta-lhe notoriedade e prestígio.

Então, chegado o tempo de visitar a capital, Carsulina foi convocada pelo governador, que fazia gosto em receber a notável em grande pompa. E assim foi. As escolas da capital foram dispensadas, e as professoras levavam multidões de criancinhas com bandeirinhas do Cêrro nas mãos, entoando o hino nacional do Bassorão. E ao stilo da velha realeza, foi recebê-la na estação do trem, em carruagem aberta, puxada por seis garbosos alazões enfeitados, e bem alimentados. Vestiu o traje de gala, e levou junto sua espada de Cadete, que herdou do avô, velho caudilho da guerra cisplatina.

A Primeira Dama, ladeada por suas pajens, foi numa segunda carruagem, logo atrás, para não quebrar os protocolos de hierarquia. E assim, sucessivamente, os Ministros de Estados, os Alferes, Intendentes e por fim os lacaios, que levavam guloseimas e convescotes para refestelo da troupe ao fim do desfile, e antes das reuniões tediosas no palácio.

Carsulina, que era prenda pouco acostumada com pompa, abanava ao povo, enquanto mascava um naco de charque de capivara, e bebia uns goles de café que trazia dentro de uma guampa. Entre um bocado e outro, que oferecia ao Governador, abanava para o povo e abençoava as criancinhas pelo caminho.

Mas, lembram, que ali no terceiro parágrafo, eu mencionei que os alazões eram bem alimentados? Bem até de mais, e aquele pasto novo misturado com ração e milho, criava gases nos quadrúpedes, que, numa feita entre um trote e outro, o alazão mais próximo da carruagem,  dá uma patada num gambazinho que passava por ali, e em defesa, alivia um daqueles esturricados, advindos lá do fígado, e que fedeu. Por misericórdia, mas como fedeu aquilo, ao que o bagual corresponde, largando outro em seguida, como se um traque saudasse o outro, numa linguagem que só os intestinos são capazes de compreender. É o que Carsulina chama de "Intindimento Intistino)

O Governador, envergonhado, aproxima-se do ouvido de Carsulina, e tapando o nariz com um lenço, diz baixinho:

- A Comadre me perdoe....

Carsulina, que se distraía abanando para uma guriazinha sardenta e com longas trancinhas douradas, volta-se para o envergonhado político, e dando-lhe um tabefe no ombro, diz, às gargalhadas:

_Mas quê isso, compadre? Não se apoquente. Eu até pensei que tivesse sido o matungo e o gambá!



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