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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Carnaval e chá de losna


Nem é preciso. Não tenho a menor necessidade de dizer que eu odeio carnaval. Nunca gostei de carnaval. Mesmo quando era jovem, ia aos bailes nos clubes Recreio e Minuano, para não me afastar do grupo de amigos, pois onde um ia, todos iam, ou nada feito. E eu nunca fui um estraga-prazer de amigo meu. Ainda mais quando gentis senhoritas tornavam-se mais desinibidas nestas noites.

Aí começava o problema. Bêbado é nojento. Mas mulher bêbada, é insuportável. Não sou machista, não. Mas mulher, no meu entender, era aquela criatura doce e cheirosa, por quem vivíamos nos arrumando e perfumando, antes de procurá-las. Mas mulher e bafo de cachaça, são uma combinação impensável. Homem, não sei. Nunca tive essa preocupação de pensar como seria o bafo dum cachaceiro, porque beijar homem nunca foi a minha preferência. Se cachaceiro, menos ainda. Então, a grande decepção sobrava mesmo para as mulheres. Mulher gambá era decepção pura. E carnaval era uma porta aberta para essa liberdade social, onde ninguém recriminava ninguém, pois no carnaval, ninguém é de ninguém. Pelo menos essa é a vontade que tem muitos que não conseguem pegar quem seja capaz de raciocinar, no restante do ano.

Mas há um certo movimento de pessoas que raciocinam, em descrever a gritante diferença entre os gravíssimos problemas que envergonham os brasileiros que se abstiveram dos prazeres etílicos, e conseguem ainda raciocinar algumas palavras, traçando comparativos entre os milhões de foliões que pipocam as panças e bundas pelas avenidas superlotadas, e o vazio das mesmas ruas quando deveriam estar lá protestando e levando sua indignação pela roubalheira, corrupção, descaso da Justiça, e desrespeito com a coisa pública, no pior momento da história do país.

Estive no exterior muitas vezes, e apesar de todos os problemas que enfrentava para sobreviver, eu ainda tinha certo orgulho de ser brasileiro. Suportei com um sorriso amarelo, lá em Israel, quando o garçon soube que eu era brasileiro, e berrou a plenos pulmões:
- BRAZILE! BRAZILEE! MARRADONAA! BRAZILEE!

E levantou o volume de:
- AI SE TE PEGO! AI MINHA NOSSA!....

Hoje, sério, eu teria vergonha de voltar naquele lugar, e ter que ouvir:
- BRAZILE? GOVERNO? JUSTIÇA? PREVIDÊNCIA? CONGRESSO? POLÍTICOS?

Não. Tão cedo eu não quero voltar naquele restaurante. E olha que lá servem o melhor falafel do mundo. Mas por caridade. Maradona, Sertanojo, Carnaval... Não foi este o Brasil que eu sonhei.

Acho que é isso que está me obrigando a tomar chá de losna. Só pode ser.


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