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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A Parede Branca


Um dia fui à procura de D-s. Encontrei uma grande galeria de arte religiosa, com uma placa que dizia: D-s está aqui. Entre e veja por si mesmo.
Eu entrei. Lá dentro havia um corredor cheio de portas. Em cada porta, havia uma placa que dizia: "O D-s dos Cristãos".
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Entrei, e vi um belíssimo quadro, ornado por uma moldura dourada, cheia de ornamentos e floreios. Na pintura, havia uma tela de inigualável beleza, que mostrava uma pomba branca pousando sobre um moço, loiro, de olhos azuis, e barba da cor do ouro refinado, e atrás de si, uma luz de azul intenso à volta, e branca à medida que chegava ao centro. Estranhei que embora a luz estivesse atrás, seu semblante era igualmente iluminado e tudo o que era mostrado naquele quadro, brilhava como o sol do meio dia. À volta, o ambiente era cercado de anjos com rostos belíssimos, sobrevoando e abraçando-se á moldura, espargindo eles próprios outro tanto de luz, com a mesma intensidade da que vinha de trás, e do alto, e o próprio chão, onde os brancos pés do moço pisavam sobre nuvens, tudo, tudo era luz de intensidade formidável.
Senti-me pequeno demais para permanecer naquele lugar, senti-me fraco e envergonhado, porque vi minhas mãos e meus pés, e senti o meu cheiro de cansaço e suor. Aquele não era o meu lugar, então entendi que aquele quadro não mostrava o D-s que eu buscava.
Na segunda porta, a placa dizia que ali estava apresentado o D-s dos islâmicos. Pouco pude ver, pois havia um manto negro envolvendo a pintura, porque os islâmicos não podem pintar nenhum tipo de representação de Alá, O Nome de D-s nesta religião. Um alto falante chamava os visitantes para a oração, e como eu não era desta religião, senti-me invasor daquele lugar. E não pude ver D-s por causa da cobertura do quadro na parede, então saí dali também.
Na terceira porta, estava o D-s do budismo. Uma belíssima e bem nutrida estátua de um Buda sorrindo, assentado, diante de uma flor de lótus. Na parede ao seu lado, haviam imagens de multidões famintas, em guerra, doentes, um caos. No entanto, o Buda continuava a sorrir. Fiquei confuso, e também saí daquele lugar. Não vi D-s por lá.
Na quarta porta,Havia uma inscrição cercada de letras coloridas. Era a sala do D-s africano. Vi muitas vestes e máscaras, ouvi tambores, vi pessoas dançando, naquele quadro, vi animais degolados ao lado de flores e comida. Vi charutos e cachaça, e ouvi vozes e cânticos ritmados, que eu não consegui entender também, e então saí dali´, porque não vi D-s naquela ilustração.
Uma sala com apenas uma inscrição à porta, dizia: "D-s dos ateus - Aqui Ele não está". Achei curioso, e entrei, afinal, o D-s que se oculta, pode muito bem ocultar-se no inesperado. E entrei. Havia uma grande lousa, cheia de fórmulas matemáticas, e teorias para provar o improvável. Achei graça, e não me detive ali também, pois Onde ninguém busca à D-s, certo é que não O encontrará em lugar algum, muito menos nesta sala. Fui embora depressa, pensando meste paradoxo.
A penúltima sala tinha uma Estrela de David, na porta, e uma Mezuzá no umbral. Beijei a mezuzá, e entrei som solenidade. Na enorme tela na parede, havia uma pintura que contrastava entre pessoas sofridas, e heróis em luta. Entre humildes rabinos, e imponentes reis. Ao centro da tela havia a letra Shin, de Shalom, (paz). Um toque de shofar (corneta de chifre de carneiro) dava o ar solene do lugar. Mas não vi D-s naquela sala. Sem esperança já, saí de lá, e não tive vontade de entrar na última sala. Tive medo, na verdade. Medo de não me encontrar com D-s. Mas juntei coragem e entrei. Era uma sala branca, desde o chão, paredes e teto. Na parede em frente, havia uma imensa tela branca como a neve, e à sua frente, no chão, havia um balde com tinta branca, e um menino e uma menina, segurando, cada um,  um pincel, embebidos na tinta branca da lata.



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