FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK YARRAKA BAYLES
"Quaden Bayles, um garoto de 9 anos, comoveu a web em um vídeo em que aparece chorando e dizendo que quer morrer. As imagens foram compartilhadas nesta terça-feira (18), pela australiana Yarraka Bayles, mãe dele, em uma rede social. O menino chora desesperadamente e pergunta “qual é o motivo das agressões”, antes de dizer que gostaria de morrer.
A dor explícita do menino, que em seu desabafo, pede uma corda para enforcar-se, uma faca para esfaquear seu coração, foi vista e compartilhada por centenas de milhares de vezes, e levou pessoas do mundo todo à compaixão pelo sofrimento moral do menino.
Quaden já foi confortado, e quem o humilhou já está devidamente envergonhado pelo que fez, não por compaixão ao menino, mas porque foi apanhado pela mídia, e a mídia, quando quer, é implacável, aterrorizadora, cruel.
Bullying é um verbete moderno, sem tradução direta, agregado ao nosso vocabulário como insistente deboche contra indefesos. Acrescento: "brincadeira diabólica" para espezinhar, quebrar a cerviz, derrubar a moral e o moral de quem se encontra em situação que permite deboches continuados até que derrube completamente a vítima, até que toda sua resistência seja quebrada, até que seja levada às últimas consequências, muitas delas, à morte.
A dor de quem sofre bullying não pode ser medida, descrita, relatada. A dor de quem é feito de saco de pancadas, seja na infância, seja na vida adulta, é comparável à de quem esteja com as mãos amarradas e um saco na cabeça, percebendo o sufoco, mas sem a possibilidade de defesa. A punição para quem, comprovadamente promove o sofrimento moral de alguém por conta de bullying, deveria ser calculada com o agravante de dolo intencional, de maldade pura, do desejo e prazer na dor do sofrimento moral do outro.
Mas e as crianças que fazem bullying? As crianças não inventam bullying, elas copiam o que ouvem, veem ou sentem de quem as deveria instruir para as boas atitudes. São crianças que romperam os limites do bem e do mal, e sentiram prazer no mal. Daí, não há mais fronteiras. Começam maltratando insetos, pequenos animais, e seguem o périplo à caça de pessoas indefesas, de crianças menores que elas, dos fracos, dos mendigos pelas ruas. São os mesmos que ateiam fogo em moradores de rua. São os mesmos que tratam índios como animais, animais como coisas e coisas imprestáveis, descartáveis. São os mesmos que destratam os pobres, os porteiros, as domésticas, os que andam com carros velhos atrapalhando o trânsito. São os mesmos que atiram mamonas de estilingue nas costas dos outros, são os mesmos que usam seu conhecimento para pisotear na falta de conhecimento dos outros, a quem consideram inferiores. Somos os mesmos, elas e nós, os que fazem do bullying seu playground de prazer.
Eu tenho moral para falar de bullying, porque sofri, e também fiz sofrer. Faço uma "mea culpa", porque foram meus erros quem despertaram meu crescimento. Fiz bullying quando repetidamente debochei de alguém pelo modo de falar, pelo jeito que andava, pela dimensão da cintura, pelos dentes caídos, pelo modo de vestir, pelo linguajar e sotaque, quando ri às gargalhadas do bêbado que cambaleava, quando armei situações e pegadinhas, sabendo que a fraqueza da vítima a trairia ao primeiro tropeço. Fiz e vi fazer bullying do gago, do fanho, do que fala engraçado, do que dormia na aula, do carro velho, da roupa rota, do dedão de fora no sapato velho. Fiz e vi fazer pessoas chorarem para que eu pudesse rir. E sinto-me profundamente envergonhado do que fiz, e por quem vi fazer.
Devo confessar que, por muitos anos, tremia de pavor ao ouvir alguém pronunciar meu nome completo, porque quando você faz isso, está preparando um golpe baixo contra algo que incomoda aquela pessoa que ouve. Diziam: "E aí, Paulo Cardoso", o que tá inventando "de novo"?" Pra mim, que sou Designer, portanto criativo, desde muito cedo, na vida, ouvir em tom de deboche, ser chamado de "inventor", era despertar a vontade paradoxal de juntar um tijolo nas fuças de quem me incomodava, ao mesmo tempo de desejar estar sozinho, numa caverna, até que a maldade passasse adiante naquele dia. Mas a vida é uma escola, e viver é um aprendizado. Nem atirava o tijolo, nem me escondia na caverna. Eu erguia a cabeça e seguia solene, quase insolente, desafiando os desafios e rompendo os obstáculos. Um a um. E foi assim que cresci, engrossei o couro, exercitei a paciência, e continuei a andar. Um a um dos parasitas morais do mundo foram se calando, e perdi a vergonha de reconhecer-me inteligente e criativo, e não louco, não irresponsável, não desalinhado. Todos os que me atormentavam com bullying, um a um deles foi se calando, ou pela morte, ou pela vida. Um a um, descobriu que existe no mundo resiliência, a capacidade das coisas retornaram ao que eram, e o que pode retornar a um estúpido senão sua própria estupidez? Um a um depositou no banco da vida aquilo que tinha de pior, e o tempo os devolveu os depósitos com juros e correção. Um a um se esvaziaram na história, se esvaziaram no tempo, se sublimaram na vida. Não mais os reconheceria se os visse, como também espero não reconhecer-me, enquanto vestido da maldade de debochar de quem não pode se defender.
Não se pode confundir uma brincadeira, um deboche de atitudes, com bullying. O que diferencia um e outro é a ocasião e a continuidade. No momento em que eu faço uma brincadeira, e percebo que ela magoa alguém, o natural é cessar o feito, e melhor ainda se buscar corrigir, no mínimo com um pedido de perdão. Isso é humano,. Isso é normal. O que deixa a normalidade é espezinhar, pegar no pé, irritar. O termômetro do bom senso mostra que o limite da piada é o grau de desconforto de quem a recebe. O limite do bullying é a fronteira da reparação. Sempre há tempo. Ou quase sempre. às vezes, é tarde demais. As redes sociais e os registros policiais estão abarrotados de despedidas de alguém que não suportou o bullying, e de quem não soube a hora de parar com a "brincadeira".
A dor explícita do menino, que em seu desabafo, pede uma corda para enforcar-se, uma faca para esfaquear seu coração, foi vista e compartilhada por centenas de milhares de vezes, e levou pessoas do mundo todo à compaixão pelo sofrimento moral do menino.
Quaden já foi confortado, e quem o humilhou já está devidamente envergonhado pelo que fez, não por compaixão ao menino, mas porque foi apanhado pela mídia, e a mídia, quando quer, é implacável, aterrorizadora, cruel.
Bullying é um verbete moderno, sem tradução direta, agregado ao nosso vocabulário como insistente deboche contra indefesos. Acrescento: "brincadeira diabólica" para espezinhar, quebrar a cerviz, derrubar a moral e o moral de quem se encontra em situação que permite deboches continuados até que derrube completamente a vítima, até que toda sua resistência seja quebrada, até que seja levada às últimas consequências, muitas delas, à morte.
A dor de quem sofre bullying não pode ser medida, descrita, relatada. A dor de quem é feito de saco de pancadas, seja na infância, seja na vida adulta, é comparável à de quem esteja com as mãos amarradas e um saco na cabeça, percebendo o sufoco, mas sem a possibilidade de defesa. A punição para quem, comprovadamente promove o sofrimento moral de alguém por conta de bullying, deveria ser calculada com o agravante de dolo intencional, de maldade pura, do desejo e prazer na dor do sofrimento moral do outro.
Mas e as crianças que fazem bullying? As crianças não inventam bullying, elas copiam o que ouvem, veem ou sentem de quem as deveria instruir para as boas atitudes. São crianças que romperam os limites do bem e do mal, e sentiram prazer no mal. Daí, não há mais fronteiras. Começam maltratando insetos, pequenos animais, e seguem o périplo à caça de pessoas indefesas, de crianças menores que elas, dos fracos, dos mendigos pelas ruas. São os mesmos que ateiam fogo em moradores de rua. São os mesmos que tratam índios como animais, animais como coisas e coisas imprestáveis, descartáveis. São os mesmos que destratam os pobres, os porteiros, as domésticas, os que andam com carros velhos atrapalhando o trânsito. São os mesmos que atiram mamonas de estilingue nas costas dos outros, são os mesmos que usam seu conhecimento para pisotear na falta de conhecimento dos outros, a quem consideram inferiores. Somos os mesmos, elas e nós, os que fazem do bullying seu playground de prazer.
Eu tenho moral para falar de bullying, porque sofri, e também fiz sofrer. Faço uma "mea culpa", porque foram meus erros quem despertaram meu crescimento. Fiz bullying quando repetidamente debochei de alguém pelo modo de falar, pelo jeito que andava, pela dimensão da cintura, pelos dentes caídos, pelo modo de vestir, pelo linguajar e sotaque, quando ri às gargalhadas do bêbado que cambaleava, quando armei situações e pegadinhas, sabendo que a fraqueza da vítima a trairia ao primeiro tropeço. Fiz e vi fazer bullying do gago, do fanho, do que fala engraçado, do que dormia na aula, do carro velho, da roupa rota, do dedão de fora no sapato velho. Fiz e vi fazer pessoas chorarem para que eu pudesse rir. E sinto-me profundamente envergonhado do que fiz, e por quem vi fazer.
Devo confessar que, por muitos anos, tremia de pavor ao ouvir alguém pronunciar meu nome completo, porque quando você faz isso, está preparando um golpe baixo contra algo que incomoda aquela pessoa que ouve. Diziam: "E aí, Paulo Cardoso", o que tá inventando "de novo"?" Pra mim, que sou Designer, portanto criativo, desde muito cedo, na vida, ouvir em tom de deboche, ser chamado de "inventor", era despertar a vontade paradoxal de juntar um tijolo nas fuças de quem me incomodava, ao mesmo tempo de desejar estar sozinho, numa caverna, até que a maldade passasse adiante naquele dia. Mas a vida é uma escola, e viver é um aprendizado. Nem atirava o tijolo, nem me escondia na caverna. Eu erguia a cabeça e seguia solene, quase insolente, desafiando os desafios e rompendo os obstáculos. Um a um. E foi assim que cresci, engrossei o couro, exercitei a paciência, e continuei a andar. Um a um dos parasitas morais do mundo foram se calando, e perdi a vergonha de reconhecer-me inteligente e criativo, e não louco, não irresponsável, não desalinhado. Todos os que me atormentavam com bullying, um a um deles foi se calando, ou pela morte, ou pela vida. Um a um, descobriu que existe no mundo resiliência, a capacidade das coisas retornaram ao que eram, e o que pode retornar a um estúpido senão sua própria estupidez? Um a um depositou no banco da vida aquilo que tinha de pior, e o tempo os devolveu os depósitos com juros e correção. Um a um se esvaziaram na história, se esvaziaram no tempo, se sublimaram na vida. Não mais os reconheceria se os visse, como também espero não reconhecer-me, enquanto vestido da maldade de debochar de quem não pode se defender.
Não se pode confundir uma brincadeira, um deboche de atitudes, com bullying. O que diferencia um e outro é a ocasião e a continuidade. No momento em que eu faço uma brincadeira, e percebo que ela magoa alguém, o natural é cessar o feito, e melhor ainda se buscar corrigir, no mínimo com um pedido de perdão. Isso é humano,. Isso é normal. O que deixa a normalidade é espezinhar, pegar no pé, irritar. O termômetro do bom senso mostra que o limite da piada é o grau de desconforto de quem a recebe. O limite do bullying é a fronteira da reparação. Sempre há tempo. Ou quase sempre. às vezes, é tarde demais. As redes sociais e os registros policiais estão abarrotados de despedidas de alguém que não suportou o bullying, e de quem não soube a hora de parar com a "brincadeira".
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