AD SENSE

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Você era um chato e nem sabia disso




Chato! Todo lugar tem um. Na família, tanto pode ser aquele tio solteirão picareta, quanto o cunhado que quer provar à sogra o quanto pode ser bom investir nele. 

Na empresa, nem se fala, embora que se eu não falar, perde o sentido o texto. Então, sim, eu vou falar, doa a quem doa, porque os chatos estão aí, ruidosamente invadindo espaços, e precisam ser freados.

Há todo tipo de chato. Tem aquele chato que tem uma ideia, e corre a escrever para que todos saibam no que está pensando. São os chatos literários. Escrever sobre outros chatos, e dão risada quando descobrem serem eles próprios os chatos a quem descrevem.

Tem os chatos calados, aqueles que acreditam no poder do silêncio. São verdadeiras estátuas. Alguns se parecem mais com múmias. Outros com tijolos. Todos sabem que estão ali, mas por mais que se puxe assunto com eles, preferem demonstrar sua indignação com as inconformidades sociais permanecendo calados. Uma vingança contra o sistema.

Tem os chatos tipo porcelana. Por mais que queiram parecer uma delicada louça chinesa, não passam de vasos sanitários. Inertes, aguados, com uma boca enorme, e às vezes cheios de merda. E mesmo assim ainda se acham melhores que a sub espécie dos chatos  portáteis, também chamados de penicos ou urinóis.

Urinol! Tá aí a palavrinha que um chato tanto gosta. Um objeto de desejo de todo chato que tem poder. Geralmente míopes em alto grau (nem todo míope é chato, para com isso né) confundem o companheiro de trabalho, de viagem, de escola, de futebol, como um penico, e no primeiro vacilo, lá estão eles abastecendo os ouvidos do pretenso penico. Estes só param de tagarelar quando descobrem que o penico estava também abarrotado de dejetos, e que estavam falando na frente do espelho.

Tem os chatos politicamente corretos. Estes são terríveis. Você chega animado e dá um discreto "bom dia!". Mas ah, pra quê! Ah pra quê foi abrir a sua boca? E lá vem discurso, que você deu um bom dia desanimado, tímido, que faltou determinação, que estava mais que na hora de terem uma boa conversa, para que você revise seus valores negativos, e se torne mais "proativo". E você não tem como fugir do falar cuspido, porque a esta altura da solilóquio (pois ele fala sozinho e o tempo todo) já te encurralou naquela micro cozinha cheirando a café rançoso, e escapar dali só se atirar pela janelinha, o que não convém, pois de canto de olho, percebe que está no oitavo andar. E ainda se sente culpado porque a ideia passou por sua cabeça. Mas era desespero e desespero tem atenuante de culpa.Mas melhor ficar longe da janelinha. 

Proativo! Esta palavrinha é um mantra para os chatos desta espécie, porque deveriam viver sozinhos e no campo, por tão espaçosos que são. Onde chegam já fazem palestra e dão discurso de proatividade e otimismo. E ai de quem reagir. Tornam-se agressivos, pois defendem que as ideias (especialmente as deles)precisam que sejam defendidas até à morte, e morte sofrida. Ouvindo um chato. Viram bicho quando defendem seu (o teu mesmo) direito de ouvi-los do inicio ao fim da ladainha. 

Não suportam a inercia. Se você estiver confortavelmente acomodado no seu sofá predileto, assistindo um debate na TV Universitária sobre os direitos dos tamanduás no cio, ou sobre receitas de biscoitos de cânhamo para acompanharem um aperitivo com Ayahuasca, não porque esteja interessado, mas porque o tema é hipnótico e você consegue entrar em transe sem precisar encher a cara, o indivíduo entra com os dois pés e o dedo engordurado no seu nariz e o acusa de absenteísmo ululante, de narcisismo dialético, ou coisa ainda pior. Se é  que possa existir algo pior do que ser acusado de absenteísmo ululante e narcisismo dialético.

Enfim, há chato pra tudo. Até mesmo para fazê-lo ler esta inutilidade até a última linha, esperando que vá sair algum despejo contra políticos, ou algum ensaio sobre a importância de saber defender-se contra tais elementos.  Isso sim é chato. E talvez até você seja um chato e nem tinha se dado conta disso. E nem adianta dizer o mesmo de mim, porque a ideia foi minha e eu gastei primeiro. Todo o estoque.



quarta-feira, 5 de abril de 2017

A Águia e os Leões - Estratégias diferentes para um mesmo resultado



Imagens:
www.brasil247.com - listonas.com.br
Você já percebeu como os animais fazem para alimentarem-se? 

Deve ter percebido que cada um tem seu jeito de fazer as coisas, de conseguir comida, ou também de se proteger. Vamos analisar dois deles aqui. A  águia e também os leões.

As águias não são animais muito sociáveis. Em geral permanecem sozinhas, e segundo reza a lenda, são fiéis ao companheiro enquanto viverem., isto é, são animais monogâmicos. Mas fazem praticamente tudo sozinhas, exceto cuidar dos filhotes.
Quando uma águia caça,por estar sozinha, ela precisa voar muito alto. Precisa enxergar muito bem, mas também é importante que não seja notada.
Durante a caça, ela anda em círculos. Examina o território. Mapeia as possíveis rotas de fuga da presa, e planeja a emboscada em lugar onde ela própria possa ter agilidade no bote, e também na fuga.
Toda a sua estratégia é feita no alto, e em dia claro. 
Sua força física e sua agilidade no ataque são precedidas por suas táticas precisas e estratégias bem planejadas.
Por precisar caçar sozinha, mira uma única presa por vez, e analisa o comportamento daquela presa especificamente. Não se perde na multidão.

Os leões até podem caçar sozinhos, mas quando fazem, são um desastre. Seu senso de estratégia individual é baseada no gogó. Rugem para impor terror, mas embrenham-se numa manada de bisões sem nenhum plano tático, e não raras vezes saem despedaçados eles próprios. 

Sua força está no grupo. Cercam as presas, e em grupo se lançam ao ataque, sempre certeiro. Seguem o líder e retribuem os sobejos a quem os guiou à vitória.

Assim poderia contar sobre muitos outros predadores, que agem de um ou de outro modo. Uns são sutis. Outros são espalhafatosos. Mas cada um, dentro de sua natureza, age para sobreviver.

Não somos assim. Afinal, não não temos o olhar aguçado da águia, nem a capacidade do leão de gastar cinquenta compromissos  por dia de atividade com a patroa.

Mas vale lembrar que nos desafios da vida, um olhar de águia, e a força do leão, ajudam a atravessar perigos. E o maior perigo pode ser pensar que águia e leão sejam os outros.




terça-feira, 4 de abril de 2017

Chêf Fedoca - Receita de Frituras e Pururuca


Foto: (Internet)Diegostoliar.com


Hoje vamos dar um tempo na política, e vamos falar um pouco de culinária regional.  Vamos ensinar a preparar um "Angú de Caroço" frito em fogo alto, chamado: "Lambança do Tio João ", com tempero do "Tio Jeferson".

Trata-se de um prato bastante conhecido, chamado "Fritura Política", onde o tempero é dado pela acidez do jogo de palavras e troca de ingredientes entre os cozinheiros. O pitoresco da situação está exatamente na forma de preparo, onde um cozinheiro atira na panela do outro aquilo que está faltando na sua própria panela. Isso acontece por meio de pacotinhos de acusações, onde quem usa o fogão frita quem usa a pia para lavar  louça, embora também lavem nesta a roupa suja. E bota sujo nisso. Barbaridade! É uma jogação de água e banha de um no outro, que respinga  por toda a cozinha, e como as janelas etão abertas, respinga em quem passa na rua, na sala ao lado, e a coisa só vai parar quando alguém jogar um bife de fígado na mesa do Prefeito.

Interessante, que apesar de Fedoca, em sua polidez política, acompanhada por Evandro, seu Vice (Vice é um titular na gaveta), as frestas da casa são tantas, mas tantas,  que o cheiro de fritura se espalha por toda a vizinhança, e nesta altura, todos já sabem qual é o prato do dia na Prefeitura: PMDB à pururuca! Pra quem não sabe, "Pururuca" é uma iguaria mineira, onde se assa um leitãozinho bem gordinho, e despeja-se óleo fervente no lombinho pelado da criatura (tava morto mesmo), que cria bolhas tostadinhas, que fazem um som crocante na hora de meter o garfo. Ainda bem que não como porco. Mas enfim, pururucar políticos desafetos é uma prática remanescente do tempo das cavernas, que permaneceu viva até nossos dias.

Diga o que disser meu querido e divertido amigo Fedoca, até mesmo pode bater pé que o que eu escrevo seja um amontoado  de "absurdos" (eu adoro absurdos,pois se Erasmo não tivesse escrito seus absurdos, não conheceríamos "Utopia", ou se Dante Alighieri não tivesse bebido Ayahuasca, não saberíamos que o cão que guarda a porta do inferno se chama Cérbero). pois os absurdos permitem que esvaziemos as possibilidades de inutilidades, e façamos transbordar pela batéia da imaginação o ouro das verdades.

E a verdade é essa: Jeferson Moschem está devorando todas as oportunidades para voltar à vitrine, tirando de seu caminho qualquer um que faça sombra ao seu projeto de poder, isto é, chegar a ser Prefeito. Não estou inventando nada, porque isso foi assunto desde sua fritura (ih,olha eu de novo com metáforas bobinhas) no PP. Pois quem não tem PP, caça  com PDT mesmo. E o pacato João teixeira está  no seu caminho. Toca à fritá-lo então. 

Escrevam aí e depois lembrem que eu falei isso: João Teixeira não fica muito tempo, e Jeferson Moschem assume a secretaria, isso porque João não tem pretensão de chegar à Prefeito. E quando conseguir a cadeira, Jeferson terá que passar só por cima do resto dos eventuais candidatos do PDT (que à esta altura estará desgrudado do PMDB).

Só sei que faltam medicamentos. E enquanto se digladiam pela paternidade do filho feio, alguém pode morrer por falta de atendimento. Mas que isso importa, não é? São apenas pessoas comuns. Contanto que a foto de alguém esteja nos quadros dos órgãos públicos, pururucar adversários, e usar o povo como lenha, continua sendo o melhor meio para alcançar os piores  fins.

E o que Fedoca tem a ver com isso? Tudo! Fedoca tem autoridade, competência, responsabilidade, e possibilidade para calar a boca dos encrenqueiros, pois eles não foram eleitos para cuidar do bem estar do povo. Aliás, Jeferson não foi eleito para absolutamente nada. Mas o que possa acontecer diante desse embate estúpido e inútil, não facilita em nada a tarefa de "devolver Gramado para os gramadenses". Senão, a pururuca vai cair mesmo é no povo mais desfavorecido.






domingo, 2 de abril de 2017

As cavernas dos Bugres e o Salão do "Bate-Parma"

Imagem de internet apenas ilustraativa

Não sou historiador. Longe de mim ousar caminhar nesta senda intrincada. Sou apenas uma testemunha aquilo que vi e ouvi a respeito de certos fatos. E naturalmente, com isso ponho em fiança minha credibilidade pública nas coisas que relato. E aqui conto mais uma destas coisas que vi.

O relato de hoje é de uma caverna que foi descoberta durante a escavação de um barranco, em Gramado, para construção da estrada que leva do centro ao mato Queimado, na altura, precisamente, da entrada que leva à casa de meu primo (Z"L) Zacarias Elias de Moura,  no atual Bairro Moura, bem em frente onde ficava a casa do Otávio Elias*, primo dos Moura, por parte do pai deles.

*Otávio Elias tinha um pequeno botequim, e no porão, tinha um salãozinho de bailes, onde promovia encontros para dançar e namorar, respeitosamente, animado por um gaiteiro e um violeiro, geralmente pagos com cachaça. 

Era conhecido também como "Salão do Bate-Parma", isso porque nesse tempo, nos bailes menos, digamos elitizados, convidava-se as damas para dançar, postando-se à frente delas (geralmente de duas), fitando a desejada, e batendo palmas na frente dela.

Bizarro, não é mesmo? Pois acreditem. Bati muita palma pra tirar moça pra dançar,em bailes de Colônia. As moças tinham obrigação de aceitar dançarem, pelo menos uma "marca", sob pena de serem expulsas do ambiente, em caso de negativa injustificada, uma vez que as damas não pagavam ingresso ao baile. Os motivos para negativa justificada seria, eventual desrespeito, embriaguez, ou se o indivíduo fosse casado, e isso fosse conhecido delas. Fora isso, mau hálito, sovaco em deterioração, falta de banho, completa ignorância do vernáculo, ou coisas do gênero, eram irrelevantes, e pelo menos uma dança deveria acontecer. Sem agarramento. No respeito.

Corria o início da década de 70, eu creio, ou fins dos anos 60.  Mas certamente os registros do Arquivo Público devem confirmar que, pelas plantas da cidade, estavam alargando a rua, e pense só na alegria da gurizada, deslizando pelos montes de terra com perfume de infância, ouvindo e admirando o ronco dos motores das máquinas pesadas que deslizavam num bailado solene e maroto sobre a terra retirada dos barrancos.


Em dado momento, todas pararam.Haviam descoberto algo inusitado: uma pequena caverna, totalmente escondida, com cerca de dez a quinze metros de profundidade, baixa, com alguns utensílios e objetos de povos primitivos, e que, em poucas horas haviam desparecido completamente.
Imagem apenas ilustrativa

Foto: Panoramio https://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/48335055.jpg
As autoridades da época foram convocadas, e enquanto a cidade toda não foi lá dar uma bisbilhotada e compor teorias, não se tirou mais um pedaço de terra das imediações. Por longo tempo ainda, um restante de cova ainda se mantinha intacto, até que um novo traçado da estrada, desmanchou o vazio da toca, e nunca mais se ouviu falar da toca dos bugres da Vila Moura.

Ainda resta outra caverna sem definição, no barranco da subida do Parque Knorr, ao  lado da calçada da Avenida das Hortênsias, quase em frente ao Hotel Toscana. Mas mexer nisso, pra que? Índio só incomoda mesmo. (Antes que a FUNAI venha me torrar a paciência, isso foi uma ironia, viu?)

Além disso, eu não tenho nenhuma vocação para começar a brigar por causa de patrimônio Histórico. Quem sou eu..nem pensar mesmo. Afinal, vi desmancharem a Estação do Trem, reclamei, e nem me deram bola. Desmancharam muitas coisas, e muita gente reclamou. E nem deram bola. Então, não sou eu que vou reclamar por buraco de índio. Nem que a vaca tussa e o boi faça fiu-fiu.



E o Saber se Multiplicará....Um trilhão, heim!



Texto: Paulo Cardoso Bíblia King James Atualizada
Porém tu, ó querido Daniel, tranca em segredo, mediante um selo, as palavras do Livro, até o tempo próprio do fim. Muitos farão de tudo e correrão de uma parte a outra em busca do maior saber; e o conhecimento se multiplicará muitas e muitas vezes!”


Leio a  notícia sobre a Amazon, uma gigantesca empresa de vendas de livros pela internet, que em breve seu valor de mercado poderá chegar à cifra de Um Trilhão de Dólares .


Tenho que ser muito sincero com meus leitores, pois é minha credibilidade que está em confiança, e vou confessar aqui que, eu NÃO GANHO esta quantia por semana, nem que trabalhe umas cinco horas a mais. Não ganho mesmo, e abro minha conta bancária para quem queria confirmar o que estou dizendo.

Um trilhão de dólares não é pouca coisa  não, minha gente. É quase a metade que foi roubado nos últimos dez anos no Governo, se deixarmos de fora aqui o Sítio de Atibaia, e os badulaques do Palácio da Alvorada.


Mas a quantia não seria tão absurda, se estivéssemos falando de uma grande empreiteira, ou de uma companhia de petróleo. Vou evoluir o conceito e falar então de uma gigantesca empresa de tecnologia, pois nesta área, quase tudo é superlativo. Mas não é nem de tecnologia, nem de construções de estradas, estádios, ou represas que estamos falando.

A Amazon é uma ponto com que vende livros. Sim senhor(ou senhora, senhoria, comadre , ou seja lá como queira ser chamado ou chamada). Livros, pois então.  Livros, para esta nova geração, são aquele negócio que sumiu da maioria as das casas, quando chegou a televisão,e depois disso, o celular.

Quando eu digo que fico estupefacto ao acompanhar as estatísticas de meu singelo blog, onde bem poucas figurinhas aparecem, e que ainda gosto de complicar e emaranhar as palavras que enriquecer meus textos, ao falar de políticos, especialmente dos maus políticos,  sem esqueceu também dos bons, é claro, me acreditem, eu fico sim muito estupefacto, por saber que as pessoas ainda leem, e leem muito, e leem bem, e interagem entre si, debatendo sobre o que foi lido. Isso me enche de orgulho, de esperança, e de certeza que nem tudo são bits. Neste mato ainda tem letras, e nem são de sopinha.

Mas um trilhão de dólares, é dinheiro. Por misericórdia, um trilhão. Pensa bem, no que dá  pra fazer com um trilhão de dólares. Dá pra pagar as contas dos carnês vencidos, e comprar uma geladeira novinha.

Mas serio, gente. As  pessoas estão comprando livros. Isso mesmo. a Amazon vende livros, cheios de páginas, cheios de letras, cheios de historias. Sejam eles livros de papel ou livros digitais, não importa. É o conhecimento se multiplicando, se esquadrinhando. E não é  que o Profeta Daniel estava certo? Aproveite e leia mais o Livro de Daniel na sua Bíblia. Bem interessante mesmo.

Falando nisso, tenho vários livrinhos meus à venda na Amazon. Não custa nada dar uma espiadinha lá, e desapegar do vil metal, mesmo porque, mesmo que ponha na poupança, com o juro que paga, você e eu iremos precisar de umas duas eternidades para chegar na metade deste valor.

O Homem que Vendia Ideias - Paulo Cardoso



sábado, 1 de abril de 2017

Nazistas, illuminatti & Corujinhas em Gramado



Imagem de Internet - Desconheço o autor

Era o ano de 1977. Eu ocupava a nobre e muito valorizada função de "Aspone" (Assessoria de porcaria nenhuma) do Secretário de Turismo, Esdras Rubim, em Gramado, que à época, funcionava na sobreloja do Cine Embaixador, hoje Palácio dos Festivais. Minha tarefa era fazer de tudo o que dizia respeito à competência pública do turismo em Gramado, além de assessorar o Secretário, que passava grande parte do tempo em viagens buscando recursos, efetuando contatos, promovendo os eventos, bem poucos ainda, enfim, fazendo o serviço de vanguarda, enquanto eu e uma assistente, trabalhávamos dentro da Secretaria.

Esta atividade compreendia, desde atender telefone, revezar com o atendente do Pórtico de entrada na cidade, a caminho de Nova Petrópolis; organizar os eventos culturais da cidade, e recepcionar os turistas que buscavam informações na Secretaria.

Portador de Hiperatividade crônica, então chamada de "formiga na cueca", eu estava metido em tudo. Conversava com todos. Queria conhecer tudo. E desta forma, evitava a monotonia de uma cidadezinha pacata e com pouco movimento (sim, estou falando de Gramado, jovens. Ela já foi assim um dia). Puxava conversa com cada pessoa que aparecesse, e procurava demonstrar hospitalidade sempre, afinal, eu aprendera desde menino, que o gaúcho é hospitaleiro, e sendo eu gaúcho, hospitaleiro então seria.

Numa feita dessas, apareceu um sujeito baixinho, grisalho, bem falante, com quem foi muito fácil entabular conversa, e que em pouco tempo já conversávamos sobre a historia do Rio Grande do Sul. Era um historiador das famílias alemãs que chegaram em 1825 a São Leopoldo, então chamado de "Feitoria Velha". Chamava-se Carlos Henrique Hunsche. Gostei do sujeito, e a prosa corria solta, quando entrou na sala o Prefeito Nelson Dinnebier, para falar comigo.

Simpaticão como eu era, não perdi tempo em apresentar o visitante ao Nelson, que, para minha surpresa, virou de costas para o Hunsche, falou secamente comigo, dizendo que eu deveria ligar pra ele mais tarde. Não entendi nada, pois não era próprio do Nelson aquele tipo de comportamento. Hunsche, percebendo que não estava agradando, despediu-se educadamente, e foi embora.

Quando meu chefe chegou, contei-lhe o ocorrido e disse que eu havia ficado boiando, sem entender nada. Ele então me explicou que, durante a Segunda Guerra, havia um programa de rádio, da emissora oficial de Hitler, que transmitia um programa em língua portuguesa, direcionado ao Brasil, para propaganda nazista. O locutor do programa era o Hunsche, que no fim da guerra, tentou voltar ao Brasil, pois nascera em Nova Petrópolis, onde seu pai havia sido o pastor da comunidade evangélica, mas foi proibido, e teve que morar por alguns anos no Uruguai. Nos anos 70, conseguiu visto, e foi morar em Gramado, onde comprou um pequeno hotel, onde se instalou, e escrevia seus livros.

Mas a história não termina aqui. Ainda no início da década de 70, descobriu-se a carcaça de um navio alemão que foi afundado na costa brasileira, e alguma eminência parda da política local teve a estupenda ideia de propor que se levasse um pedaço daquele casco, e fosse criado um monumento com ele, nas imediações do Lago Negro. Tal atitude, comentava-se, gerou uma reação imediata da comunidade judaica, que tinha muitas casas na cidade, e ameaçou retirar-se em bloco, caso a ideia estúpida fosse levada a cabo. A noticia chegou a ser publicado em jornais de grande circulação no Estado, e acabou se esvaziando por ali mesmo.
Saiba mais clicando na foto abaixo

Pensam que acabou? Acabou nada! Pois este tal Hunsche tinha um grupo de amigos que se reuniam com ele, em saraus literários, recitando poetas alemães, e nestas reuniões era apenas permitido que se falasse na língua alemã. E adivinhem qual era o símbolo deste grupo? Isso mesmo: Uma coruja. Aliás, havia muitos artesãos em Gramado, eu inclusive, que ganhavam um bom dinheirinho, produzindo corujinhas de madeira, cerâmica ou outros materiais, sem saberem, obviamente, com que finalidade eram utilizadas, ou seja, decoração conceitual...Illuminatti!
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Felizmente nada disso prosperou, e desta forma, a discreta,mas expressiva Gramado permanece até hoje, livre da possibilidade de ver exaltado um fragmento de um objeto que causou tanta dor e destruição no mundo, e que, por pouco, poderia ter se tornado um monumento amaldiçoado pela história, e grupos que cultuavam corujinhas, em reuniões secretas, disfarçadas de saraus culturais, poderiam tornar-se um novo pesadelo para todos.
Por Bundesarchiv, DVM 10 Bild-23-63-06 / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5372013

Gramado tem cada historia....

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Acrescentando informações adicionais.
Um leitor, que prefere manter-se anônimo, deu o nome do navio:
Clique no link abaixo para ver o artigo.
Encouraçado Graff Spee





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sexta-feira, 31 de março de 2017

O Vazio Político de Gramado - Réplicas ao post anterior

Foto: Istock

Ao contrário do que possam imaginar, a finalidade de meus textos não é fazer com que concordem comigo, mas que pensem a respeito do assunto que estou trazendo à reflexão, o que me deixa muito feliz, pois consigo chegar às pessoas de uma pequena, mas notável comunidade, com um blog simples, sem apelos midiáticos, nem belas imagens, com textos às vezes difíceis, mas que levam milhares de pessoas todos os dias a lê-los, refletir e debater sobre eles, e quebrar o mito que ninguém mais lê, ninguém mais pensa. Pensa sim, pensa muito e pensa bem.

Digo isso porque recebi uma réplica de um leitor muito querido, a quem vou preservar a identidade, que disse as seguintes palavras:
"Me permita discordar de ti nesse texto. 
Gramado não chegou até aqui por imaturidade política. Conquistamos muitas coisas ao longo de décadas por maturidade política. Principalmente nos governos daqueles que foram
Para mim, os dois maiores políticos de Gramado, Nelson e Pedro. Os erros iniciais da situação e oposição são naturais. Esse primeiro ano será assim."

Assim sendo, quero ratificar, confirmar o que disse, e feliz pela oportunidade de voltar ao tema para dar mais base ao meu livre pensar. E assim sendo, devo discordar carinhosamente do leitor, e demonstrar onde está a base de minha afirmação.


Quando digo que Gramado não atingiu sua maturidade política, não estou dizendo com isso que não tem políticos competentes. Tem sim, e dos bons. Mas maturidade política não é apenas vencer uma eleição, ou vencer algumas eleições em sequência, pois se assim fosse, eu nem teria o que escrever.

Meu entendimento de maturidade política é o conjunto, a soma dos valores políticos legados, e a necessária transferência do saber político, bem como a formação de novas lideranças, pelos que lá estiveram. E nesse quesito, podemos dizer que tanto Nelson, quanto Pedro, foram grandes líderes no seu apogeu de militância,  mas que ao saírem do cenário de confronto, deixaram vazios que geraram estas incertezas que estão acontecendo.

Não  tenho nenhuma dúvida que é  temporária a dissenção entre as forças que se embatem no novo governo, pois sendo de partidos diferentes, e se assim não o fosse, não seriam tantos partidos e sim uma única agremiação ideológica. Uma coligação não é a estampa de vaquinhas de presépio inertes, mas um conjunto de forças e matizes em ebulição, que de tempos em tempos eclodem e liberam pressão. Esta pressão é o que gera as discordâncias e ajustes de percurso.

Voltando ao preparo de líderes, e com a devida vênia, digo que Nelson Dinnebier e Pedro Bertolucci, não deixaram sucessores capazes de gerarem novos sucessores. É bem verdade que Pedro legou o poder ao Nestor, que foi um bom administrador, e um excelente Mestre de Obras, isto é, preocupou-se mais em edificar bens, ruas, escolas, prédios, infraestrutura administrativa, do que em preparar pessoas para substituí-lo. Isso não é nenhum demérito, considerando que Nestor é  um Administrador e não um ideólogo. Não era obrigação dele fazer isso, e sim do seu Partido, de sua coligação, em criar uma escola política que capacitasse, descobrisse novos líderes, em lugar de olhar apenas para os feitos do Prefeito, como se suficientes fossem para garantir perpetuidade no poder. Não foram, e agora correm de um lado a outro em busca de alternativas que preencham o vácuo gerado por ver os órgãos públicos pelo lado de fora.

De outro lado, Nelson também não preparou o cenário para que aflorassem novas lideranças, e como prova disso, basta ver quantos correligionários dele buscaram o PP ao longo do tempo que os distanciava de sua presença no partido. Não preparou e o mesmo ocorreu com o PMDB, que se estribou na grandeza de seu líder, esquecendo que assim como o trigo que branqueia com a chuva serôdia, também os homens um dia recostam-se no esquecimento e na ausência.

Se o PMDB hoje tem um líder, é apenas por sua pertinácia em galgar esta liderança, e pelo passado histórico junto ao Partido de sua família, e menos por influencia direta de Nelson, considerando a idade  do jovem Evandro à época dos grandes momentos do PMDB e antes do MDB de Gramado.

Resta o PDT, que sim, justiça seja feita, legou um preparo ao longo dos anos, por Walter Bertolucci, que sonhou em ver o filho caçula ocupando a cadeira que ele, Walter, ocupou pela primeira vez. porém, também não preparou o Partido para dar o suporte que seu ungido necessitaria para chegar aao poder, e nele chegando, construir a fortaleza partidária que imaginou. Preparou um líder, mas o Partido precisou recorrer às alianças para colocá-lo no poder.

Sendo assim, abre-se caminho para que novas forças se arregimentem e construam, com base na história dos políticos de Gramado, e com o panorama visionário de novas ideias, um sólido cenário político em Gramado, mas preparado para penar na continuidade, pois homens e trigo não são eternos, mas ideias podem ser.

quinta-feira, 30 de março de 2017

A Imaturidade Política de Gramado



Aos que acreditam que apenas se deva tecer críticas de quem está no governo, aconselho que revise seus conceitos, porque o escritor não bajula este ou aquele por preferência da cor dos olhos ou do largo sorriso, nem tampouco anela compromissos com grupos ou dissensões, sejam estas pró ou contra este ou aquele partido, político ou agremiação.

O livre pensador tem agendamento diário com a reflexão sobre o comportamento humano e social,  tendo a politica como meio, daqueles que usam o cargo ou a função como um fim. Livre pensador é aquele que sobeja as palavras como um malabarista manipula habilmente seus malabares, percorrendo o olhar aqui e ali, como tirocínio pertinente à percepção de detalhes que são despercebidos pela multidão, até porque a própria multidão é o panorama destas observações.

O panorama que venho apaixonadamente aquarelando em minhas reminiscências e palavras é pela ebulição do rescaldo político que se desnudou na segunda cidade mais desejada do país, e se forem verdadeiros os alardes vocacionados, a quarta preferência mundial na lista dos desejos de visitá-la, que é Gramado.

Neste panorama, o cenário que me instiga a desenhar, é o cenário político de Gramado. Para tanto, vamos voltar um pouquinho ao passado,não muito remoto, onde o bipartidarismo criado pelo regime militar, denominado ARENA, que representava o governo, e do outro, o MDB, uma corrente que reuniu todas as vozes de oposição, modelo muito distante de formatação e formatação ideológica, mas uma aglutinação necessária pela convicção dos ideólogos da dita revolução.

Este bipartidarismo acabou com a abertura, e de um dia para outro, cerca de três dúzias de partidos foram criados, com as  mais diversas ideologias, mas que no fundo, nada mais representavam do que interesses em acréscimo de tempo de rádio e televisão durante o horário gratuito, ou cargos, comissões de seus correligionários, e que, em lugar de fortalecer a democracia, trunca ainda mais a possibilidade dos governantes de exercerem seus mandatos com liberdade, pois além daquilo que prometeram em campanha, precisam acomodar aquilo que seus coligados negociaram à meia luz do apagar das luzes.

Pois bem. O pluripartidarismo de fantasia também vigorou em Gramado, e apenas quatro partidos lograram êxito nesta trajetória, até hoje fortes e ativos, que são o PSDB, PP, PMDB e com menos força, em vias de extinção, o PT.Isso não significa que sejam únicos, pois cada coligação do último pleito contou com um exército quase fiel de dez partidos em média cada lado. Porém, se você perguntar aos líderes de cada coligação se ele é capaz de mencionar todos os dez sem contar nos dedos, terá que desmarcar seus compromissos, pois vai demorar.

Gramado é uma joia incrustada na serra gaúcha, com tantas virtudes, que fica difícil acreditar que maturidade política não seja uma destas virtudes.

A maturidade política pode ser medida pelo engajamento de seus militantes no processo de valorização de seus partidos e partidários, seja dentro ou fora do governo.

Mas,infelizmente, maturidade política é tudo o que Gramado, definitivamente não tem. Mas como podemos definir esta maturidade, uma vez que seja um termo subjetivo?

O termo pode ser subjetivo, mas os efeitos são muito objetivos e palpáveis. A falta de tato político dos novos governantes, expondo suas viscerais fraquezas, só não desaba porque bate de frente com a mesma inexperiência advinda da sua indefinida oposição, que mais parece estar em um filme de "Pastelão da Sessão da Tarde" (quem tem mais de cinquenta anos sabe do que estou falando, aqueles filmes movimentados à guisa de paneladas, tortas na cara, gente correndo atrapalhada por corredores, abrindo e fechando portas em sequência, e não chegando a lugar nenhum).

Senão vejamos: Do lado da Prefeitura, a falta de decisão sobre escolher um nome, um único e bom nome, de um cidadão ou cidadã gramadense, que possa representar Gramado dentro e fora dela, nas questões relativas ao turismo. Há dois listados pela fileira de probabilidades pela imprensa , e sou inclinado a pensar que por uma questão política, seja Celso Fioreze o escolhido,não sem constatar que Iara Sartori também ofereça competência para o cargo. Mas isso sai da caneta do Prefeito e não do palpite de blogueiro. Foi só uma divagação aqui.
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Nem vou gastar meu tecladinho para falar de detalhes menores, como a criticada decoração de Páscoa, até porque fica tão pequeno isso, parecendo uma cortina de fumaça, que chega a passar pela mente que tenha sido mesmo feito assim para desviar a atenção dos gravíssimos problemas por que atravessam a saúde dos cidadãos no único hospital da cidade.

Por falar em hospital e saúde, se é uma questão de falta de verba, acho que opinar sobre uma troca,não faria mal nenhum, talvez a terceirização de um bem do rico patrimônio municipal para realocar os recursos à Saúde, à Educação, à Segurança, que começam a se fragilizar.

Mas voltando aos políticos, sim. A coisa vai mal. A oposição resolve mostrar que é oposição e desata a despachar petições e solicitações atrás de solicitações. O governo se atrapalha cada vez mais e não sabe como lidar com o inusitado, pois se o PMDB governou por certo período, hoje não governa mais. O PDT nunca governou, e agora que tem o cetro e a coroa, não sabe o que fazer com o trono. E o eleitor, entra em desespero, porque sabe que uma oposição bem fundamentada, consolidada, é o fiel da balança para que sua vigilância eficiente e eficaz permita e motive o Governo a fazer aquilo que se propôs e principalmente aquilo que a a cidade necessita.

A insegurança política do Governo e da Oposição fazem mal ao povo. E o povo inseguro, para de crescer.Para de investir, para de empreender. Para de arrumar a casa. para de frequentar as ruas. 

E a cidade adormece no marasmo causado pelo embaraço dos embates vazios entre oposição acéfala e governo bicéfalo.





Gramado chegou no limite? PARTE 3 - Historia do Empreendedorismo de Gramado




Segunda Parte
Entendendo Gramado por sua historia


Foto: Youtube

Por que municípios com as mesmas características geográficas e equidistantes da Capital do Estado, e próximos entre si, apesar de obterem êxito e crescimento satisfatórios, não têm o mesmo apelo turístico de Gramado?

Um múltiplo de respostas está ao alcance desta pergunta: Por seus imigrantes; pela topografia e clima; pelas belezas naturais, etc. Porém, a grande maioria dos lugares tem atrativos naturais. Ou foram edificadas pelas mesmas etnias européias que chegaram à Gramado. Então o que fez de Gramado ser o que é, com os mesmos fatores potenciais de outros lugares?

Embora não sendo uma fórmula ou um segredo com dimensões exatas, há um “ponto cego” neste processo. Uma ramificação na historia que com base nos mesmos parâmetros de uma Sequência de Fibonacci, determina este direcionamento. Tudo começa na década de 40, durante a segunda guerra mundial, quando as praias frequentadas por turistas de Porto Alegre, e do restante do Estado, foram proibidos de frequentá-las, por questão de segurança. Com receio de ataques inimigos, o Governo brasileiro limitou o acesso aos balneários gaúchos por um tempo indeterminado. Diante disso, não restava muita opção ao veranista, do que ficar em casa jogando cartas com a família.

Um agrimensor, contratado por um líder local, que era ainda um Distrito de outra cidade-mãe, observou que a linha do trem cortava o povoado em direção à Canela. Constatou que havia quatro hoteis e cerca de seis ou oito armazéns, todos na mesma rua. Eram hoteis modestos, casarões de madeira, ao estilo italiano e alemão, que atendiam caixeiros-viajantes (vendedores) e comerciantes. Reuniu-se então com estes comerciantes e algumas lideranças locais, e mandou imprimir certa quantidade de material de propaganda, e anunciou nos jornais da Capital, relatando das maravilhas da boa comida e dos ares da Serra, e seus benefícios para a saúde. Começam assim os primeiros “charters” de trem à Gramado e Canela. Os “veranistas” (como eram chamados), eram recebidos com folguedos festivos à sua chegada na Estação Ferroviária e espalhados entre os hotéis da rua principal do povoado. Não faltavam opções de lazer com os jovens e familiares. Piqueniques, saraus, bailes, o perfume das iguarias dos hoteis espalhava-se pelo ar, e o que iniciou como uma alternativa para os banhos de mar, tornou-se uma nova opção de férias, em ambiente familiar e saudável, ao gosto das boas famílias da Capital e cidades metropolitanas.

Ato seguinte, o agrimensor empreendeu em terras próprias um loteamento de alto padrão, oferecendo lotes urbanizados e bem situados, em local privilegiado nas imediações de passagem do trem de ferro.

Como consequência deste empreendimento, novas opções começam a surgir para prender a atenção do turista à localidade. Começa o primeiro ciclo do artesanato de artigos de varas de vime, um arbusto trazido pelos imigrantes italianos para fabricação de cestas e utilitários domésticos. O povoado cresce, torna-se emancipado, e com eles as necessidades também chegam. Não havia mais guerra, mas a opção de veraneio em Gramado era irreversível. Já havia dois médicos na cidade, e também dois hospitais. Uma Prefeitura, cartório, tabelião, delegacia de polícia, duas escolas, sendo uma pública e uma privada, e sucessivamente a cidade começava a tomar forma.

Dentro do que acontece em pequenas cidades, eventos de interesse comunitário também surgem. Em Gramado, devido à grande quantidade de Hortênsias plantadas pelos empreendedores pioneiros, criou-se a Festa das Hortênsias, com tudo que tinha direito: Escolha de Rainha, desfiles com carros ornamentados, bandas marciais, acrobacias aéreas da Esquadrilha da Fumaça, e naturalmente, muita comida, pois não existe festa sem boa comida, muita comida e comida original.

Neste novo formato, Gramado começa a receber não apenas veranistas de temporada, mas também visitantes ocasionais, domingueiros. E para estes, uma nova oferta supre a demanda: os restaurantes e churrascarias. Lojas de armarinhos e confecções, armazéns, fábricas de doces, postos de combustíveis e outros estabelecimentos se alinham ao crescimento tangível da cidade. Novos postos de serviço são criados. Novos empregos. Novas oportunidades.

Uma particularidade a ser destacada é que dos anos cinquenta em diante, havia empregos específicos para meninos a partir de doze anos. Eram empregos não formais, naturalmente, mas eram empregos. Os meninos ocupavam-se nas fábricas de doces, descascando frutas. Ou então, nas fábricas de vime, geralmente familiares, responsabilizando-se por tarefas de menor responsabilidade, como descascar vime, lixar pequenas peças de madeira, envernizar as peças, ou até mesmo trançar cestinhos mais fáceis de confeccionar. Trabalhavam por meio turno, enquanto estudavam no turno seguinte. Alguns não estudavam mais, então trabalhavam em turno inteiro, e por esta razão, recebiam mais que os colegas estudantes. Isso dava-lhes certo ar de maturidade.

Não compete aqui julgar o certo ou o errado deste procedimento, senão apenas relatar as possíveis causas do berço do empreendedorismo nesta cidade.

O autor deste estudo mesmo, ocupava-se desde muito cedo a tarefas já citadas, além de outras como: entregar fonogramas, auxiliar em lavanderia, acompanhar turistas (a profissão de guia de turismo nem existia ainda nesta região. Eram estes meninos quem cumpriam esta tarefa. Era nitidamente uma profissão para meninos apenas).

Até meados dos anos sessenta, destacavam-se algumas fábricas de móveis, especializadas em mobiliário de madeiras nobres (louro, marfim, cedro, cabreúva) e Pinheiro Araucária. Esta última, era utilizada para confeccionar móveis de padrão médio e baixo. O estilo predominante era Luis XV , ou Chippendalle, como também chamavam alguns. Não havia a profissão de desenhista, projetista ou arquiteto. Eram os marceneiros quem procediam a venda e planejamento dos móveis junto com os clientes. Eram móveis finamente acabados, lustrados com goma laca, ou laca chinesa, vulgarmente conhecida como “laca asa de barata”, por causa das lâminas do produto antes da diluição se assemelharem à textura da asa de uma barata.
Não havia loja de móveis ao molde atual. Era num pequeno escritório malcheiroso e empoeirado das marcenarias, que eram feitos os negócios e tratativas do produto. Não havia ainda a profissão de vendedor de móveis. Era apenas o marceneiro e o cliente.

Outros profissionais começam a despontar, em apoio à construção civil, como o pintor, o encanador, o fabricante de esquadrias, o vidraceiro, e assim por diante. Com os profissionais, vêm também as lojas de materiais de construção.

Não havia ainda engenheiro ou arquiteto na cidade. O Poder Público começa a sentir necessidade de planejar o seu setor de urbanismo e normatizar as edificações. Desenhistas então começam a desenhar as plantas das casas de maneira bastante empírica, sem normas definidas, sem padrão de apresentação. Cada um desenhava como achava melhor, e aqueles que tinham algum domínio sobre a forma de construir, angariava mais clientes (fregueses) para seus projetos. Naturalmente com o passar do tempo surgem também estes profissionais especializados: o engenheiro, e bem mais tarde, o arquiteto.

O meio profissional começa a crescer também. Os serviços liberais, mesmo na área da saúde eram de fato “bem liberais” mesmo. Não havia dentista formado. Uma dor de dente era resolvida com um “Prático Licenciado”, ou seja, alguém que aprendeu com alguém a extraír dentes, montou um consultório, e extraía dentes. Era sua tarefa. Eram sessões de tortura pela qual todos tinham que passar algum dia.  Com o crescimento da cidade, do turismo, percebe-se que havia outro tipo de profissional mais bem preparado, graduado, que aos poucos chegava para ocupar o lugar em aberto dos torturadores licenciados. A odontologia humaniza-se. E também a medicina ganha seu espaço. Chegam mais médicos, farmácias, laboratórios de análises clínicas, e mais profissionais.

A sociedade se moderniza. E tem necessidade de clubes de lazer. Já havia três, que também agregam valor às suas sedes sociais. Famílias originarias das primeiras que chegaram pela opção do trem, reúnem-se e fundam seu próprio espaço, e depois agregam a “alta sociedade” entre seus membros. Surge o clube de golfe. Que trás um outro grupo de turistas. E os empreendedores locais percebem que há uma demanda de habitações, mas há pouco terreno disponível. Começam os condomínios, na década de setenta.

Antes disso ainda, em meados dos anos sessenta, chega à Gramado uma artista plástica, Elisabeth Rosenfeld, que adquire uma área de terra próxima ao centro, mas em uma vila pobre. E é aqui que começa uma segunda etapa do empreendedorismo de Gramado. É criado o Artesanato Gramadense.
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A palavra “Artesanato” era completamente nova. Desconhecida. Elisabeth populariza e personaliza a expressão, e edifica uma escola diferente: os aprendizes não pagavam nada, mas eram pagos para aprender. Alunos de escolas de Porto Alegre, Sçao Paulo, Rio de Janeiro, e até da Alemanha, permaneciam temporadas como aprendizes da artista em seu ambiente de trabalho. Também alunos das escolas locais eram frequentadores habituais em suas aulas livres de desenho.
Na sua pequena fábrica, que inicia com um atelier, Elisabeth produz peças de cerâmica, mosaico, escultura em madeira, e tapeçarias. Um tear rústico é montado e duas mulheres, da própria vizinhança, são contratadas para aprender a nova profissão. Em poucos anos, Gramado já fabricava seus próprios teares, ás centenas, e eram espalhados por todos os lados, gerando renda para centenas de mulheres, antes singelas e recatadas senhoras “do lar”. Do tanque para o tear. Do tear para a loja. Da loja para a casa nova, o carro, a geladeira, o receptor de Tv, o toca-discos.

Em poucos anos, o Artesanato Gramadense, antes num recanto de vila, torna-se a principal atração turística de Gramado. Passa a fabricar móveis de madeira proveniente de Santa Catarina e da Amazônia. Com a necessidade de povoamento da região amazônica, por iniciativa militar para evitar a descaracterização territorial do Brasil, o que oferecia, segundo voz corrente na época, abre-se a Rodovia Trans-Amazônica. A madeira aparecia de todas as formas. Custava apenas o frete, e gera uma nova alternativa para Gramado: as marcenarias de móveis sob medida, seguindo o já consolidado “Estilo Gramado”, ou, “Móvel de Gramado”.

Está consolidada a marca “Gramado” então no mobiliário, nas tapeçarias e tapetes de lã (que por sua vez fomentam o comércio da lã, da juta, de insumos para estes produtos), no artesanato decorativo.



(Continua)

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