Imagem de Internet - Desconheço o autor
Era o ano de 1977. Eu ocupava a nobre e muito valorizada função de "Aspone" (Assessoria de porcaria nenhuma) do Secretário de Turismo, Esdras Rubim, em Gramado, que à época, funcionava na sobreloja do Cine Embaixador, hoje Palácio dos Festivais. Minha tarefa era fazer de tudo o que dizia respeito à competência pública do turismo em Gramado, além de assessorar o Secretário, que passava grande parte do tempo em viagens buscando recursos, efetuando contatos, promovendo os eventos, bem poucos ainda, enfim, fazendo o serviço de vanguarda, enquanto eu e uma assistente, trabalhávamos dentro da Secretaria.Esta atividade compreendia, desde atender telefone, revezar com o atendente do Pórtico de entrada na cidade, a caminho de Nova Petrópolis; organizar os eventos culturais da cidade, e recepcionar os turistas que buscavam informações na Secretaria.
Portador de Hiperatividade crônica, então chamada de "formiga na cueca", eu estava metido em tudo. Conversava com todos. Queria conhecer tudo. E desta forma, evitava a monotonia de uma cidadezinha pacata e com pouco movimento (sim, estou falando de Gramado, jovens. Ela já foi assim um dia). Puxava conversa com cada pessoa que aparecesse, e procurava demonstrar hospitalidade sempre, afinal, eu aprendera desde menino, que o gaúcho é hospitaleiro, e sendo eu gaúcho, hospitaleiro então seria.
Numa feita dessas, apareceu um sujeito baixinho, grisalho, bem falante, com quem foi muito fácil entabular conversa, e que em pouco tempo já conversávamos sobre a historia do Rio Grande do Sul. Era um historiador das famílias alemãs que chegaram em 1825 a São Leopoldo, então chamado de "Feitoria Velha". Chamava-se Carlos Henrique Hunsche. Gostei do sujeito, e a prosa corria solta, quando entrou na sala o Prefeito Nelson Dinnebier, para falar comigo.
Simpaticão como eu era, não perdi tempo em apresentar o visitante ao Nelson, que, para minha surpresa, virou de costas para o Hunsche, falou secamente comigo, dizendo que eu deveria ligar pra ele mais tarde. Não entendi nada, pois não era próprio do Nelson aquele tipo de comportamento. Hunsche, percebendo que não estava agradando, despediu-se educadamente, e foi embora.
Quando meu chefe chegou, contei-lhe o ocorrido e disse que eu havia ficado boiando, sem entender nada. Ele então me explicou que, durante a Segunda Guerra, havia um programa de rádio, da emissora oficial de Hitler, que transmitia um programa em língua portuguesa, direcionado ao Brasil, para propaganda nazista. O locutor do programa era o Hunsche, que no fim da guerra, tentou voltar ao Brasil, pois nascera em Nova Petrópolis, onde seu pai havia sido o pastor da comunidade evangélica, mas foi proibido, e teve que morar por alguns anos no Uruguai. Nos anos 70, conseguiu visto, e foi morar em Gramado, onde comprou um pequeno hotel, onde se instalou, e escrevia seus livros.
Mas a história não termina aqui. Ainda no início da década de 70, descobriu-se a carcaça de um navio alemão que foi afundado na costa brasileira, e alguma eminência parda da política local teve a estupenda ideia de propor que se levasse um pedaço daquele casco, e fosse criado um monumento com ele, nas imediações do Lago Negro. Tal atitude, comentava-se, gerou uma reação imediata da comunidade judaica, que tinha muitas casas na cidade, e ameaçou retirar-se em bloco, caso a ideia estúpida fosse levada a cabo. A noticia chegou a ser publicado em jornais de grande circulação no Estado, e acabou se esvaziando por ali mesmo.
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Pensam que acabou? Acabou nada! Pois este tal Hunsche tinha um grupo de amigos que se reuniam com ele, em saraus literários, recitando poetas alemães, e nestas reuniões era apenas permitido que se falasse na língua alemã. E adivinhem qual era o símbolo deste grupo? Isso mesmo: Uma coruja. Aliás, havia muitos artesãos em Gramado, eu inclusive, que ganhavam um bom dinheirinho, produzindo corujinhas de madeira, cerâmica ou outros materiais, sem saberem, obviamente, com que finalidade eram utilizadas, ou seja, decoração conceitual...Illuminatti!
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Felizmente nada disso prosperou, e desta forma, a discreta,mas expressiva Gramado permanece até hoje, livre da possibilidade de ver exaltado um fragmento de um objeto que causou tanta dor e destruição no mundo, e que, por pouco, poderia ter se tornado um monumento amaldiçoado pela história, e grupos que cultuavam corujinhas, em reuniões secretas, disfarçadas de saraus culturais, poderiam tornar-se um novo pesadelo para todos.
Por Bundesarchiv, DVM 10 Bild-23-63-06 / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5372013
Gramado tem cada historia....
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Acrescentando informações adicionais.
Um leitor, que prefere manter-se anônimo, deu o nome do navio:
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Encouraçado Graff Spee
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Um comentário:
Que delícia de blogger, parabéns .
Amo as histórias de Gramado.
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
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