Chato! Todo lugar tem um. Na família, tanto pode ser aquele tio solteirão picareta, quanto o cunhado que quer provar à sogra o quanto pode ser bom investir nele.
Na empresa, nem se fala, embora que se eu não falar, perde o sentido o texto. Então, sim, eu vou falar, doa a quem doa, porque os chatos estão aí, ruidosamente invadindo espaços, e precisam ser freados.
Há todo tipo de chato. Tem aquele chato que tem uma ideia, e corre a escrever para que todos saibam no que está pensando. São os chatos literários. Escrever sobre outros chatos, e dão risada quando descobrem serem eles próprios os chatos a quem descrevem.
Tem os chatos calados, aqueles que acreditam no poder do silêncio. São verdadeiras estátuas. Alguns se parecem mais com múmias. Outros com tijolos. Todos sabem que estão ali, mas por mais que se puxe assunto com eles, preferem demonstrar sua indignação com as inconformidades sociais permanecendo calados. Uma vingança contra o sistema.
Tem os chatos tipo porcelana. Por mais que queiram parecer uma delicada louça chinesa, não passam de vasos sanitários. Inertes, aguados, com uma boca enorme, e às vezes cheios de merda. E mesmo assim ainda se acham melhores que a sub espécie dos chatos portáteis, também chamados de penicos ou urinóis.
Urinol! Tá aí a palavrinha que um chato tanto gosta. Um objeto de desejo de todo chato que tem poder. Geralmente míopes em alto grau (nem todo míope é chato, para com isso né) confundem o companheiro de trabalho, de viagem, de escola, de futebol, como um penico, e no primeiro vacilo, lá estão eles abastecendo os ouvidos do pretenso penico. Estes só param de tagarelar quando descobrem que o penico estava também abarrotado de dejetos, e que estavam falando na frente do espelho.
Tem os chatos politicamente corretos. Estes são terríveis. Você chega animado e dá um discreto "bom dia!". Mas ah, pra quê! Ah pra quê foi abrir a sua boca? E lá vem discurso, que você deu um bom dia desanimado, tímido, que faltou determinação, que estava mais que na hora de terem uma boa conversa, para que você revise seus valores negativos, e se torne mais "proativo". E você não tem como fugir do falar cuspido, porque a esta altura da solilóquio (pois ele fala sozinho e o tempo todo) já te encurralou naquela micro cozinha cheirando a café rançoso, e escapar dali só se atirar pela janelinha, o que não convém, pois de canto de olho, percebe que está no oitavo andar. E ainda se sente culpado porque a ideia passou por sua cabeça. Mas era desespero e desespero tem atenuante de culpa.Mas melhor ficar longe da janelinha.
Proativo! Esta palavrinha é um mantra para os chatos desta espécie, porque deveriam viver sozinhos e no campo, por tão espaçosos que são. Onde chegam já fazem palestra e dão discurso de proatividade e otimismo. E ai de quem reagir. Tornam-se agressivos, pois defendem que as ideias (especialmente as deles)precisam que sejam defendidas até à morte, e morte sofrida. Ouvindo um chato. Viram bicho quando defendem seu (o teu mesmo) direito de ouvi-los do inicio ao fim da ladainha.
Não suportam a inercia. Se você estiver confortavelmente acomodado no seu sofá predileto, assistindo um debate na TV Universitária sobre os direitos dos tamanduás no cio, ou sobre receitas de biscoitos de cânhamo para acompanharem um aperitivo com Ayahuasca, não porque esteja interessado, mas porque o tema é hipnótico e você consegue entrar em transe sem precisar encher a cara, o indivíduo entra com os dois pés e o dedo engordurado no seu nariz e o acusa de absenteísmo ululante, de narcisismo dialético, ou coisa ainda pior. Se é que possa existir algo pior do que ser acusado de absenteísmo ululante e narcisismo dialético.
Enfim, há chato pra tudo. Até mesmo para fazê-lo ler esta inutilidade até a última linha, esperando que vá sair algum despejo contra políticos, ou algum ensaio sobre a importância de saber defender-se contra tais elementos. Isso sim é chato. E talvez até você seja um chato e nem tinha se dado conta disso. E nem adianta dizer o mesmo de mim, porque a ideia foi minha e eu gastei primeiro. Todo o estoque.
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