Criar e inovar não é pra gente ruim da cabeça. Não é pra fraco. É pra louco. É pra gente infeliz, gente descontente, gente com formiga na cueca, com bicho no corpo inteiro (uns dizem "bicho carpinteiro"). Carpinteiro, não: Marceneiro. E dos bons!
Entender inovação não é pra gente medíocre. Não é pra gente com neurônios acomodados. Não é pra gente incapaz de diferenciar beige de amarelo, nem roxo de lilás. Não é pra gente de horizonte pequeno e alma finita.
Inovar é pra quem percebe que o limite já está criando limo e a mesmice já se encheu de mofo. Inovar é pra quem sabe que o mundo gira, mesmo que não se perceba. Quem olha pro chão, só vê os pés afundando na terra, mas o inovador olha pro alto, em todas as direções, e vê que o sol não fica no mesmo ponto durante as horas do dia. São os inovadores quem percebem que o mundo gira, e não fazem como as flores e folhas, que miram sempre a luz do sol. O inovador não espera pelo sol para virar o rosto. Ele acende uma lâmpada e direciona a luz para onde quer que olhe.
A movelaria brasileira não inova sua cara desde a construção de Brasília, e antes disso, desde a chegada de Cabral. A movelaria brasileira só é brasileira quando tem cara de Brasil, e cara de Brasil não é só cara de índio, cara de pau roliço, cara de taquara. A movelaria brasileira pede emprestadas as cores do mundo, as formas das gentes, e a função dos acomodados.
A movelaria brasileira tem vergonha de si própria. Tem vergonha de bater em portar e mostrar o corpo que tem. Tem vergonha de ser linda, sensual, feliz, e necessária. A movelaria brasileira é uma meretriz que sustenta gigolôs do design do velho mundo. É seletiva e burra, porque suga cultura que desconhece. A movelaria brasileira e seus mentores, agem como macaquinhos que imitam os outros, e nesse caso, os outros, são os que repetem traços, curvas, cores, e formas e abarrotam, de vazios, espaços cheios de nada. E os brasileiros dizem: "Top!"
A movelaria brasileira é pobre, ainda que seus produtos sejam feitos para os ricos, e os móveis dos pobres, são a rapa do que restou no reuso do design de uma década atrás, pois os grandes fabricantes não correm riscos de errar. Portanto, não são inovadores, são digitadores de planilhas e apertadores de botões de máquinas robotizadas, aquelas que riscam, cortam e furam, chapas de goma enrijecida, para fabricarem caixas coloridas, ao que chamam de móveis, e pensam que isso é design, e pensam que isso é brasileiro.
Os aventureiros da movelaria não são os que produzem as caixas utilitárias para os consumidores, mas os que se beneficiam de determinada onda, determinado movimento econômico e de certa tendência, e mergulham com tudo na produção daquilo, até que venha outra onda e mude tudo, mas eles não mudam, porque só sabe mudar quem soube começar. Eles simplesmente naufragam, e os restos aparecem boiando nos pavilhões abandonados cercados de mato (antes mato fosse, pois é capoeira vazia), eivados de títulos vencidos e pendências judiciais por salários fraudados ou impostos desviados, e ficam, feito macacos novamente, pulando de galho em galho, comendo bananas de "chepa" (frutas do fim da feira), e reclamando do governo, dos empregados, dos sindicatos, da vacina que não aceitam, das ruas esburacadas, e voltam pra casa, para tropeçarem nos cantos vivos dos armários, e assenta O Vazio criativo, e os aventureiros da movelaria brasileira rem nas cadeiras capengas, porque não souberam sequer copiá-las.
O Design brasileiro está em seu momento de vazio criativo, e os fabricantes tem medo de ousar, pois há uma crise lá fora, sem perceberem que há uma crise ainda pior, lá dentro, de suas mentes vazias e esperanças enterradas no passado que pensavam serem empresários e inovadores. Não foram, e jamais serão.
Há um vazio criativo, apesar de ouvirem constantemente que a criatividade é a grande urgência para que sobrevivam.
Há vazios dentro de vazios. Um vazio repletos de outros vazios, como disse alguém. (Tá, eu disse isso, no livrinho aí abaixo. Clique para comprar).