Aí, foi que num dia desses, deu uns atrapalhos aqui no condomínio onde moro, por causa da portaria remota, que funciona assim:
Não temos chave convencional para abertura de portas. É tudo digital. O morador chega na portaria, e aproxima uma moedinha plástica com um chip embutido, chamada de "tag" que tem todas as suas informações nele, e por magnetismo, o sistema faz a leitura, e libera o acesso à pessoa. Caso esteja sem a "tag", pode encostar o dedo em um leitor digital, que fará o mesmo trabalho, e caso a digital não funcione (e elas nunca funcionam), então a pessoa aperta um único botão, que dará acesso a uma central, onde um Ser Humano (eu ainda tenho minhas dúvidas disso) atende, e por uma contrassenha, a primeira porta será aberta. mais duas vezes, pois o raio da porta ainda tem uma clausura, que só libera o segundo acesso, após o fechamento total do primeiro, e mais outra porta, mais adiante, que dá acesso ao bloco onde está o apartamento da víti... digo, do morador.
Só então, tendo adentrado o bloco, é que a vida volta ao natural (quase, pois esse tempo todo, seu nome, e o numero de todos os seus documentos, mais todos os passos, que são controlados por mais de trinta câmeras, e tudo isso registrado na tal central de comando, onde "dizem" que existem pessoas).
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Desejar que a vida volte ao natural, é algo assim, quase jurássico, pois é quele momento saudosista em que a pessoa empunha uma chave de verdade, de metal amarelinho e tudo, enfia no buraco da fechadura (desculpe-me por esse linguajar tão chulo, pois deve ter alguma senhora ou senhorita lendo isso), gira a chave e, ...AHHH! Sua casa! Você está vivo!
Aí volta a ser tudo como era antigamente: a pessoa vai pro seu computador, conversar com seus amigos virtuais, ler cinco ou seis artigos ao mesmo tempo, teclar com oito pessoas pelas plataformas binárias, e checar sua conta eletrônica, que está cheia de avisos piscando sobre seu atraso nas contas.
Aí lembrei do lugar onde cresci, no rancho de tábuas velhas, da minha avó, Maria Elisa, onde também usávamos um cartão de crédito (ou uma faquinha qualquer) para abrir a porta. Era só enfiar o cartão (ou a lâmina da faca) pela fresta e ir empurrando a tramela pra baixo, que em poucos minutos, a porta estava aberta.
E lá tinha bolinhos de arroz, pra comer, com chá de mate.
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