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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Enquanto entoarem canções





















O cântico sempre foi um modo de comunicação da alma, um protocolo espiritual de abrir os corações. As Sagradas Escrituras, especialmente nos seus primeiros livros, a Torá, ou como é conhecido pelos gregos: "Pentateuco", atribuídos a Moisés, não foram escritos para serem lidos mentalmente, como fazemos hoje, no silêncio e na quietude, mas para que fossem cantados em alta voz, pois são um composto de ensinamentos, e não se ensina nada enquanto calados, mas falando em alta voz, e com certa harmonia melódica. Assim eram ensinados ao povo, e passados de geração em geração (ledor vador, em hebraico).

Nos tempos medievais, o relato de fatos distantes, ou mesmo locais, eram cantados e contados, de forma burlesca, ou dramática, pelos menestréis, que tocavam seus instrumentos de corda e sopro, e assim, amealhavam uns tostões, além de disseminarem as notícias, fossem verdadeiras, ou fantasiosas (hoje seriam fake news), pelos vilarejos, e pelas cidades maiores, pelos seus burgos e praças, de taberna em taberna, de prostíbulo em prostíbulo, ou até mesmo dentro das igrejas e catedrais, ali, naturalmente, de forma mais formal e respeitosa.

As canções eram divididas de dois modos apenas, nesse período: Canônicas (sacras), ou profanas. Ou eram aprovadas para serem entoadas pelos coros monofônicos gregorianos, ou como canções românticas, melodiosas, ou alegres, regadas à vinho e comilanças pelas noites frias da velha Europa.

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Deste modo, as histórias passavam de ouvido em ouvido, até que em determinado tempo, alguma boa alma as escrevesse e as eternizasse em livros, para deleite das futuras gerações.

As canções sempre fizeram e ainda fazem parte do cotidiano da cultura popular ou aristocrática. Cada lugar, cada povo, cada grupo social tem as suas melodias, os seus versos, um modo cancioneiro de expressar seus sentimentos e contar suas histórias, ou de proliferar suas opiniões, seja de modo sentimental ou irônico, através do humor.

As canções louvam políticos e heróis, assim como criticam e até espezinham personagens de agrado ou desagrado popular.

As canções tem o poder de fixar mais rapidamente as ideias e expressar de modo artístico, aquilo que discursos ou palavras não o fazem. São as crianças quem cantarolam os versos que calam vozes, ou levantam revoluções. São as canções que conduzem povos à marcha e congregam multidões no chamamento às lutas. Não há movimento sem canções, nem há canções que não motivem prosélitos, se falarem aos corações.

São as canções que fazem pulsar as massas e até calar baionetas. São os cânticos quem quebram a dureza de corações fechados. Enternecem mães e adormecem filhos.

Faltam canções, onde a palavra seja mais importante que a batida e a estridência dos instrumentos. Faltam poemas cantados e cantigas poéticas. Faltam menestréis e sobram coronéis. Faltam dedos e sobram anéis. Faltam vozes e sobram algozes. Faltam sentimentos e  crescem tormentos. Falta a sublimidade de vozes ao vento, de brisas, alentos, em lugar de tormentos e tormentas. Faltam poemas e faltam quem os leia. Faltam palavras e sobram jargões.

Enquanto entoarem canções, se calarão os canhões. Enquanto crianças cantarem, adultos haverá para ouvi-las. Enquanto adultos ouvirem das crianças, canções, a esperança fará coro pelas ruas e praças, e em todos os lugares. 

O Livro Sagrado fala de um cântico de libertação, sobre o mar de vidro, o Cântico de Moisés.

Enquanto se cantarem canções, haverá eternidade para ouvi-las, e anjos para formarem o coro.

Enquanto cantarem canções, haverá paz.





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