AD SENSE

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

"Envelhecer deixa as pessoas menos produtivas" - Só que Não!









"Envelhecer deixa as pessoas menos produtivas"

Esta é a frase mais burra que já ouvi. Sou velho, 66 anos, é ser velho, eu acho.  Acho ainda que há 66 anos sou velho, pois meu filho temporão, pra me trollar (debochar de minha gentil pessoa), me pergunta: "Faz muito tempo que tu é velho?" Sim, faz muito tempo que nasci velho.

Estive fora do meu mercado de trabalho, através do qual construí, ao lado de minha esposa, uma estrutura familiar, provendo educação, aconchego, e impulso para a cidadania de tres lindos rebentos, os quais pipocaram cinco espetaculares exemplares a quem chamo de netos, outras vezes, pimpolhos, e algumas vezes de "cabulosos". Os cabulosinhos mais fofos do mundo.

Escrevi doze livros, publiquei nove, e milhares ("milhares" é quando passa de mil, e sim, foi isso mesmo) de artigos, crônicas, causos, coisas e loisas, que divertiram um certo tanto de gente. Hoje tenho escrito menos ("menas", diriam uns e outros), pois tenho desenhado mais, e claro não mencionei que desenhei milhares (os exagerados tornariam hiperbólico e diriam: bilhares!) de coisas, e um bom punhado destes desenhos foram transformados em móveis e alguns outros produtos, até carenagem de robôs tem no pacote, mas lá pelo ano de 2012, após milhares de milhas voadas, quilômetros rodados, tendo dormido em aeroportos naquelas cadeiras confortáveis, em hotéis nem sempre mencionáveis, finalmente caí doente em um hospital a centenas de quilômetors de casa, e por ter ido de carro, minha esposa e meu filho tiveram que ir com outro carro, para me trazer de volta, à casa e à realidade. Eu estava ficando velho! Estava na hora de repensar minha carreira, pois meu trabalho condicionava-me à estar presente em "chão de fábrica", onde acontecia tudo. Pensei: Preciso de um trabalho com o qual eu possa envelhecer com dignidade, isto é, continuar trabalhando, ainda que perdesse minha mobilidade por conta da senil companhia. E foi assim que decidi escrever, migrar para palestras, consultorias, e menos chão de fábrica, e nos anos seguintes, foi o que fiz. Menos viagens, menor remuneração, mas mais qualidade de vida (em teoria), até quem em 2019, decidi migrar de atividade completamente, e montei um pequenino bistrô, misturado com empório. Tudo de primeira qualidade. Clientela satisfeita, negócio dando certo, e mais algum tempo, começaria a pagar o investimento, fruto de minhas economias, nada de empréstimo. Aí descobri que no fim do arco-íris em lugar de panelão de outro, havia um porão chamado "pandemia". É aqui que eu acelero o vídeo, pois com raríssimas exceções, todos quase, ou totalmente, quebraram. Lambemos o poço, mascamos lama, e conhecemos a amargura do desprezo, da falta de esperança, da virada de mesa do mundo e da humanidade, e de lá pra cá, tenho tanto medo de ligar a tevê pela manhã, quanto de dormir, pois descobri, após um AVC, constatar diabetes, que também tenho um maravilhoso Ciático, o que me lembra de sua existência todas as noites. Todas! Dormir, antes um dos prazeres da carne, torna-se um suplício, tantas são as dores. Mas, "C'est la vie", dizem os japoneses, e vida que segue (dizem os conformados).

Nessa condição, aposentado pelo SUS com uma abençoado Salário Minimo, que passou a ser esperado com ansiedade quase infantil, sento-me a cismar, sozinho à noite (vou cismar longe do quarto pra que minha cisma não tire o sono de minha companheira, que tem as suas próprias cismas também) do jeito que fazia o poeta, e nesse cismar, cismei de recomeçar onde havia parado: Voltar a desenhar!

Voltei a treinar uso de ferramentas gráficas em computador, aprendi a desenhar em vários softwares (sessenta e três anos nesse tempo já), fiz centenas de amostras para portifólio, mergulhei no Linkedin, onde passei a importunar diuturnamente meus quase dez mil contatos, espalhei curriculos, cards, links de meus trabalhos pelo mundo todo, atirei pra todos os lados, e repetia pra minha esposa, diante de seu olhar misto de compaixão e revolta com o marido que poderia ter usufruído suas economias e encerrado a carreira, para viajar com ela, pescar (tá, ela não pesca), enfim, evelhecer como todo velho que se preza faz. Mas não, o teimoso woarkahoolic aqui tinha que trabalhar, tinha que ficar inventando coisa. E assim, eu só dizia: tenha paciência! Eu apenas estou sem trabalho (ou clientes, pois quem não tem trabalho, trabalha dez vezes mais), mas não perdi minha capacidade cognitiva, ainda sou o mesmo profissional que rendeu emprego à milhares de pessoas com minhas crições, e acima de tudo, O D-us em Que eu confio, e agora confio ainda mais, tem algo a me dizer, e tem um jardim de esperança guardado pra mim no fim do arco celeste, cuja descrição diz que é um arco da aliança, da promessa, De Quem criou o universo inteiro, então, com certeza,euzinho, velho, fraco, e combalido, estaria guardado em um lugarzinho climatizado do coração de D-s, pois se o AVC não me levou, e o diabetes só me fez mudar a dieta, além de abocanhar a concha diária de remédios, a minha fé só fez crescer, e a paz que eu nem sabia que precisava, me alcançou.

Pensei muitas vezes em relatar esse testemunho, mas seria cedo demais, porque havia um conjunto de vitórias a ser alcançado, e eu precisava correr sem descanso, exceto aos sábados, e também porque testemunho apenas de esperança pode cair no descrédito, então esperei, e hoje eu dou o testemunho que faltava: D-us venceu por mim. Estou de volta ao mercado. Estou recebendo bons contratos, e não perdi minha criatividade, antes pelo contrário, acrescentei minha experiência ao testemunho. Sou novamente um Desenhista, e não apenas digital, pois para lembrar para que servem as mãos, estou desenhando em bico de pena com nankin, ao modo medieval, por puro prazer. Estes desenhos nem estão á venda. Serão meu legado para meus filhos.



domingo, 28 de janeiro de 2024

Copy or Reproduce - Ethics and the Furniture Market in Brazil



I can only talk about Brazil and its market, since my professional borders have not advanced beyond them, even though, over fifty years dedicated almost entirely to the creation of furniture and interiors (some gardens have also found their way onto my drawing boards from time to time). back when), I took a few strolls, with this purpose, around the old world, but only just being nosy, curious.

I have always had integrity in my creative career, and I have always understood the uncertainty of the creative state of things, which did not always meet the expectations of the manufacturers, even though many of them did not know what they wanted when hiring, but after it was presented, they knew that it was not going to happen. that was what was shown, and then, patiently, I went back to the drawing board, until the fluids balanced, and the collection was materialized.

It is also true that there was a time when I believed that it was enough to be creative to please the market, until, with great difficulty, I also learned that creativity is just one part of the job, and that it only fulfills its purpose when added to experience. and above all, the clarity of communication between the manufacturer, the market, and between them, the Designer, who, before being good at drawing, should (and still must) have objective training to understand both languages, and obtain chiasmus, the middle of the "X", that point of balance between one and the other. It should easily understand the language of the market, and it should understand the language of the "Shop Floor", because in the good relationship between the creator of the project and the executor of production, there should be full harmony. And that was how I worked, and I still work today.

But, as with everything, there are pitfalls, and one of the pitfalls is the manufacturer's (justified) insecurity in launching a product that is too innovative, and stalling sales, having to return to the production of "Commodities", those products in common use across the world. all competitors, where price is disputed rather than model, wasting time, enthusiasm, and money, and even credibility, due to lack of market vision, in launching products that do not rotate in stores.

The big issue is the market, and here we talk about the Brazilian market, which interests us. The first reading is the fallacy that "Brazilians do not understand and do not know how to value design", which limits the possibility of innovation, and sends manufacturers to the old and unpleasant practice of resorting to copies, with the possibility of lowering costs for become more competitive. And they do, for a limited period of time, but enough to give them pause to think about the next step. The problem is that the next step, the one in which they will be able, with more resources, to develop their own products, with original design, creating "brands", and here begins the bifurcation, as this will never happen, since the convenience of selling of low-value copies, has already completely dominated creative ambition, and this businessman will hardly get used to the presence of creative professionals, who have always been seen as inaccessible, eccentric, arrogant, and vain with their creations. And the door definitely closes, due to this condition.

There is, however, a window of possibilities, where the manufacturer, retailer, and Designer will find the aforementioned "chiasmus": The creation of a new niche with its own brand, different from the company's conventional brand, detaching the new creative brand from the " beans and rice" traditional. A new line, a new brand, a new sales team, and a new market niche, in other stores, other centers, and an independent production, marketing, and commercial management structure. Only in this way, the chances of success, slower, with different timing of results, can be achieved. It's in the Bible: You don't put new wine in old wineskins. They will not resist, and the wine and wineskins will be lost, as well as the most important thing: The credibility of the manufacturer, who stops being an entrepreneur and becomes an adventurer. And not even sports professionals can be called adventurers, because for each podium, there are many years and hours, sweat, and training and strategy, for each victory achieved.

And with the following question: Is the model mine, because I developed it, or ordered it and paid for it from a serious professional, or won it, or was I granted permission to reproduce it? No? So I went on the internet and copied it, simply because it was there and "anyone can copy it, without responding, at least morally due to lack of ethics?" None of that? So, the name is different. If I find a burnt matchstick inside someone's land, and I take it away without asking permission from the owner of the house, what's the name of that? What if instead of a burnt toothpick, a valuable ring, found in the same place, becomes theft? Of course yes, they both are. The value doesn't matter, but knowing that what doesn't belong to me, I have no right to appropriate. That simple. A thief is a thief!

Believe me, I'm old. I've seen shit...!
Pacard - Designer, Writer




Copiar ou Reproduzir - A Ética e o Mercado Moveleiro no Brasil


Imagem: AI Bing

Eu só posso falar do Brasil e seu mercado, uma vez que minhas fronteiras profissionais não avançaram fora delas, ainda que, ao longo de cinquenta anos dedicados quase integralmente à criação de móveis e interiores (alguns jardins também se enfiaram nas minhas pranchetas de vez em quando), eu tenha dado umas voltinhas, com este bjetivo, pelo mundão velho, mas só de metido mesmo, curioso.
Sempre fui íntegro em minha carreira criativa, e sempre compreendi a incerteza do estado criativo das coisas, que nem sempre correspondiam às expectativas dos fabricantes, apesar de que muitos destes não sabiam o que queriam, ao contratar, mas depois de apresentado, sabiam que não era aquilo que fora mostrado, e então, pacientemente, lá ia eu de volta à prancheta, até que os fluidos se equilibrassem, e a coleção era materializada.
Bem verdade é também que houve um tempo em que acreditei que bastava ser criativo para agradar ao mercado, até que, à duras penas, também aprendi que criatividade é apenas uma parte do trabalho, e que esta apenas cumpre sua finalidade, quando somada à experiência e sobretudo, a limpidez de comunicação entre o fabricante, o mercado, e entre estes, o Designer, que, antes de ser bom no traço, deveria (e continua devendo) ter tirocínio objetivo para compreender as duas linguagens, e obter o quiasmo, o meio do "X", aquele ponto de equilíbrio entre um e outro. Deveria entender com facilidade a inguagem do mercado, e deveria compreender o idioma do "Chão de Fábrica", pois no bom relacionamento entre o criador do projeto, e o executor da produção, deveria haver plena sintonia. E era assim que eu trabalhava, e trabalho até hoje.
Mas, como em tudo, existem os poréns, e um dos poréns é a insegurança do fabricante (justificada) de lançar uma produto inovador demais, e empatar as vendas, tendo que retornar à produção de "Commodities", aqueles produtos de uso comum à todos os concorrentes, onde se disputa preço e não modelo, perdendo tempo, ânimo, e dinheiro, e até mesmo credibilidade, por falta de visão de mercado, em lançar produto que não giram nas lojas.

A grande questão é o mercado, e aqui falamos do mercado brasileiro, o que nos interessa. A primeira leitura é a falácia de que "o brasileiro não entende e não sabe valorizar o design", o que limita a possibilidade de inovação, e remete os fabricantes à velha e desagradável prática de recorrerem às cópias, com a possibilidade de baixarem custo para se tornarem mais competitivas. E se tornam mesmo, por prazo limitado, mas o suficiente para tomarem fôlego em pensar no passo seguinte. O problema é que o passo seguinte, aquele em que poderão, com mais recursos, desenvolver seus próprios produtos, com design autoral, criando "griffes", e aqui começa a bifurcação, pois isso nunca vai acontecer, uma vez que a comodidade da venda de cópias de baixo valor, já dominou inteiramente a ambição criativa, e dificilmente irá, este empresário, ambientar-se com a presença de profissionais de criação, que sempre foram vistos como inacessíveis, excêntricos, arrogantes, e vaidosos com suas criações. E a porta definitivamente se fecha, por essa condição.


Há, porém, uma janela de possibilidades, onde fabricante, lojista, e Designer, encontrarão o referido "quiasmo": A criação de um novo nicho com marca própria, diferente da convencional da empresa, desvinculando a nova marca criativa, da linha do "feijão com arroz" tradicional. Uma nova linha, uma nova marca, uma nova equipe comercial, e um novo nicho de mercado, em outras lojas, outros centros, e uma estrutura independente de gestão produtiva, de marketing, e comercial. Só assim, as chances de sucesso, mais lento, com timming diferente de resultados, poderão ser alcançadas. Está na Bíblia: Não se coloca vinho novo em odres velhos. Não irão resistir, e perder-se ão vinho e odres, além do mais importante: A credibilidade do fabricante, que deixa de ser empreendedor e torna-se aventureiro. E nem mesmo os profissionais do esporte podem ser chamados de aventureiros, pois para cada pódio, há muitos anos e horas, suor, e treinamento e estratégia, para cada vitória alcançada.
E com o agravatenda seguinte pergunta: É meu o modelo, porque eu desenvolvi, ou encomendei e paguei a um profissional serio, ou ganhei, ou me foi concedida autoriazão para reprodução? Não? Então eu fui na internet e copiei, simplesmente porque estava lá e "qualquer um pode copiar, sem responder, no mínimo moralmente pela falta de ética?" Nada disso? Então, o nome é outro. Se eu acho um palito de fósforo queimado dentro do terreno de alguém, e levá-lo embora sem pedir permissão do dono da casa, qual é o nome disso? E se em lugar de um palito queimado, seja um anel valioso, achado no mesmo lugar, passa a ser furto? Claro que sim, ambos o são. Não importa o valor, mas saber que aquilo que não me pertence, não tenho direito de me apropriar. Simples assim. Ladrão é ladrão!

Acreditem em mim, sou velho. Já vi côzaa...!




sábado, 27 de janeiro de 2024

O Bicho da Goiaba - A dor que adoça



Imagem: AI Bing*

"Amós respondeu: “Não sou profeta e nunca fui treinado para ser profeta. Sou apenas um boiadeiro e colhedor de figos. Mas o SENHOR me tirou de junto de meu rebanho e disse: 'Vá e profetize a meu povo, Israel".Amós 7:14-16 

Ouvi, com certa curiosidade a explicação sobre o que o texto dizia, a respeito do profeta Amós: Fazendeiro e "colhedor de figos", e pensei cá nos meus botões: "Por que o autor bíblico tem a preocupação de encaixar um fato tão insignificante na narrativa? talvez para acentuar sua pobreza? Ou dizer que o profeta tenha sido um agricultor coletor? " Não sei, isto é, não sabia. Então aprendi nessa ocasião que "colhedor de figos era uma função adequada à tarefa de "adoçar" uma espécie de figo selvagem, vendido aos pobres, ou pelos pobres.
O que acontecia era o seguinte: O coletor fazia um pequeno corte em cruz , ou um furo, na parte terminal do figo, a parte oposta ao Pedunculo, a haste que fornece nutrientes à flor, e depois disso, à fruta, até sua maturidade. Tal corte, ou furo, permitia que uma pequena mosca pousasse ali e depositasse seus ovos, e estes, ao eclodirem, geravam penas larvas que cresciam ali à volta da fruta, no espaço entre a casca e a polpa, o que acontece com outras frutas também (o afamado bicho da goiaba é um destes), fazendo com que a fruta produzisse enzimas de proteção, cheias de açúcares, indesejáveis aos invasores, e aqui não me estendo mais na explicação, já que não entendo nada de biologia ou química, mas foi isso o que ouvi. Satisfeito, segui a vida, sem me preocupar com os figos de Amós.
Anos mais tarde, havia duas goiabeiras serranas (Feijoa Selowiana), sendo uma delas plantada por mim, detro do meu terreno, e outra, muito antiga e frondosa, no terreno de um vizinho que tinha ojeriza por crianças e vizinhos, e mais ainda pela ideia de que alguém lançasse um olhar desejoso à qualquer uma das frutas de seu matagal composto de frutíferas, cujos frutos eram apreciados apenas por ele. Porém, um galho muito grande desenvolveu para o meu lado da cerca, porque era aberto e penetrava muita luz solar, o que favorecia a floração e frutificação, o que não ocorria do lado dele, uma vez que era sufocado pelas demais árvores.
A minha goiabeira produzia belas frutas, mas eram bastante ácidas. Já a do vizinho, mas dentro do meu terreno, portanto de minha propriedade o que ultrapassasse a cerca a meu favor, por serem de uma árvore mais antiga, adaptada ao solo, e sei lá por que outras razões, eram mais doces, muito mais doces.
E como sou neto de Maria Elisa, debochada que só, eu via o vizinho grunhindo palavras mescladas com baba de palheiro, algo que me parecia ser um rogo de pragas, algo assim,  e o cumprimentei. Aí peguei uma cesta e comeceu a colher goiabas, no meu lado da cerca, e como sou educado, ofereci umas pra ele, que muito pistola, duzentos por cento putaço, agradecia e saia de perto pra chorar escondido.
Deixa estar, que comedor experiente de goiabas pelos matos, e lembrando das palavras da Bíblia acerca de Amós e seus figos, pensei: "E se o mesmo acontece com as goiabas, já que aquelas que estão caídas, já tem bichos nela, quando se retira as larvas próximas à casca, aquilo que sobra por dentro, é uma polpa quase transparente, perfumada, como um gel e doce, muito doce?" E era mesmo. Passei a procurar estas goiabas dali pra frente.
Mas não termina aqui.
O mesmo, observei com as frutas machucadas que cicatrizam a parte danificada, sem estragar, percebi que tirando com cuidado aquele machucadinho, a parte mais doce da fruta é aquela que cercou a ferida, criando enzimas de proteção (essa parte eu perguntei a um biólogo, que confirmou, que as enzimas são criadas pela fruta e não pela larva). Gostei, e também adotei isso ao escolher frutas. Mas a gota d'água desse ensinamento foi quanto aprendi que devo comprar abacaxi verde, cortar a coroa, lavar bem, e emborcar a fruta dentro de um pote durante tres ou quatro dias, para que os açúcares desçam, por gravidade, disseminando-se pelo restante da fruta. Pensa num abacaxi bem doce e saudável esse.
Daí, descobri, por vivência própria também, que à medida em que as dores da vida, os tropeços e percalços em nossa vida, elas são comparáveis aos machucados da fruta, ao abacaxi emborcado, e ao bicho da goiaba. Sabendo separar a cascas dos invasores, e aproveitar a polpa, a vida torna-se muito doce.
Acontece comigo, o tempo todo.

Pacard
Escritor - Designer

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Papo de Caipira doido

Imagem IA - Bing

- Mas me diga o sinhô, se eu sô ôme de duas meias palavra!
- E me diga vosmicê se meia palavra das minha num havéra de valêr polo menas umas déiz  palavra das sua, e ainda deixo trôco pra matá sua fome!
- Minha fome é gana de estribuchá um zoiúdo de sua marca, cabra safado!
- Veiáco é munto pôco, pra lhe chamá, iscumungado!
- Bicudo das carça xuja!
- É tua mãe e teus ermãoi, xujêra! Vô te afofá o lombo!
- Pous antes eu te retáio de navaiáda, cachôrro!
- E o que foi que vosmecê respondeu?
- Nem dei pelota!
- Passar bem, cumpadi!
- Passar bem, cabôco!
- Bamo pescá treizontonte?
- Só se não chovê!
- Mas se chovê de tarde, cumpadi?
- Nóis vai de manhã, sô!
- Ara!
-Ara!
-Bão?
-Bão!
-Tão tá bão!
-E a famía como tá?
- A muié tá injuriada!
- Ah, coitada! E já benzeu?
- Bamo dispois!
- E a fiarada?
- Todos doze?
- Não! Só uns oito. os ôtro eu ispiculo na outra vortiada!
- Os cuatro mais novo, tão bão !
- E os mais véio?
- Tão bão tumém!
- Ara, sô!
- Ara!
- Eita vida boa que só!
- Ah, se miorá fica bem mió!
- Ah se fica, cumpadi!
- E as fia já casaro?
- As mais nova ô as mais véia?
- As mais veia!
- Casaro não siô!
- E as mais nova?
- Tumém não!
- A porcada tá gorda?
- Os preto ou os maiádo?
- Os maiádo.
- Tudo gordo, sim sinhô!
- E os preto?
- Esses tumém. Tudo gordo!
- São capado?
- Os gato ou os porco?
- Os porco.
- Tudo capado!
- E os gato?
- Tumém!
-Agora me vou, cumpadi!
- Vai pra adonde, cumpádi?
- Agora ou dispois?
- Agora!
- Vou sair daqui!
- E dispois?
- Dispois já vou tar longe.
-Ah bão!
-Bão memo!
- Tá achano bão que eu vá cumpadi?
- Não. Só vai tá bão dispois que se foi.
-É por ofensa ancim que se extraveia amigo!
- Extraviou um amigo, cumpadi?
- Indagorinha!
- Bamo campiá então. Foi aqui perto?
- Foi. Mas bamo campiá debaixo do poste que tá alumiado. Aqui tá escuro.
- Eita vida boa,  cumpadi!
- Eita!







quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Criar, ou não pensar? Eis a solução O labirinto existencial da Inteligência Artificial
















Imagem: IA

Criar, ou não pensar? Eis a solução

O labirinto existencial da Inteligência Artificial

Pacard - Designer - Escritor - Sujeito à revisão mecânica pela idade

Sou Designer, e sou velho, digamos, comparado à um tomate, porém, nem tanto, se ladeado com uma montanha. Mas velho o suficiente para perceber as transformações que me convocam a reagir, para não sucumbir.

De fato, no último ano, mais propriamente, no último semestre, o Tsunami Afuraconalhado* (Neologismo meu) vem varrendo todos os resquíscios da empoeirada multidão que tinha medo de pensar, e até achincalhava os pensadores, a saber, gente feito eu, que é capaz de combinar mais que três vocábulos sem tropeçar na gramática, ainda que eventualmente o faça, pois sou brasileiro, e em tal condição, é certeza de que "nóis pode, nóis fais, e nóis tá nem aí!". Então, sim, o soprador da tecnologia só não me deixa em situação vexatória, porque sou masculino aos moldes convencionais, e assim, estou protegido do efeito "Marylin Monroe", à eventualidade de ter minhas partes pudendas mostradas pelo vento traiçoeiro de algum bueiro maroto.


Voltemos às IAs, este vocábulo reduzido à duas letras, constantemente invertidas entre IA e AI, o que não altera o produto tal ordem de fatores. Pois esta mesma, achegou-se despacito como quem rouba, e instalou-se no meu Notebook (a quem os britânicos ainda insistem de chamar de "laptop"), sem pedir licença, ou talvez a tenha requerido naquele documento de 1500 páginas digitais que rolamos a página ao instalar o navegador, e quando vi, certa manhã, havia um ícone desconhecido na barra de tarefas. Foi verificar o que era, e fui comunicado que eu era um "Beta testador". Fiquei tão feliz! Eu ganhara um peixinho, talvez digital, daqueles protetores de tela, sei lá, mas não foi isso. Lembrei que "Beta" além da segunda letra do alfabeto grego, também significava que eu era uma espécie de rato de laboratório para a Máico Sófete, pois nada mais era que a primeira aparição pública do "Bing". Sério! Foi paixão à primeira vista, uma IA que faz desenhos muito menos monstruosos e borrados que o Dall-E, cujas bravatas digitais mais se parecem aqueles borrões do Salvador Dali amalgamados com Picasso, talvez numa daquelas noites de bebedeiras com seus amigos Focault e Simone Bovoá (sim, porque queles dois, mais o Paulo Neruda, faziam Paris e a Orópa tremerem, barbaridade). Enfim, era a IA, esta dizinfiliz, que passou a me fazer perguntas, e o palhaço aqui, gratuitamente, passou a adestrar o bichinho cibernético (será que só eu ainda falo "cibernético?), pra chamar de "meu"..Ah, como sou besta! Passei de graça me conhecimento das coisas da vida para um bendito robô que se faz de tonto pra ganhar café preto, e vai levando meu conhecimento  criativo, e me retribuindo com uns regalos muito bem feitos de suas ilustrações, como uma criança, que desenha bem mais que gente de palitinhos, e diz:"Olha o que eu fiz!" Mentira!  Quem fez ainda fui eu, que pelo uso da palavra, talvez até seja isso um dom, dei as ordens corretas para que fosse transformado em "prompt", em "sintaxes", e corresse a coletar fragmentos de imagens para montar a minha própria aberração.



sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Apresentação do projeto - Oportunidade única para não errar

Imagem:IA
 Pacard (Designer, Consultor, Escritor*)

Qualquer apresentação pressupõe-se única, única oportunidade de vender sua ideia, seu conceito, sua confiabilidade, e seu trabalho. Então, como um agricultor conhece a terra, seus nutrientes, o clima, a topografia, a densidade pluviométrica, e só depois disso decide o que vai plantar, quanto tempo demora até colher, que cuidados deve ter com as pragas e ervas daninhas ao longo do processo, também o designer jamais pode apresentar-se ao cliente no pitch, sem dominar todos os aspectos daquilo que vai vender.
O cliente não tem obrigação de dar respostas, e muitas vezes nem mesmo sabe fazer as perguntas adequadas à sua plena compreensão do que está recebendo, assim, cabe à equipe construir essa confiança, nesta única oportunidade que deve juntar expectativa, entusisasmo, surpresa, estupefação, e alívio.




O Consultor - Amado, odiado, temido, ou desejado?


Imagem IA

Pacard (Designer, Escritor, Consultor, e com nojinho de fanfarrões*)

Alguém perguntou à Maquiavel, autor do "Príncipe" (e não do Pequeno Príncipe, embora o jovem Lorenzo de Medici não  fosse lá muito grande nem idoso, quando seu principesco saco já tenha sido puxado pelo bajulador fiorentino), o que seria desejável ao governante, se devesse ser amado ou odiado - ao que respondeu: O melhor é ser temido!

Eu traduziria esse "temido"m mais apropriado aos tempos pós medievais de Maquiavel, à expressão mais atualizada de : Respeitado! Fica mais palatável. Mas como se conquista respeito em um ambiente nítidamente hostil, que é uma empresa em estado crítico, que é o que acontece quando chamam a criatura sinistra do Consultor de Empresas, cuja chegada faz arrepiar a pelagem da nuca de qualquer contraventor dentre os colaboradores de uma gestão que sentiu o vento sul adentrar pelos fundilhos, e por conveniência, ou desespero,, corre a contratar o consultor. (importante saber que consultorias também, e preferencialmente são contratadas quando a empresa deseja entrar em expansão, e sente-se mais segura em contar com um palpiteiro pago para poder analisar suas próprias decisões, considerando que um consultor NUNCA toma decisão. Ele apenas levanta as deficiencias, e as virtudes, e as expões para análise do cliente e sua equipe.

Cada consultor tem sua demanda específica, condicionada à sua expertise, ao que ele realmente entende. E sim, a lenda é que o consultor entende do que está falando, apesar da velha piada do consultor que passeando com sua BMW, vindo de um atendimento, passa por uma fazenda com milhares de ovelhas pastando no campo. Decidido a faturar mais algum, o consultor para o carro, e se dirige ao pastor do rebanho, que fuma seu cachimbo de raiz de roseira, e sem se apresentar, faz um desafio ao pastor:
- Se eu acertar quantos animais estão em seu rebanho, o senhor permite que eu fique com um pra mim?

O pastor consentiu, e então o especialista puxou um notebook de última geração, esticou uma anteninha parabólica, soltou um drone, recebeu os dados, abriu uma planilha de excel, mais um software de Fibonacci, fez cálculos, elaborou gráficos, e em poucos minutos, puxou o resultado:
- Esta fazenda tem exatamente 6574 animais!
Maravilhado, o fazendeiro exclamou, tirando o cachimbo da boca torta e disse:
- Omessa, siô! Num é que ocê acertou na lata! Pois é exatamente esse mesmo o total das minhas ovelhas!
- Posso pegar a minha ovelha então?
- Mas claro! Promessa é dívida!
E assim o consultor passou a mão num bicho peludo e enfiou no porta-malas da BMW.
O fazendeiro então, perguntou:
- Antes que ocê vá embora, posso ter uma oportunidade de resgatar o meu bichinho?
- Claro - disse o consultor! O que propõe?
- Se eu acertar a sua profissão, o senhor me devolve o bicho?
- Trato feito!
- O senhor é consultor!
-Uau! Exatamente isso! Mas o que o levou a deduzir tão rápido?
- Três pistas que ocê deixou:
1 - Apareceu sem ser chamado
2 - Me falou o que eu já sabia
3 - Não entende nada do meu negócio, pois você pensou que pegou uma ovelha, mas pegou foi o meu cachorro!


Claro que é uma piada, embora hajam consultores com menos tenacidade que outros, é natural, como em qualquer atividade. Mas o conceito pré estabelecido do consultor é que é alguém feroz, decidido a tornar a vida, tanto do cliente, quanto dos colaboradores, um cárcere mental, sim,, muitos pensam assim. E sim, alguns estão certos, pois existem mesmo carrascos com um notebook na mochila, que amarram a cara, se intrometem no escritório, escolhem um canto e se instalam lá, para que sejam vistos por todos e para que todos tremam ao vê-lo.

Bem, eu sou consultor, e sim, vi muita gente tremendo ao me ver passar, e sim, eu sabia disso, então, para minha própria defesa, e para que o tratamento fosse o menos doloroso possível, jamais tentei mudar a cabeça da equipe ou do cliente, mas a minha própria mentalidade, sem corromper a integridade do meu trabalho nem a precisão dos meus relatórios. 

Aprendi que o consultor pode tomar todas as atitudes, até mesmo drásticas, no relatório de avaliação, e nas soluções propostas, e ainda assim deixar a empresa no prazo proposto e nunca antes, saindo no atropelo. Assim, a relação entre consultor e cliente (e o chão de fábrica é a ramificação sensível deste cliente), deve estabelecer o ponto de virada da empresa, a partir do reconhecimento das deficiências de forma natural e sensível,e os ajustes para o novo formato da jornada, proposto pelo consultor, ajustado pela equipe interna, e ratificado pelo contratante.
Quando falo em consultoria, sempre vem à mente o administrativo, RH, comercial, ou financeiro, mas pode ser em qualquer setor. O meu era gestão do design, que é muito delicado, porque envolve fragmentos de todas as áreas vivas da empresa, e um único desagradado na equipe local, pode gerar a ruptura sensível do projeto e consequente desabamento da própria empresa.
Assim, em resposta ao título, Maquiavel estava certo para o seu tempo, mas hoje, ser amado e respeitado, ainda são a melhor escolha tecnica para um resultado satisfatório do trabalho.




quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O que tens à mão?


Imagem IA

Pacard (Escritor, Designer*)

Moisés era um príncipe banido havia cerca de quarenta anos. Isso parece ser tanto tempo, que podemos imaginar que todas as suas lembranças tenham sido apagadas da memória. Ledo engano! Lembro, como se fosse ontem, o que aconteceu há quarenta, cinquenta, e até sessenta anos atrás em minha vida, na vida da minha família, na minha comunidade, e até no mundo. Então, não, quarenta anos é como a manhã de ontem que ainda brilha viva nas nossas lembranças, ainda mais se você for velho, aí sim, vai lembrar do pito que levou por se pendurar no abacateiro da lavoura do vizinho.

E nestas lembranças, mais doces do que tristes, porque as tristes, sim, sublimamos para não sofrer, e então lembro da pobreza, e na pobreza, os brinquedos e as brincadeiras que precisávamos inventar para avançar na algazarra infantil. Cavar nos barrancos para construir uma caverninha, conseguir um pedaço de câmara de pneu de bicicleta para fazer uma funda (estilingue), uma tampa velha de panela, para com uma varinha furada na ponta e um pedacinho de arame em formato de ganho,  conduzir a tampa pelas vielas, ou uma bola de meia e trapos, para jogar uma pelada no fim da tarde, no terreno poeirento ou barrento, depois da chuva de verão, colher araçás, juntar pinhão, procurar uma goiabeira carregada, ou dar a sorte de encontrar uma cerejeira do mato, uma guabirobeira, um córrego limpinho serpenteando uma encosta, coisas assim, sem custo calculável, mas de valor imensurável, era isso que tínhamos à mão, nos dias de antanho, nas nossas saudosas priscas eras da infância.

E hoje, temos o que,para contornarmos o frio das relações em primaveras perfumadas? Temos boca para sorrir, olhos para fitar, a mente para refletir, mãos para levar os braços ao abraço, pés que nos conduzem onde possa nosso coração mandar, e a determinação de fazer e agir, quando nossa vontade pede exatamente o contrário.

Temos à mão, como o que tenho nesse momento, um sabiá que canta sem dizer o porquê, o vento que embala as árvores sem pedir licença, a porta que range, anunciando que alguém a abriu, as costas que doem, porque carregaram a vida nelas, as pernas frágeis, porque percorreram o mundo muitas vezes sempre nos mesmos caminhos, e a esperança firmada nas lembranças dos dias que sucederam noites de angústia, para que tivéssemos a certeza de noites que são temporárias, e que apenas a eternidade poderá ser contada pelo afiar do bico de um beija-flor na rocha de diamante, cujo tamanho é de mil vezes sua própria largura, mil vezes a sua altura, e mil vezes o seu comprimento, e que ao gastar todo o diamante de tanto afiar o bico, terá passado a primeira fração de segundo da eternidade. Eis o que temos. Sabendo usar, não irá faltar.



No princípio era O Verbo, até que a IA chegou ...


Pacard (Escritor, Designer, idoso, e metido a usar a IA sempre que lhe der na veneta*)
PS* Todas as imagens foram geradas, MENOS UMA! Descubra qual é!

No princípio era O Verbo, até que a IA chegou, e tornou essa máxima em materialidade diante da tão temida Inteligência Artificial. 

Tenho lido e ouvido de velhos profissionais, tipo eu assim, que a IA serve apenas, para macróbios feito nós, como meio de diversão. Sim, isto é parte da verdade, mas a outra parte está em que nos divertimos ainda mais observando o pavor de quem desconhece a essência da humanidade: A criatividade! E não, a IA não é, nunca foi, e nunca será criativa, e para quem já conhece um pouquinho do modo de funcionamento desta geringonça digital, vai entender que tanto no caso do desenho, das imagens, quanto dos textos "espertos", a IA nada mais é do que algo que lembra aquelas máquinas de contar dinheiro, que nós, designers precisamos usar para contar as fortunas que recebemos. Elas contam cédula por cédula, mas o fazem de um jeito tão veloz, que nos parece algo maravilhoso. Não é.É apenas veloz. Nada mais. E assim também é a IA, que substitui a antiga prática do ritual de sair de casa, ir até à livraria, ensebar volumes e volumes, ler a orelha de cada um, discutir sobre o conteúdo, e finalmente comprar, daí retornar à casa, deixá-lo sobre a mesa, cuidar dos afazeres, e em algum momento do dia, confortavelmente acomodado, com uma xícara de chá e talvez alguns generosos biscoitos para tungar no chá, começar a saborear cada palavra do livro, cerrar os olhos e olhar em direção ao teto ou à janela, refletir dobre as palavras lidas, e retornar ao livro.

Bem, este gesto repete-se centenas, milhares de vezes, e desta forma, as prateleiras e mesas vão se abarrotando de livros, páginas, letras e palavras, até quem em dado momento, vem à baila um assunto e, rapidamente percorrem-se páginas aqui e ali, livros aqui e ali, rascunha-se aqui e acolá, e formulam se as soluções, muitas vezes chamadas de novas ideias, o que não precisam ser necessariamente novas, e nem ideias, senão compilados de outros conhecimentos anteriores, para satisfazer a curiosidade pessoal, ou para compartilhar em aulas ou palestras com terceiros.


Bem, a IA faz exatamente a mesma coisa, em dois ou três segundos, vasculhando e varrendo centenas de bilhões de páginas pulverivadas em centenas de idiomas, pela imensurável rede neural de informações dispersas pelas nuvens digitais, e as entrega na espantosa velocidade da luz, sob a aparente forma de criação, o que não é.


Assim, sem que passe a errônea ideia de que o título desta reflexão possa parecer um trocadilho blasfemo, absolutamente não o é, posto que evoco Gênesis e o Evangelho de João, onde afirma que "No princípio Era A Palavra, O Verbo, O Pensamento, a Ação", e a partir disso, tudo o que pode ser visto, ouvido, saboreado, sentido, aspirado, pensado, nasceu desta combinação de sons e vocábulos, que obrigam então o usuário das IAs a voltarem ao estudo da línguagem, seja nativa ou anglo-saxônica, com a qual ainda se obtém melhores resultados na formação do que desejamos, nas plataformas de desenho e imagens por Inteligência Artificial.

O Influencer de si mesmo

Imagem: Bing

Vivemos em uma sociedade, segundo Baumann, "Líquida", e eu sigo além: Líquida, ansiosa,  insatisfeita, e adormecida. Vivemos a sociedade em que a aceitação do outro é mais importante que o resultado da ação e do pensamento que  possa ser útil para transformar a si próprio. 

Vivemos o tempo em que aquilo que o outro pensa de mim vale mais do que aquilo que eu penso e falo, ainda que eu não faça a menor ideia de quem seja o outro.

Mais que influenciar o outro, seja ele único, ou uma multidão, a mais importante influência é a de mim mesmo, aquela que tem valor, pois de que adianta conquistar o mundo inteiro, e me perder no vazio da insiginificância existencial?

Por esse motivo, tantos influenciadores famosos se tornam fumaça, assim que desligam a câmera.

Pacard (Escritor)*


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Entre Sun Tzu e A Rainha Louca



Entre Sun Tzu e A Rainha Louca (Liderança e Poder)

Pacard (Escritor)*

Confesso que não me debrucei sobre a biografia da rainha louca (ops, isso não pode dizer. Corrijo então: a soberana com distúrbios de personalidade megalomaníaco-psicopata decapitadora contumaz) da fábula "Alice no país das Maravilhas", de Lewis Carrol, então o máximo que sei é o que todos sabem: por qualquer dá cá uma palha, a ordem do verdugo era meter o fio na jugular dos pobres condenados. E por que ela fazia isso? Ora, fazia porque era a rainha, e alem de rainha, era lou...aquilo que eu descrevi entre parênteses ali atrás, e para pessoas dessa condição, não é necessário motivo para bravatas: basta saber que são o poder, e fim de papo.

Falemos então de Sun Tzu, o lendário general chinês, que escreveu com gravetinho de bambu, sobre papel de arroz, o livrinho de bolso:"A arte da guerra", cujas lições em tópicos objetivos, deixa bastante claro qual é o papel do líder, que é sim, mandar, ordenar, corrigir, disciplinar,e até mesmo exercer a prazerosa arte de cortar ca...ah, algum menor pode ler isso, então, fica subentendido que o líder em tal posição, corta o que mais lhe dá prazer. Uns cortam na chegada, pra tocar terror no grupo, escolhendo um voluntário de sua escolha, e de cara mete o sarrafo na pessoa, sob o olhar petrificado dos demais, e logo a seguir, oferecer biscoitos e convida-os a tomarem assento (aqui ele aplica métodos de Maquiavel, tenho que dizer). Mas, é sobre Sun Tzu, e não sobre Maquiavel que quero falar, então prossigamos.

Resumindo o treinamento, Sun Tzu dizia que o líder em primeiro lugar, capacita os soldados. E, em seguida, testa o aprendizado, e corrige as falhas. Novamente ensina onde estejam falhos, e testa novamente, e por fim, dá uma ordem. E caso a ordem não seja cumprida adequadamente, ele primeiro, avalia se o método que empregou para o ensinamento foi correto, se foi eficiente, e caso verifique, com honestidade, que faltou ensinar o pulo do gato, considera como seu o erro,e volta ao treinamento. E caso o soldado cometa novo erro, verifica se o soldado entendeu corretamente o comando. E se não entendeu, de volta à fonoaudióloga para ajustar o verbo a fim de que sintonizasse com o interlocutor. Então, com os walkie-talkie funcionando corretamente, nova ordem é dada, e ainda assim, o soldado erra, então novamente avalia se aquele soldado foi a escolha adequada para aquela posição, pois nem todo arqueiro precisa ser um bom espadachim. E sucessivamente, ajuste por ajuste, compreende que tudo foi feito corretamente e no tempo necessário, e que o soldado não cumpre a ordem é por desleixo mesmo, bem, nesse caso, tirem as crianças da sala, porque a chinela de bambu vai comer o couro do displicente.

Assim, entre a rainha do reino de Alice, que sai dando botinada de acordo com as fases da lua e seu mau humor, e um general, que gosta de se chamar de líder, a diferença está na percepção de que assim como o soldado precisa do general, o general precisa do soldado para ratificar sua glória, e este sabe que não pode cortar todas as cabeas o tempo inteiro, pois em algum momento, a vida e o mercado, farão o mesmo com ele, sem segunda chance de cometer um primeiro erro novamente.


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O Fedor de cada Prifume - Causos medonhos do Apolônio Lacerda


Pous Apolônio andou de namorico, lá pela vórta dos dizaceis, com uma prenda muy ventana, por nome Darvenice, que era enteada do Maroto Bola, o capatais da pedreira, enquanto foi ajuntado com Juventina Serena, fia do falcido Agenôri, aquele mêmo que pegaram campiando as nuvía do Isabelão.

A chinoca apreceiava dar umas vortiada pra longe, e depois vortava gavando bola, que conheceu esse e aquele, pessoas cunhicida das novela do rádio, mas dizendo ancim cumparaçã, ela queimava campo, pous nem na cidade tinha ido, porque andava de rodopio nas bailanta da costa do Água Doce, que devorteia o Bassorão.

Foi numa dessas, que, pous não é que ela comprou um biête de loteria, e acarditem, ela venceu a bolada, e venceu solita. Um mistério dum dinherão, barbaridade. E o que foi a premêra côza que engenhô a maleva? Viajá! Viajá pra capital? Não!  Pros estranjêro, bem longe, foi de navio. Agora, me cuestiône se ela convidou o cambicho do Apolônio, pra levá junto? Pois convidô foi nada! Foi solita!

Mâs, oiça o que les digo: Aqui se fáis, aqui se paga, e uns seis meis dispôs ela tava de vórta, co bucho empanzinado de goloseimas que comeu, e um rabo de prefume daqui inté lá adiante, de tão forte que tava.

Com ar superior e desdenhando, se esfrega em Apolônio, que fais beiço de muxôxo, e ela arremata:

- Sintiu, gostô do xêro?

Apolônio apenas faz um abano diante das fuça, como se espantasse fedor de chiqueiro.

- Que xêro é êsse?

- Sintiu? NotÔ? É prifume francêis (esticou o beiço e deu um assobiu pra dizê "francêis!") Comprei na Nóviórque! Paguei mir dólar ô tubô!

Quando foi dalí à pôco, sobe pôlo ar, um futum daqueles aliviado pôlo fígo, empesteando o lugar todinho. E ela arregalou ozóio e priguntô:

- Quê xêro é Ésse?

Apolônio arrepara no momento certinho de carcá mardade e responde, ancim na fuça dela:

- Sintíu? Notô? É Fejão "Tio João", da budéga do Porongo! Oito conto Ô quilo!

- Mas te arranca, que tão pegando, vou te carçá no chumbo, jaguara, bocaberta, peidorrêro das carça xuja! - Berrou Darvenice, dando de mão num relho que ficava dipindurado na soleira da janela. E deitou laço no lombo do debochado, que saiu riscando, e se perdeu coxilha afora, dando gaitada!




Apolônio Lacerda é um personagem fictício, criado por Pacard*


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domingo, 10 de setembro de 2023

A Revolução das Cebolas no quintal de Dona Izartina

Como sou desenhista vadio, a imagem é de IA*

Pois embora pareça uma fábula, um apólogo, quase não é, senão pelo fato de as protagonistas desse causo sejam cebolas, mas não cebolinhas vulgares, rafoagens, não mesmo. Trata-se da fina estirpe dos suculentos bulbos odoríferos e lacrimejadores que se avizinham à outros no quintal.

Se fôssemos levar à questão política, e substituírmos pessoas por vegetais, legumes, frutas, teríamos uma monarquia estabelecida, tal como: O rei da horta é o Rei Polho. Seus súditos seriam o Seu Bôla e o Seu nôra. Mas não pensem que a horta seja um lugar tacanho, monótono, medíocre, como uma aula de geografia na primeira série do ginásio, porque não é. Horta é lugar de  juventude, e sem discriminação, porque hortaliça boa é hortaliça fresca, e é na horta que acontece todo o agito, porque tem até uma banda de roque, do tipo que quando rala faz: roque, roque, roque. Esta banda é  "Os Bettle Rabas". 

Mas é claro que isso é uma brincadeira, haja vista que a tal hortinha pertence à Dona Izartina, que ouve a agitação na lavourinha, estica o pescoço por cima na cancela fora de esquadro, e pergunta: "Couve?" (Hoje estou insuportável, expulso da quinta série, francamente. Mas quem nunca?)

Pois Dona Izartina mesma é que cria estes neologismos para "interter" os netos, que basta-lhes ouvir os causos da vovó Izartina, que proseia e conta estórias enquanto mexe uma bacia de massa para bolinhos bem açucarados para acompanhar um buião de leite gordo direto do têto da vaca "Rufina", pro caneco dos piás.

Dona Izartina desconhece a existência de Games, Inteligência Artificial, Internet, ou dicotomia existencial ideológica que açoda os desânimos institucionalizados da ingovernância do mundo, cá e lá, seja onde for. Dona Izartina desconhece as certezas da teologia das probabilidades, as inconsistências hermenêuticas da escalotologia, e os subterfúgios peremptórios da dialética. Dona Izartina sabe mesmo é amassar um pão, cozer um tacho de marmelada, e preparar um refogado de couve com farinha de "míu" pra móde acompanhar um caneco de café com a tal mistura.

Dona Izartina não tem tempo para pensar em revolução, haja vista que a única revolução que conhece, e não apreceia nadica, é quando come argum mexido, que causa uma revolução no bucho, acometendo a anciã de uma dôri no istrômo, que bate na pleura, devorteia os bofe e sobre queimando pras venta. Fora isso, o entardecer avermelhado avisa Dona Izartina que chegou a hora da reza, e de apagar o candiêro de corozena, porque o sono vem chegando.

Mas e as cebolas revolucionárias, o que tem a ver com isso tudo?

Nada! Eu só precisava de um título pra tocar terror e chamar atenção do leitor, que não tem obrigação nenhuma de ler o que eu escrevo, e se leu e não gostou, pois então desleia e vá plantar favas. Mas antes, precisa carpir um lote.

Pacard - Escritor, Designer, Debochado e Abestado*


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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Quando o problema é mais píxel do que físico, nas couves de Dona Izartina.


Imagem: Dall-e2

Quando o problema é mais píxel do que físico, nas couves de Dona Izartina.


O grande tormento de todas as gerações que alcançam a idade do embranquecimento, a idade das "cãs", sempre foi a mudança dos costumes.

Sempre que alguém, geralmente muito mais jovem, surgia com uma novidade, apareciam as contradições, e se esta novidade estivesse aliada à quebra de paradigmas, nos soturnos tempos das trevas, chamados de "Idade Média", eram imediatamente associados ao demônio.

Os anos passaram, o mundo continuou se renovando, e os demônios continuaram os mesmos, mas, o que não foi percebido é que os demônios não habitavam nas inovações, mas na cabeça tacanha dos que as condenavam, pelo simples fato de não serem capazes de aceitar um novo caminho para velhas jornadas.

Sempre, desde que foi criado, o Ser Humano, tendo sido criado para ser criativo, assim como Seu Criador, criou, inovou, alterou o curso das possibilidades e inventou as probabilidades por intuição, o que foi institucionalizado assim que nasceu a filosofia. 

Ao longo dos milênios, depois reduzido a séculos, décadas, anos, e no mundo atual, horas e dias, o avanço do conhecimento encontra atabalhoadas barreiras dos velhos conceitos e preconceitos de que toda inovação será maléfica, e que a solução é correr para morar nos matos, vivendo de forma primitiva, construindo casas de barro e cáscas de árvores, e abatendo seu alimento com armadilhas primitivas. E como tudo o que cria adeptos, em pouco tempo, torna-se uma ideologia, e de ideologia para seita religiosa, é um passo curto e inesperado.

O Píxel veio para se perpetuar, isto é, durar até a chagada, em breve, do computador quântico (este é quântico mesmo, e não tem nenhuma relação com "coach quântico", ou "Física quântica", que é na verdade Mecânica quântica), posto que, até onde sei, não usará mais o conceito dualista de "sim e não", ou "ligado e desligado", ou ainda "nós e eles", "o amor e o ódio", e coisas dessa natureza, o que torna incrível saber que quem põe esses nomes absurdos nas coisas corriqueiras, não entenda patavina do que está falando. Apenas achou sonora a palavra, e assim como dá nome pra filho, pela sonoridade da coisa, também atribui títulos e codinomes à efeitos ocasionais e sem sentido algum.

Então, como dizia o poeta grego, cujo nome eu nunca soube: "Que bosta!" Não falo do tipo de estrume que se põe nos canteiros para engordar as couves de Dona Izartina, mas daquela menção injuriosa atribuída à desvios de curso nas tábula do conhecimento. Mas, enquanto não vem o quântico de verdade, permaneçamos nos Píxeis, o amontoado de Píxel atrás de Píxel, que permita a redação desse ensaio sem o nostálgico tatalar das teclas da velha e boa Lexicon que usei por saudosos tempos. O Píxel aqui é o pavor dos incautos, e a tábua de salvação dos que romperam o cordão umbilical do passado, e se lançam de mente e imaginação no metaverso dos vazios piscantes.

A eficácia do Píxel está na preservação mecânica dos usuários, que investem mais em cadeiras giratórias do que em sementes confiáveis, porque a seara sempre presente dos "fast foods" não exige esforço braçal para a recompensa acompanhada de bebidas pretas, amarelas, verdes, ou incolores, açucaradas e gaseificadas, sem as quais, seria indigesto manipular os píxeis, para que estem manipulem os instrumentos físicos, criados para nos servir. Como por exemplo, entregar os lipidios e glicídeos ainda quentinhos,encomendados pelo cantarolar das teclas físicas ou virtuais na telinha pixelada que domina as novas gerações.


Pacard - Escritor, Artista Plástico - Fã da Dona Izartina

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quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A escalada da guerra, e as couves da Dona Izartina

Imagem: Canal Futura - Internet

Pois Dona Izartina mora lá pelos cafundós do mundo, o lugar mais próximo do antigo paraíso perdido, que se possa imaginar, e nem adianta procurar no Google, porque não tem como encontrar. O ranchinho abençoado de Dona Izartina fica pra riba da Pinguela do Graúna, a duas léguas dispois do Umbuzeiro que descadeirou o  Ariovaldo. Bem depois, é adonde fica, segundo ela. Mas, pra que saber adonde fica o ranchinho de barro e taquarinha, coberto de Sapé, se não pensa em dezenvorvê dous dedinho de prosa enquanto beberica um café com mistura, tudo coído na lavourinha da anciã? De todo modo, falarei sobre a guerra, e só bem dispois encaixo Dona Izartina nesta prosa, pois não?

Leio que os Estados Unidos estão investindo uma cifra que nem cabe numa linha, tantos são os zeros consumidos, em Inteligência Artificial - IA, ou AI, como tanto gostam de pronunciar, e fico matutando, se não serão estes os tais AIS do relato de Apocalipse? Talvez não pelo trocadilho, mas sim pelo conteúdo, sim, penso que estão no pacote das dores. Leio que também a Coréia do Sul, está investindo 900 milhões de dólares também, no mesmo tema. IA, Ai, aiaiai... Tudo isso pra ser usado como? Recursos militares, arma de guerra, coisa pra comandar Drones, Mísseis, Pulgas adestradas que enlouqueceriam a bicharada, os soldados, e até o governo chinês.

E não há segredo nenhum disso não, pois se eu, que sou pouco mais letrado do que Dona Izartina, sei, quanto mais os muito bem informados espiões inimigos a quem querem os gringos tocarem terror. Então, se a coisa tá feia lá, imagina só aqui, onde somos uma comunidade superlotada de Donas Izartinas, no quesito tecnologia, potencial militar, e outras barbaridades que fazem barulho, roncam motores, e pisoteiam nas lavourinha de couves de Dona Izartina.

O quanto sei é que me sinto meio, meio não, muito Seu Izartino, quando tento equacionar as pendengas de cada dia, os leõezinhos baios que tenho que tocar à vassourada das minhas pernas diariamente, e sou bombardeado com informações que só fazem por aumentar minha eventual, mas ascendente gastrite, e ansiedade adventícia, que as notícias diárias, que eu faço questão de não ver, mas sempre escapam aqui e ali e nos esbofeteiam com gana por estragar nosso dia e minar nossas esperanças.

Pois bem, ainda assim, sou grato pela parescença que tenho com Dona Izartina, que sentindo-se abençoada, planta suas couves, seu pezinho de Bergamota, as cebolinhas e a Sálvia pra temperar o franguinho (ah, esqueci de dizer, que Dona Izartina não é vegana, e nem nunca ouviu falar disso, e talvez nem tenha tempo de ouvir, porque os AIs são inteligentes apenas para seus operadores, mas são cegos e burros, sem saber onde pisoteiam, e para um robô comandado por AI não sabe diferenciar um pé de couve do capim que pisoteia em busca de alvos por seu Infravermelho.

Dona Izartina, assim me parece direito pensar, estará entre as últimas a saber que nem tudo o que voa e faz barulho é pomba nem urubu. E que a cagada de um desses barulhentinhos voadores, faz um estrago bem maior, nas couves de Dona Izartina, quando chegar a hora, que a meu ver,a última badalada pro gongo do carrilhão na parede de Dona Izartina já está chegando ao fim.


PS:Por não encontrar um retrato de Dona Izartina, que é uma personagem fictícia da minha cachola tosca, encontrei este pequeno vídeo, maravilhoso, da Dona Mariquinha, que é Real. Espero que não deem strike no video.



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quarta-feira, 24 de maio de 2023

O Homem que Vendia Solidão













O homem que vendia solidão

Solidão? - Perguntou, ensimesmado o caixeiro da loja de roupas, que recebeu uma filipeta, um panfletinho em preto e branco, anunciando a venda de nada mais, nada menos que "solidão". Isso mesmo, essa mesmo que o leitor está pensando aí.

- Mas e alguém compra isso?

- Evidentemente que sim" - Respondeu o filólogo, que oferecia solidão em promoção. Infelizmente, apenas uma por freguês, pois como se trata de solidão, não há um coletivo. Por acaso você sabe qual é o coletivo de solidão?

- Creio que seja "multidão"! - Respondeu o caixeiro, meio desconfiado de que talvez fosse uma pegadinha.

- Pois aí que está" Isso mesmo. Multidão. Ocorre que multidão é algo que descaracteriza a pessoa, compreende? Qualquer um na multidão, desaparece completamente, e assim, fica pior que antes.

- Nunca havia pensado a respeito disso! Respondeu, pensativo o caixeiro. E como funciona isso?

- Ah, não é tão simples, mas é um recurso para que o indivíduo se torne novamente um indivíduo, e não uma estatística, um número, uma sombra. A coisa funciona assim: Nesse tempo em que vivemos, onde cada louco contamina outro doido com sua loucura, fazendo com que dois loucos multipliquem seus disparates e desta forma, teremos uma multidão de loucos. Assim como acontece em uma pandemia, por exemplo. Um louco avisa o outro, e ambos se enroscam na loucura coletiva, e tornam-se alvos, presas fácies dos dominadores, que capturam doidos com redes, sabe. Redes de mentiras, rede de intrigas, rede de fofocas, redes e mais redes, até que estejam todos dominados, e por estarem em bandos, perdem sua individualidade, não são mais ninguém, ainda que amontoados com outros milhares de ninguéns. Compreende?

- Não!

Veja bem, vou dar um exemplo: Se você caminha entre muitas pessoas, e se todas elas falarem ao mesmo tempo, você conseguirá entender o que falam?

- Pois então! Aqui está a chave da questão. As pessoas precisam ouvirem suas próprias vozes, ouvirem seus nomes, conversarem com quem as ouça, e ninguém melhor que nós mesmos para ouvirmos o que dizemos. Assim, se você for capaz de caminhar sozinho, ainda que na multidão, você voltará a ser você e mais ninguém.

- Mas e por que as pessoas não fazem isso?

- Porque perdem suas vontades, pelo medo, pela falta de esperança, pelo exagero de informações que receberam, e saturaram a credibilidade em tudo. Pois é aqui que eu entro, e vendo para elas o meu projeto de "Solidão Responsável!"

- E como funciona:

- Vendo à você a pergunta "coringa", para todas as respostas, que é uma pergunta padrão, capaz de afastar as pessoas negativas de sua presença, e assim, você tem possibilidade de caminhar livre por entre elas, sorrindo, enquanto choram, sereno, enquanto gritam, altivas, enquanto se dobram ao desânimo.

- E tem garantia isso?

- satisfação garantida, ou recebo em dobro o que você pagou, em espécie.

- Não estou precisando ainda, mas por favor, embrulha pra viagem, pois vou ligar a tevê, e posso precisar disso logo, logo.

- Pois não! Débito ou crédito?

- Faz no carnê?

- Infelizmente não. Carnê pressupõe um monte de parcelas, e isso descaracteriza o negócio. Solidão é tudo, é o nosso lema. Vai querer uma sacolinha?

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Matutações sobre o Mate Amargo


Pois não sou de me gabar, porém, certos feitos devem ser enunciados para recuerdos da posteridade, e aqui testemunho da qualidade material de um bem cuáje espiritual, sem pender pro fanatismo, que é o meu apetrecho de matear, a minha cuia feita de porongo de Canela Sassafrás, feita de um toco retirado da figueira milenar de adonde foi enforcado o glorioso jeneral Bento Gonçalves, em Ouro Preto do Passa Quatro, perto de Taquari.

Matear é um ato solitário que deve ser feito em pixurú, pra não perder a mão, e sempre seguindo o protocolo de jamais mexer na bomba, nem entregar a cuia pro cevador sem roncar tres vezes.

Entregar a cuia com a mão errada também é um sacrilégio, punível com chá de umbú. Você pode, ao tomar o mate, usar a mão direita, a esquerda ou qualquer outra, mas só não pode pegar e nem devolver com a mão errada, pois a certa é a direita mesmo.

Toma-se o mate apenas em duas ocasiões nessa vida: Quando chove e quando não chove! O resto do tempo a gente pode ir se intertendo com uma matezito aqui e outro ali, solito ou num circunlóquio festivo. Sem mistura, ou acompanhado de um naco de charque, uma costela gorda passada no pirão, ou uma bolacha, que pode ser pintada ou não.

Todo vivente, toda viventa, e todo vivento precisa ter na partelêra, polo menas dois pacotes de erva da boa, para oferecer às visitas que chegam, ou matear em homenagem às visitas que não aparecem. É um jesto de munto respeito, além de ser lôco de especial matear, seja solito ou acompanhadito.

O mate amargo deve ser tratado cuáje como uma pessoa, pois quando ninguém mais quer prosear com o vivente (vivento ou viventa), o mate tá ali, solidário, quentinho, amarguito, pronto pra ser sorvido, e pra matear, não se requer muita prática (preparar o mate já são outros quinhentos mirréis) nem habilidade espacial, senão apenas esticar o beiço, fazer bico, como os franceses, e beijar a bomba. Só não pode grunhir de sastefassão, pois aí fica parecendo côsa deferente.
Mas AHHH LA FRESCAAA!

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Velhos guardam coisas...


Velhos guardam coisas...
Pacard (Escritor, e velho)

Num dia desses, assisti um filme, do qual gostei imensamente, onde dois gigantes da dramaturgia, Olivia Colman (A Favorita, Filha Perdida, e outros), e Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes, Um crime de mestre, etc), vencedores de Oscars, emprestam seus talentos em um quase monólogo, de ambos, em que a atenção do espectador não perde um único movimento ou frase dos protagonistas, ainda que todos os cenários sejam sutilmente trocados ao longo do enredo, onde o roteirista consegue, com maestria, mostrar os últimos momentos da evolução da senilidade de um personagem tão conhecido de quase todas as famílias deste mundo: o idoso!

Talvez porque eu também esteja caminhando nessa senda da idade que me abraça com ansiedade insaciável, e que começo a perceber em mim mesmo manias e ranzices (existe esta palavra?), que passo a aceitá-las com certa naturalidade, e até me divirto com estes lapsos de confronto entre a idade madura e aquela idade em que apesar de ouvir ainda muito bem, bem até demais, ouvimos coisas que gostaríamos de não tê-las ouvido, seria melhor, mas a vida é a visa e é assim que é. Por exemplo: "Não vai faltar muito para que o caminhão que recolhe entulhos passe aqui para levar essas tralhas, e se descuidar, te leva junto!" É claro que estou usando uma metáfora e generalizando, pois eu não tenho nenhuma preocupação com o caminhão do entulho, porque conheço o rapaz e posso entrar em acordo com ele se isso acontecer. Mas também é certo que tenho minha caixinha com parafusos de todos os tamanhos, roscas, e bitolas, e acreditem: Com frequência tenho que dar um pulinho na loja para comprar outro tamanho que é indispensável para consertar aquele objeto que seria descartado como inútil, quando apenas o que faltava era aquele parafusinho e uma ajeitadinha aqui e outra ali para economizar boa parte do meu parco salário de aposentado.

Os velhos guardam coisas, porque ao longo da vida, muitas coisas faltaram nos momentos mais inoportunos, e assim, adquiriam o hábito de não jogar fora aquilo que não esteja totalmente inutilizado para consertar outra coisinha aqui e ali. Os velhos guardam memórias que se acumulam, porque não há mais quem as queira consumir, porque velhos repetem as mesmas histórias, não porque acham que as pessoas sejam esquecidas, mas porque se eles próprios (nós) não as repetirem, serão finalmente esquecidas. 

Os velhos guardam coisas como valores (se os tiveram cultivado, pois só guardamos aquilo que já tivemos um dia, ao longo de muitos dias), porque são estes valores que o sustentam nos longos dias emendados nas noites insones, a contar nos dedos enrijecidos os dias que faltam para que o silêncio não os perturbe mais.

Os velhos guardam coisas e loisas. Guardam lembranças e guardam distâncias dos tempos em que os passos eram ágeis e as horas eram mais lentas, onde a vida era ligeira, e não havia tempo para abraçar o tempo que tinham para abraçarem seus amores. Os velhos abraçam dores, que as tornam companheiras, posto que sejam as únicas companhias dos dias que perambulam solitários de um lado a outro buscando com o olhar esperançoso pela companhia de quem os procurem para ouvir deles as lembranças, e as lembranças dos sonhos que nunca se cumpriram.
Os velhos guardam coisas, pois as coisas, ainda que apenas coisas, mostram pela poeira e ferrugem, que são tão velhas quanto eles, e velho com velho se entende bem.
Velhos guardam coisas, e coisas protegem os velhos da solidão.





O que faz a tua mão direita....

Evitem fazer alarde quando ajudarem alguém, não fiquem contando vantagem diante das pessoas, para  que sejam admirados e elogiados; aliás, s...