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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A Big data, a Conectividade, e o atropelamento dos velhos


A Big data, a Conectividade, e o atropelamento dos velhos

Pacard é Escritor, Designer, e quase muito velho**

Quase sempre fui inovador. Quando me mandaram aprender escultura em madeira em uma empresa, fui rebelde, e disse que queria ser "Desenhista-Projetista de Móveis". E fui. Daí, quando me chamavam de "Desenhista-Projetista", eu disse que não era mais assim, já era "Designer". Ah, como riram de mim. Mas cansaram. Lá por 1986, conheci uns caras, que me propuseram que montássemos um bureau de AUTOCAD. Barbaridade! era demais, tudo que eu queria, dominar a tecnologia. Autocad, o programa usado para desenhar os carros da FIAT.  

O bureau não saiu, mas eu comprei um computador, CP-400 da Prológica.Não servia pra nada, mas eu tinha um computador. Isso dava prestígio.  Nos anos 90, um amigo emprestou-me um PC, 286, com monitor colorido: Monitor COLORIDO! Uma pena que imprimia em preto e branco. Mas valia à pena. E a coisa foi evoluindo. Hoje aqui por casa deve ter uns 5 computadores, mais os celulares, que são mais eficientes que todos os PCs juntos que já tive até o ano 2000 (dois Macintoshes não entram na conta). O mundo evoluiu, e eu acompanhei o passo. Assim pensava eu.

Meus dois filhos mais novos, são da área da tecnologia. Isso acabou com nosso diálogo, porque eles engataram a quinta, enquanto eu ainda procurava o pedal de embreagem, quando descobri que carro decente não tem mais embreagem. Ainda bem que não tenho carro decente. Gosto de trocar as marchas. É mais seguro quando sei quem está no controle.

Minha filha é quase Doutora, de doutorado mesmo, então nosso diálogo não passa de "bom dia, como vão as crianças?". Morro de medo de dizer alguma coisa que não seja de cunho tecnológico ou do alto clero acadêmico. Não mesmo. Assim caminha a humanidade, de teclado em teclado até chegar à sinapse quântica, que faz uma varredura na mente e mostra na tela antes da gente pensar. Isso assusta sabe. Principalmente quando a pessoa passou dos sessenta anos de idade. Eu passei dos sessenta anos de idade. Mas não sou filho de pai assustado, então não faço ideia de como fiquei desse jeito tão apavorado.

Não que eu seja medroso. Não sou, mas me assusta o gigantismo das coisas. A Big Data, por exemplo. Meus sais, como vou conviver com algo que já começa com um nome de sua dimensão? Como vou conviver com algo que mostra ao teclado o lugar em que meus dedos devam apertar? Como posso ter respeito por algo que meus dedos batem numa letrinha, e na tela aparece uma fotografia minha de quando era pequeno? Misericórdia! Eu já fui pequeno, e isso ficou tão banalizado? Antigamente a gente via retratos de infância, acompanhados de uma lágrima das tias, e uma mesa farta de guloseimas. Mas e agora? O que é feito das guloseimas, senão aquelas que abarrotam nossas manhãs na linha de tempo das redes sociais? Aqueles pudins e assados maravilhosos, feitos por uma tia, lá da Índia, que corta cebola na palma da mão, com uma foice, e não tira pedaço do dedo? Como competir com isso? Então, não é de meter medo na pessoa?

A Big Data veio para atropelar os velhos e envelhecer os jovens, sem que transitem pela vida. O novos velhos são como frutas apanhávamos verdes, e eram amadurecidas à força, que tem cor e tamanho, mas o sabor não passou nem perto. A conectividade não conecta, mas atrela, amarra, e aperta com força. É bom pra quem tem força nos joelhos, mas os velhos nem joelhos tem mais. Foram trocados por cataplasmas que cheiram à cânfora em Emplastro "Salompas". A conectividade abraçou a |Big Data e nos matou para comer o fígado. Com Bits e Bytes grelhados no processador superaquecido. Ainda bem que não vamos viver muito pra ver o que vem depois. Espero que seja breve, pra doer pouco e não travar a tela.

A propósito, já que leu até aqui, que tal ler mais um dos meus livros? Basta clicar na imagem abaixo, e a felicidade estará ao seu alcance.



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