Design é para pobres, tradicionais . O que expõem nas revistas de decoração, é para metidos a ricos e pós modernos.
Pacard - Designer, Professor e Consultor desde 1974
Até o ano de 1997, eu achava que era Designer. Não era. Achava que sabia desenhar móveis para qualquer padrão econômico de consumidores. Não sabia. Eu desenhava de tudo, e tudo o que eu desenhava, os marceneiros davam conta de executar. Descobri que quem desenha qualquer coisa que um bom marceneiro possa executar, não é um bom Designer. É apenas um Designer fino. Nada mais.
E como foi que descobri que eu não era um bom Designer, no ano de 1997? Porque fui chamado para criar uma linha inteira de produtos para uma grande indústria de móveis lá no Piauí. Isso mesmo: No Piauí! Em Teresina, Brasil.
O diretor da empresa foi ao Rio Grande do Sul, visitar uma grande feira de móveis que acontecia por lá, e por ter laços de amizade com grandes empresários da região, fez um pedido muito específico: "Queria o melhor Designer do Rio Grande do Sul!", Mas é lógico que no Rio Grande do Sul haviam muitos excelentes Designers, aos quais reputo grandes qualidades criativas e técnicas, e mais que isso, nunca gostei de disputas no tocante à profissão de Designer, mesmo porque nunca participei de concursos. Porém, sim, havia um contingente significativo de profissionais, e possivelmente, eu estivesse entre os capacitados para aceitar desafios, mesmo porque existe uma máxima que diz que você não é bom porque se acha bom, mas porque os outros acham que você seja. Então, estou livre do pecado da vaidade, pois a solicitação não foi feita à mim, mas a pessoas que, além da amizade, também respeitavam o que eu fazia, e para minha surpresa, fui chamado a uma reunião de emergência com o empresário, no mesmo dia. Resumindo, fui contratado, e embarquei para Teresina, com uma mala cheia de ideias e conhecimentos que julguei necessários para ensinar os nordestinos a fabricarem móveis.
Que decepção, para mim. Eu descobri que eu não sabia desenhar "móvel para pobres". Esta era a definição. Eu, que desenhava móveis em Gramado, onde pouco se importavam com o prelo de um armário, descobri que precisava desenhar móveis para quem pagaria, pelo valor de uma cama, em Gramado, o mobiliário inteiro de uma ou duas casas, lá no sertão nordestino. Aprendi que se em Gramado, um armário roupeiro tem cerca de 2,50m de altura, lá em Santana de Parnaíba, o mesmo roupeiro mede 1,85m no máximo, porque não caberia na casa, se fosse maior que isso. O biótipo do Homem Nordestino é baixo, comparado ao biótipo europeu do gaúcho, que obedece aos padrões de Le Corbusier, e não de Virgulino Ferreira da Silva, o "Lampião".
Fui levado a uma das, então, 130 lojas (hoje são mais de 300 unidades) da rede, para observar o comportamento dos compradores, e vi pessoas em uma fila de pagamento, com um carnê numa mão, com o dinheirinho já contadinho, e o chapéu de couro, na outra, em atitude de reverência pelo ambiente onde estavam: o caixa de pagamento. Fui informado de que esta rede de lojas não usa SPC, SERASA como limitador de confiança, porque sua confiança está na pessoa que faz a compra. Isso mesmo. O sertanejo que paga uma parcela de R$ 5,00 no carnê, e não atrasa uma única vez, porque precisa preservar a honra e a dignidade, por entender que pobre não tem nada, senão a sua honra, que é a sua palavra, e se perder isso, sua vida acabou.
Aprendi aí a desenhar móvel pra pobre. Aprendi que o segredo do designer não é soltar a mão, mas frear a mão, sem perder o estilo. Aprendi que para desenhar produto, não é preciso entender de tecnologia (se souber, fica mais fácil), mas entender de gente, de pessoas, saber ler o comportamento e entender o olhar e os passos de quem paga carnê na fila. E paga em dia.
Ah, ia esquecendo de dizer, que sou também escritor. Se clicar na imagem abaixo, poderá ler um dos meus 13 livros já publicados (Edição em Português).
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