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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Gramado - A irreversível Paris do Rio Grande


O turista que vai à Paris, carrega consigo centenas de anos de românticas e edificantes histórias das façanhas que fizeram a nossa história. Nossa história, como, se não somos franceses, muito menos parisienses?
Sim, nossa história política está povoada de inserções do pensamento iluminista, do pensamento revolucionário de "Liberdade, Igualdade, e Fraternidade!", que ditos em francês, assumem um charme todo especial. Assim, Paris nos lembra velhos amigos de farras, rebeldes, aventureiros, desbocados ("aller à la merde", por exemplo), nos remete aos subterrâneos de nossa rebeldia, quando desejamos varrer os absolutismos, para mudar o mundo.

Gramado, tem o quê, a ver com esta Paris e seus mal humorados franceses, que ficam incomodados de responderem qualquer coisa, que não seja em seu impecável francês, cheio de "erres guturais", e biquinhos de chupar ovo de canudinho? Nada, por enquanto, e tudo, muito em breve. E não estou falando da revolução, nem da queda da bastilha. Aí é outra fritura, que não nos interessa por ora. Estou falando do crescente mau humor dos parisienses em suportar turistas, que por sua vez, acham, que os parisienses sejam peças de exposição pitoresca, e estão ali para servi-los (os turistas), para  falarem com sotaque, fazerem graça, fritarem escargots, e gritarem: "Uh-la-la", toda vez que passarem por um abestado, como se esta fosse a maior de suas glórias, agradar turistas.

Os turistas são, sim, a principal fonte de renda dos parisienses, e gostem, estes, ou não, tratando-os mal, ou não, os turistas continuarão a visitarem Paris por longos anos, ainda, e os azedos parisienses, confortavelmente, sentarão as patas nos turistas, e abocanharão seus dólares, Euros, e até Reais, em alguma casa brasileira que serve feijoada e oferece mulatas rebolando, ou músicos maconheiros dedilhando sons num canto lúgubre dos bares. Isso é Paris, e não, Gramado não pode permitir-se ao luxo de oferecer tais bizarrices, porque Paris é milenar, e Gramado, ainda nem nasceu enquanto modo de ser e viver de seus cidadãos. Eis a diferença então.

Paris tem dois atrativos arquitetônicos notáveis: Torre Eiffel, e Arco do Triunfo. Só isso. Claro, tem o Sena, e os cafés, com mesinhas românticas pelas calçadas, e tem os franceses: ah, os franceses, um espetáculo digno de ser admirado, mesmo sem tocar. Notável observar a elegante conversação de dois franceses, gesticulando, comendo, e falando sobre política, filosofia, gastronomia,  artes, letras e ciências, sem que seja necessário um simpósio ou feira. São corteses entre si, e são corteses com que os procura, contanto que aquele que os procura, saiba portar-se como um francês, e não tente domesticá-los ou domesticar-se aos seus costumes. Basta que sejam elegantes, um e outro, e Paris torna-se agradável, única, e com apenas a Torre Eiffel com símbolo se sua arquitetura gótica.

Gramado tem muito mais obras arquitetônicas enfileiradas para selfies, mas tem vergonha se mostrar os seus cidadãos. Tem vergonha de seus filósofos, de seus poetas, tem vergonha de seus artistas de rua. Gramado, a Gramado opulenta, que não é a Gramado contida pela timidez do tempo, está muito longe de chegar a ser uma Paris, porque faltam pessoas a se assentarem nas mesas das calçadas, e serem identificadas como gramadenses notáveis. Não que não os tenha, mas os esconde, porque ser notável em Gramado é ter um carro SUV na garagem, e uma mansão de seis zeros para ostentar. Assim, Paris tem os parisienses, chatos, azedos, e pitorescos, como cartão postal, e Gramado tem portas e muros que os escondem.

Ah, lá vem o pensador que pensa que pensa, pensar que pode dizer o que pensa à quem pensa que pode, por tratar-se de inveja santa e purificada, enrustida em palavras, para enfurecer os que abrem e fecham as portas pesadas, e iluminam as ruas e praças, que ofuscam olhares.

Digo com alma leve que não há inveja, senão pesar, por saber que pedras e cimento não alargam fronteiras, antes fecham e enclausuram pessoas, separando-as de outras pessoas, que somente usufruem de um dos sentidos, a visão externa das paredes bem pintadas, mas que se distanciam dos verdadeiros muros que aprisionam almas, as almas confusas entre o ter e o o ser, o poder  e o viver.

Gramado ainda não é  a irreversível Paris do Rio Grande, porque ainda não se mostraram as pessoas que tomam café nas mesas das calçadas, pois as que assim o fazem, nada tem a ver com Gramado, senão seus nomes nas fichas dos hotéis onde estão circunstancialmente hospedadas. O resto, são imagens efêmeras pelas redes sociais. Os quinze segundos de fama.

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