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quarta-feira, 12 de abril de 2017

A mão que embala o professor..ou, a caneta mágica do Alcaide


Brilhantina parecia nome de gel para o cabelo, também chamada de Gomalina. 

Mas não. Brilhantina era o nome da doce professorinha, de narizinho arrebitado, lencinho preso ao pescoço à moda francesa, um colar de pérolas de plástico, unhas bem feitas de uma mãozinha delicada, vestindo seu tailleur azul marinho, com saia três quartos, usando sapatinho salto quatro, e meias impecavelmente brancas até um palmo acima do pezinho delicado.

Brilhantina era um doce de criaturinha, como são todas as professorinhas dos primeiros anos de nossas vidas. 

Doces até demais, porque todos os meninos se apaixonam por elas, e propostas de casamento com eles, não lhes faltam. 

Talvez por isso, o receio de deixar algum coraçãozinho partido, muitas delas não se casam mesmo. São eternas donzelas. Quase todas.

Ah, porém(o temível porém) nos traz à baila, aquelas professorinhas que conheceram as cartilhas das esquerdas libidinosas, que bolinam o ego consumista que todo ser humano carrega consigo na essência, e se embriagaram com o discurso mole e babado em nome do proletariado extorquido pelo capital. 

E o que fazem, então: colocam seu perfumezinho genérico de Channel, dão um belo topinho na echarpe petit pois, e enfileiram-se de megafone na mão, à porta da Prefeitura, e sob a voz de comando dos seus mentores, confortavelmente acomodados, gritam palavras de ordem, do tipo:
-Abaixo o capitalismo porco! Abaixo os Ianques! Liberdade às tamanduás-anãs do Himalaia!

Estas palavras de ordem, desconexas, acabam gerando revolta no populacho, que sente-se responsável em fazer crescer os piquetes, e já entram os bêbados de comício, que berram (babando na gravata):

- Aboiadoo! Ababentazão bara dodos!


O movimento cresce, e o Alcaide da aldeia, acuado, vê-se na oportunidade de emitir um decreto, que tecnicamente favorece a toda a classe , pois dá à Brilhantina e suas colegas da echarpe, o direito dos sonhos de todos os funcionários públicos, uma vez que direitos são paritários (eu adoro dizer umas palavras de efeito no meio do causo)em receberem benefícios iguais, enquanto servidores sob as mesmas leis.

Brilhantina agora, já começa a ir às aulas com a echarpe torta, e meio desgrenhada. Já deixa o último botão da blusinha com frufru aberto. A roupinha channel três quartos foi trocada por uma calça jeans suja. O sapatinho salto  quatro é um sapatênis, e o linguajar erudito de Castro Alves, recebe alguns adendos de Jorge Amado e Capitão Nascimento.

Aquela demorada conversa com o aluno junto à coordenadora e a disciplina por xingamentos obscenos, torna-se uma disputa verborrágica aos berros e cusparadas, até definem democraticamente que não estão nem aí com o sistema, contanto que tenham suas regalias definidas em decreto.

Brilhantina filia-se a um partido, e abraça-se à uma pilha de bandeiras, que por sua influência com os ainda pretendentes, agora não mais a casarem, mas a tê-la como aliada política, consegue pressão sobre o Alcaide, e obtém os benefícios que merece tê-los, disso não  há dúvida, porque a echarpe teve seus tempos de glória, e o rescaldo é o poder.

Então conseguem que por três deliciosas e prazerosas horas, possam visitar as belas vitrines da cidade, os salões de beleza, pegarem um chocolatinho, enfim, curtirem a vida, porque todos merecem isso. Eu disse, "todos".

Mas, tudo parece bem, até que percebem que, em lugar de preparem belas aulas, pesquisarem bons temas, elaborarem planos de aula, o que seria uma boa razão para ganharem três horas livres do Alcaide, descobrem um dia que, nem elas enriqueceram seu conteúdo, nem seus alunos usufruíram da folga, porque no lugar das preparadas professorinhas(hoje militantes), foram colocados substitutos, que não se pode chamar de preparados. 

Bem, até são preparados, se o preparo for para educar, instruir, ensinar, passar conhecimento.

Um dia, aquele Alcaide, que tinha razões históricas para tornar-se um gigante na educação, bandeira pela qual seu partido tano lutou, vê-se num triste ocaso ideológico, vendendo benesses localizadas, imaginando que assim calará a opinião pública e moldará gerações para que construam estátuas em seu nome. 

Pobre Alcaide. Tão boa pessoa,mas tão ingênuo nas artimanhas da política. Começa a tomar raseiras até mesmo da professorinha Brilhantina. A mesma Brilhantina com a qual tantos queriam se casar. 

O Alcaide mal aconselhado, assina decretos, faz discursos, enaltece o vazio, nomeia bufões, e sem perceber é golpeado pelas lisonjas que distribui. E Brilhantina, a professorinha outrora elegante, agora carrega uma sacola de couro cru com panfletos impressos na calada da noite, arregimentando outros militantes, para conseguir mais benesses à custa da má educação dos rebentos temporariamente felizes, porque seu recreio tem três horas a mais.





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