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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Doralice e Catarina - Cap XI O Bate-Boca




CAPÍTULO XI

O Bate boca

O diálogo nada mais é do que um ambiente de troca de convicções e possibilidades de arranjos entre as diferenças. Quando começa a insistência repetitiva, deixa de ser um diálogo e passa a ser um solilóquio bilateral. É o que se chama de andar em círculos. E alguns círculos nem mesmo voltam ao mesmo lugar, mas sem que percebam, desviam a razão à si próprios, criando uma espiral centrípeta cujo efeito é auto opressivo e previsível.
Certos dias não havia muito clima para diálogo com Catarina. Era irredutível. Doralice era mais determinada, mas tornava-se complacente quando percebia que a situação estava se tornando insustentável. Era melhor parecer que dava razão do que continuar a bater boca. Não era lá muito de discutir relação com ninguém. Apenas dizia, para encerrar a conversa:

- Sonhei com merda hoje. Não me amole!
Também não era comum haver bate boca entre elas. Não era comum, mas também não era impossível. E naquele dia aconteceu, a primeira rusga entre elas, desde que Abiel chegara. Evidente que o pivô fosse ele.
- Ele não levanta a mão pra varrer nem o quarto em que dorme! – Resmungou Catarina.
- Como não? Ainda ontem vi ele limpando e organizando tudo por lá. Até deu água pras plantas da varanda! – defendeu Doralice.
- Limpou “vê a cara dele”. Melhor que deixasse sujo!

- Mas tu tá com a macaca hoje, velha azeda. Sonhou com merda de novo? 
- Isso também, mas já tinha pouca, porque usaram quase toda pra de esfregar na língua. Estava demorando mesmo começar a defender o parasita. Fica de esfrega com ele pra lá e pra cá nos últimos tempos. Só falta lamber o saco da criatura. Se é que á não esteja fazendo, que não duvido de nada.

- Misericórdia! Trocou o couro a cascavel, que tá se coçando tanto? Mas que implicância com o homem. Tá te fazendo falta alguma coisa que ele use? Pois tire da minha parte, que devolvo com muito gosto.

- Deixe pra lá! – Deu de mão Catarina. Não vale a pena arrumar confusão com minha irmã por conta dum par de calças, só porque “ele tem”!
- Se tem, não usa faz tempo. Porque comigo é que não tá usando. Quem sabe tu quer pra ti?

- Vai-te à merda! – Deu uma vassourada no traseiro da irmã e saiu a passo largo para escapar do revide.
A discórdia mal humorada de Catarina fazia algum sentido. Se for este o objetivo da irmã, semear desconfiança, pois ela conseguiu. Doralice passou a refletir sobre o acontecido e fazer outra leitura sobre seu amigo ou namorado, seja o que for.

Abiel era uma página grudada, cujo conteúdo estava obscuro. O que aconteceu com eles nestes anos de ausência? Por que surgiu, assim do nada, e por que contou aquelas historias dos seus pais? 

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