O
que são caminhos, senão lugares ao longo de uma terra usados para
unir pessoas de outros espaços?
O
que são as pegadas, senão os passos repetidos, gravados no chão,
que se torna mais firme, a cada pisada que recebe?
O
que são ainda os caminhos senão trajetos usados por muitos
anônimos, que transitam ali com seus pensamentos e seus objetivos, e
que em tudo pensam durante o trajeto, exceto no próprio caminho? O
que são caminhos então, senão o lugar onde nos tornamos vivos e
móveis, porquanto não fomos criados com raízes e sim com pés e
pernas para que nos levem onde nossa vontade ou necessidade
ordenarem?
Somos
como caminhos.
As
pegadas sobre nós são os passos que alguém deu sobre nossos
próprios passos.
Nos
pisaram, porque nos encontraram em seus próprios caminhos e não
souberam contornar, optando pelo trajeto mais econômico: passar por
cima. Somos como pegadas de alguém sobre o barro, que nos tornam
mais firmes cada vez mais e quanto mais nos pisarem, mais rijos
estaremos para os passos que virão depois de nós. Somos como a
terra que se compacta porque sobre ela levam os homens e animais as
cargas, cujo dorso final são muitas vezes nossos ombros. Somos como
os caminhos que saem de lugares e levam outros a outros lugares. Uns
são largos e carregam fama. Outros são estreitos e levam o
necessário.
Muitos
são intrincados, como também somos intrincados.
Outros
são largos e vazios, e há ainda aqueles que se emaranham entre
outros caminhos, pisam sobre outras pegadas, vão e voltam, e não
chegam a lugar algum. Apenas pisam, enrijecem vidas, abrem sulcos de
tantos caminhares, e caem no vazio.
Somos
pegadas de nossas pegadas.
Passos
de nossos passos e sendas de nossas sendas. Os estreitos e os amplos.
Uns levam à vida. Outros levam à morte.
Uns
caminham solenes. Outros caminham serenos. Uns espargem flores por
onde passam, e ao voltarem, inspiram perfumes. Outros semeiam
espinhos, e deixam dores por onde passam. Mas todos somos caminhos.
Passos
e pegadas. Em linha reta ou emaranhada, somos caminhos e caminhantes.
Caminhamos sós ou nos permitimos caminhar juntos. A chegada nunca
acontece antes do fim, mas sempre caminhamos rumo ao fim, embora
nossa vontade seja de caminhar de volta ao começo. A isso chamamos
“saudade”.
Caminhos
atrás de nós por onde não sabemos mais voltar.
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