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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O marido da consumidora





O marido da consumidora



Eu sou Designer. Há mais de quatro décadas, quando ainda nem se falava nesta palavra. Na época, era projetista, desenhista, "dono da fábrica que inventava umas coisa", ou cópia explícita mesmo daquilo que era vendido no buteco da esquina. Nada mudou desde então, com exceção do nome da função: Designer, mas que lê-se "Desáiner", embora se desejar pronunciar tal como se lê em portuguêsm ainda assim não comete erro de fonética, senão apenas de costume comum, porque a palavra "Designer", vem do latim, "Designare", isto é, desenhar algo a ser construído, edificado, ou fabricado.

Aí tanto pode ser um produto de três dimensões, como um balde, uma vassoura, um sutiã, ou um apetrecho qualquer para limpar cera do ouvido, como também pode ser uma imagem para uso eletrônico, gráfico ou de revestimento de outro produto onde o design ainda seja a forma, e que assim agregado, torna-se forma e estampa.

São muitas variações que transitam no universo do Design, e cada profissional tem sua tribo, sua linguagem específica, seus tiques e frescuras, e também seus defeitos e virtudes.Só no setor moveleiro é que tem designers livres destas firulas, pois o profissional de móveis atingiu o ápice das virtudes, entre elas, a modéstia. Um destes profissionais mesmo teve a bondade de confessar-me estes atributos.

Pois bem. Falei do design e dos designers, agora vou falar de um componente essencial ao sucesso de um bom produto: o "Marido da Consumidora". Naturalmente este componente não é uma peça disponível para reposição. Não, pelo menos, para o produto em si, mas é um dos mais importantes e discretos componentes que deve ser agregado ao valor e não ao custo de um bom eletrodoméstico, por exemplo. Sim senhor (ou senhora, ou sei lá o que).

O marido da consumidora é tão importante quanto  as curvas orgânicas ou o design progressivo vintage que um aspirador de pó pode oferecer ao mercado. Os técnicos deveriam ter em seus estoques de reposição, maridos de consumidoras, para que pudessem assegurar satisfação completa ao mercado. Isso porque, muito antes do eletrônico pifar de vez, quem pifa é este componente, frágil, delicado, meio embrutecido quando os parafusos sobram após o desmonte de um eletrônico, o pobre do marido da consumidora.

É o marido da consumidora (MdAC) quem tem que resolver os esparrangos que os equipamentos descobrem quando travam, e os técnicos, após aquela cara de nojo de pobre, dizem que não tem solução. Que vale mais à pena comprar um novo. MAS COMO COMPRAR UM NOVO, se o cara é técnico e que a função deste componente (o técnico) é justamente consertar as coisas que apresentam defeitos pelo uso do consumidor? Mas não. Ali estão eles, quando chegamos, desesperados, com olhar suplicante, beicinho tremelicante, suplicando por socorro, e eles, impávidos balançam a cabeça com ar de desdém e dizem:
- Ó, madamo! Esse aqui já era! Casa caiu, pifou, perda total! E mandam-nos embora, cabisbaixos, humilhados, aos choramingos, desfilando de orelha baixa entre os seguintes da fila, que nos olham com ar de condenação, como se tivéssemos cuspido na mãe que amamentava em noite de Natal. Fim da linha. O aspirador não vai funcionar nunca mais.

UMA PINÓIA QUE NÃO VAI! VAI SIM! E depois de abrirmos nossa maletinha com mil, seiscentas e dezoito ferramentas e doze mil e quatrocentos componentes e acessórios, e pacientemente começamos a desparafusar um por um dos parafusinhos inúteis, além de enfiar uma chave de fenda e abrir os encaixes lacrados com ameaças de perda de garantia em caso de violação dos vinte e oito lacres. Mas lacre pra que? se a encrenca está desenganada? Então, se não temos mais nada a perder, exceto o pudim prometido pela volta do funcionamento, ou pior, do custo de um aspirador novo, metemos a mão nos tufos de pelos enfiados no motor, e desmontamos tudo. Ou quase tudo, porque os raios dos fios são soldados na capa de cima, e curtinhos como coice de porco, e um puxão mais forte, põe tudo a perder.

Mexe daqui, remexe dali, e a coisa parece que vai funcionar. Montamos um por um dos componentes, e descobrimos que faltou aquele fiozinho que soltamos. Desmontamos de novo, engatamos o fiozinho, e tudo outra vez, e: FELADAP...TA!!!!! FUNCIONOU!!! Melhor que que antes até, pois descobrimos que a rebimbela da parafuseta existia exatamente para garantir o mau funcionamento em tempo determinado, e a fábrica, em conluio com os técnicos, vender aspirador novo.

Minha leitura é que quando os designers criem seus produtos, além do traço e da forma, aliada à função, ao conceito, e sem preconceito, lembrem que quando a gracinha conceitual deixar de funcionar, quem vai mexer nela, é quem não tem nenhum compromisso com forma, função ou cheirinho de novo: O Marido da consumidora!










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