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sábado, 14 de março de 2020

O Vírus, a cebola, e eu



Em 2016, passei alguns meses em Gramado, trabalhando no atelier do centro Municipal de Cultura. Morava a 6 km, e tomava dois ônibus diariamente, geralmente, lotados, muito lotados. Teve um período em que quase todos estavam resfriados ou gripados, naqueles ônibus. Convivi com gente muito gripada, e eu, estava próximo dos 60 anos, portanto, velho, portanto, no grupo de risco.
Eu tomava meus cuidados, o que sempre fiz, muito antes disso. Higienizava as mãos, banho diário (às vezes, à meia noite, com temperatura negativa lá fora), e comia muito, muito alho, pimenta e cebola. Comia muitos ovos, e tomava muito chimarrão, chá, e algum café. Por esta combinação alimentar, Channel e eu, não tínhamos nada em comum. Fedia a alho, tinha bafo de cebola.
Todos se griparam, à minha volta.
Eu atravessei o inverno sem dar um único espirro.
Lasque-se o bafo, o cheiro de alho. Dane-se o Corona, o H1N1, e todo o resto das imundícies que derruba tanta gente todos os dias.
Eu não estou livre de ser contaminado e contrair uma pereba dessas. Ninguém está.
Outro dia, na casa onde morei, em Águas Mornas, um pequenino paraíso, tive que defenestrar uma serpente que resolveu dividir a casa comigo, sem ajudar nas despesas. Estava a 15 centímetros da minha mão, que tem muitas veias salientes. Ambiente ótimo para inocular duas gotinhas letais de veneno. Já em outro dia, ao voltar pra casa, fiquei preso em um engarrafamento, com chuva, e o limpador de para-brisas é hipnótico, me acreditem. Peguei no sono, por uma fração de segundos. Poderia ter sido grave, mas não foi. Nada aconteceu, senão que eu me mantivesse mais alerta.
Então, nós somos cercados de perigos, muitos deles, mortais. E daí? Não precisamos provocar o perigo, nos expormos á ele, mas ele existe, é real. Mas nem por isso, precisamos desenhar nosso destino tendo o medo como combustível.
O medo mata e a morte pelo medo é a mais dolorida, porque nos mata enquanto ainda estamos vivos, mata aos poucos, mata de dentro pra fora.
A única coisa da qual estou livre, é a paranoia que vem varrendo o mundo. E se um dia ela chegar, quero ter a lucidez de olhar para as vezes que fui salvo misteriosamente de tais perigos. Então, fiz a opção de confiar que tenho anjos cuidando de mim e dos meus queridos.


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