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quinta-feira, 19 de março de 2020

Pós Corona - Definição do que é útil e do que é fútil



Você, eu, e ninguém mais no mundo, estávamos preparados para recebermos um pito e sermos trancados em casa, no cantinho do pensamento. Não estávamos mesmo. Na verdade, ninguém está preparado para uma desgraça. Até dizem que temos que nos preparar para o pior, e coisa e tal, mas depois que lambeu a beirada do copo de cerveja, largou uma piadinha besta, despediu-se do dono do bar (os mais importantes por primeiro), e dos outros beberrões, depois de beber como se não houvesse amanhã, a pessoa vai embora e dorme, como se não houvesse um ontem.

Ninguém se preocupa de verdade com o infortúnio, pois acha que só vai acontecer com os outros, e desejavelmente, com os desafetos. O que ninguém espera é que, mesmo sem ouvir um único tiro, nem tanques de guerra pelas ruas, sirenes de aviões, o bombardeio nos pega pelas mãos, boca, e narinas. O balconista da farmácia é o agente de salvação, quando nos entrega, a preços de farmácia, o vidrinho de álcool gel. O caixa do supermercado, cansado, é nosso aliado, quando registra os cinco carrinhos abarrotados, sendo dois deles repletos de fardos de papel higiênico. Este é o limite da guerra que nos abate. O resto, a parte pior, não está nas ruas, nem no abraço, mas dentro de casa, na televisão ligada 18 horas por dia, e o celular recebendo o excedente, enquanto tentamos dormir, das más notícias que perdemos poucas horas antes. Este é o cenário do front. Mas, infelizmente, para os profetas do caos, da destruição total, da hecatombe bacteriana e virológica, este não é o fim. Tem mais. tem o "dia seguinte",  aquele momento silencioso dos filmes onde o protagonista perambula estupefato por um deserto que deixa aflorar partes da estátua da Liberdade, ou do capitólio, mesmo que isso seja no Rio de Janeiro, ou em Afogados da Ingazeira. Sente-se completamente só Começa a andar e juntar latas enferrujadas, uma garrafa de coca cola com tampa intacta, um pneu com ar dentro, e umas cordas velhas (não sei de onde tiram cordas velhas em cenário pós apocalíptico, mas elas aparecem, talvez de outra dimensão, sei lá. E assim, meio se arrastando, com um saco de polipropileno na mão, e um pedaço de pau na outra, vai caminhando sem rumo pela vastidão do deserto. O que fazer? Como recomeçar?

Aqui entra minha reflexão. Assim como alguém que sofre um grave acidente, e perde a locomoção natural, necessitando de próteses, cadeiras de rodas, e outros artifícios para seu ir e vir, também a crise que nos esbofeteia nesse momento em certo tempo irá findar, mas não findarão os seus efeitos, e teremos que nos adaptar ao novo mundo que nos espera.

Claro que não sou teórico da conspiração, nem levo a serio a ideia de que os Illuminatti tenham algo a ver com isso, dentro de seu plano satânico de ludibriar os crédulos e ignorantes, estejam espalhando a mortandade para acabar com dois terços da população mundial, e olha que tem gente nesse mundo. Teriam que levar pra terra cerca de dois bilhões de pessoas (eu falei dois BIlhões) em curto espaço de tempo, o que não seria difícil, se ninguém cumprisse quarentena sanitária, o que não acontece. Assim, deixemos os Illuminatti em paz, por enquanto, e vamos focar no essencial: O que iremos fazer depois que as restrições acabarem? Bem, eu tenho algumas ideias. Vejamos:

O mundo não tem condições para suportar mais que duas a três semanas de paralisação total. Não tem. Se passar deste limite, outros problemas que existiam antes do Corona, subirão à superfície, e aí o caldo entorna. Então eu sou levado a crer que a partir desse prazo, as regras serão flexibilizadas, mas não extintas, e aos poucos as pessoas retornarão aos seus afazeres. O susto foi o bastante para que deixem de ser porcos, que parem de comer imundícies, morcegos, ratos, baratas, sushis, periguetes, e outras coisas mal lavadas e contaminadas. Em consonância com os resultados favoráveis observados, leis restrivas serão aprimoradas, e crescerá a liberdade dos governantes em sujeitarem os cidadãos à regras sinistras, em nome da prevenção à saúde.

Os escroques, aproveitadores, serão dramaticamente punidos tanto pelas autoridades, quando pelo povo, pelas massas, enfurecidas e vingativas, que provocarão ondas de ataques nas redes sociais contra aqueles estabelecimentos que abusaram da dor alheia durante a crise.

Os valores serão também reciclados, e a noção de necessidade poderá ser redesenhada. Aquilo que era usual, torna-se supérfluo. Aquilo que era supérfluo, tende a diminuir. E aquilo que era essencial será lapidado para aquilo que seja realmente necessário..
Certos trabalhos, certas atividades econômicas poderão ser consideradas supérfluas, como  o próprio Design, que já vale bem pouco hoje mesmo; as artes; a literatura; a música, especialmente a música erudita; os espetáculos de multidões; e tudo aquilo que não ponha pão e mantimentos à mesa, será encarecido e sobretaxado.

Restarão tarefas e atividades que poderão ser supervalorizadas, como a medicina, a psicologia, a agricultura, mesmo com agrotóxicos ou defensivos e insumos, ainda serão essenciais, as terapias individuais, uma vez que grupos não serão incentivados; e as redes sociais, pois os jornalistas também tentem a entrar numa quarentena bem mais longa, haja vista a hipótese de que existam jornalistas que se prestem a desmanchar governos, e propagar mentiras, porém, como não se pode ter certeza disso, então entrarão todos no mesmo balaio dos indesejáveis.

Os políticos serão selecionados a pente fino, e novas regras de civilidades serão elaboradas. O bem que conhecemos que teme o mal será substituído pelo mal que precisou aparecer para ensinar ao bem que nem tudo pode ser mau enquanto houver quem no mal deposite duas armas para combater o próprio mal. Perceberam? O mal combate a si mesmo, sob a forma de justiça? E o que sobra disso é a sobrevivência, e em nome da sobrevivência de muitos, poucos serão penalizados, pois é assim que se constrói uma civilização.

Será que estamos na linha divisória entre a civilização que usou de tudo o quanto pôde, para ingressarmos em outra civilização que tomará de todos a liberdade em nome de um mundo melhor?

Será que as novas restrições com base em tempos de crise não serão utilizadas para uma dominação, em nome da liberdade, mas acima de tudo, em nome da saúde e felicidade coletivas?

Estaremos ingressando nos próximos dias em um mundo onde será distinto o que é útil, do que é fútil, e serão extintas a beleza, a simplicidade, o encanto, a serenidade, o perfume, e o bom vinho? Não sei a resposta. Mas eu fiz a pergunta. Tome: é sua!


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