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segunda-feira, 27 de março de 2023

A arte da simpatia - O Sujeito mais simpático de Gramado


Foto de um desconhecido que nem sei quem é*

Essa reflexão partiu de uma observação que a honrada patroa fez, lembrando de uns dias atrás, quando a acompanhei para um procedimento médico. Por ser de origem germânica e tímida demais, eu faço  as honras de puxar assunto em público, sempre que tenho esta oportunidade, e quando não tenho, eu crio uma, para certa vergonha alheia dela. Paciência. É meu jeitão assim mesmo. Sou o guardião da genética judaica de minha avó, Maria Elisa, que não podia ver um estranho passando, que as formigas desatavam a perambular pelo corpo véio, e o coça-coça fazia com que ela esticasse o braço e chamasse à atenção o pobre transeunte:
- Vais aonde, filho (a)?
- Vou ali na.... (e nem conseguia terminar a frase, que já vinha outro comando:
- Entra aqui e vamos prosear. Vou fritar uns bolinhos e preparar um chá de mate!
Pronto! A pobre vítima se debatia, como um passarinho dominado por uma serpente, mas não tinha jeito: entrava e quando percebia, já tinha comido duas bacias de bolinho frito, bebido dois canecos de chá de mate, e contado toda a voda pregressa de seus antepassados, um por um. E depois de algumas horas, já prometendo voltar em breve. E voltava mesmo. Nasciam ali amizades duradouras.

Assim, não posso esconder de onde vem minha ânsia por tagarelar com estranhos. E sou cara de pau mesmo. Mal ponho o pé num lugar público, que em poucos minutos já fiz uma varredura mental dos presentes, e ao primeiro som de alguém que se queixa de algo, ou comenta, contanto que não seja política, e nesse caso, eu amarro o burro e já fico na defensiva, mas sendo tema de natureza genérica, ah, não me dê corda, que eu puxo mesmo. E eu não procuro "ser simpático", pois seria falsidade. Simpatia é coisa que, ou você tem, ou nem tente disfarção, porque fica gosmento, pegajoso, falso,m nojento, o que não significa que não possa muidar, mas aí é um processo de auto conhecimento, de mudança interior, e muita, mas muita cara de pau mesmo. Tipo, seis sacos de 60kg por ano, despejados com abundância. E bebendo muita água.

Pois, não tem segredo: o negócio é entrar metendo o pé na porta e mostrando quem é que manda, no caso, quem é o tagarela da vez. Entre na conversa, sem escrúpulos, com os pés no peito, passando rasteira:
- ...então minha mãe precisou de...."
- AH! Nem me fale em mãe que precisa! Mãe é mãe e precisa mesmo! .... e siga a conversa. Pode ter certeza de que outro corajoso vai participar, e quando menos espera, a chamada da vez na fila se torna um momento de abraços e despedidas. Acredite em mim. Sou véio, e cara de pau. Muito cara de pau. Mas, agora, aqui lembrando, mais simpático que eu, é meu amigo XC*, lá do Gramado. Esse é mestre em simpatia. Certa feita, na semana Farroupilha, eme vestia bombacha, cinturão, com o celular no coldre, e tênis, em lugar das botas. Careca, feio e orelhudo, sempre sorridente, andava pela avenida, e viu um casal, aparentemente em núpcias, cuja moça era, nas paravras dele, belíssima, e aproximando-se do casal, chamou o jovem esposo e falou, com entusiasmo:
- Meu amigo, sou o XC, e quero lhe dar um abraço. Posso dar um abraço?
- Claro, obrigado, mas por qual razão este abraço?
- Pelo seu extremo bom gosto! Por misericórdia! Que gosto maravilho você tem na escolha de sua esposa. Ela é linda demais, ofusca as flores e escurece o brilho do sul! Você é o homem mais feliz do mundo, eu tenho certeza!
- Sou! - Disse, timido e orgulhoso o nubente. Obrigado!
- Obrigado? Mas que obrigado, que nada! Sinta-se vitorioso. A propósito, posso dar um abraço nela também?
O moço olhou pra moça, e sorrindo, concordaram!
XC os abraçou, desejou felicidades, e continuou seu périplo. De bombacha e tênis. Com o celular no coldre.

E sim, o sujeito mais simpático de Gramado, não sou eu, mas o meu querido e debochado amigo XC*, a quem cito as iniciais, porque não tenho autorização para citar o nome completo. E antes dele, a pessoa mais simpática, sim, foi Maria Elisa.


PS: Nenhum simpático feioso foi maltratado neste ensaio, não tanto quanto deveria, mas a vida é assim mesmo, cheia de frustrações, que precisamos administrar*



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