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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Adegenor sonhou que era um macaco

Entalhe em madeira de demolição - Bugios de Gramado, 2016, Pacard


Adegenor sonhou que era um macaco. Todo mundo sonha. As pessoas sonham que estão nuas, que estão voando, que estão caindo de um penhasco. Falta espaço para descrever uma pequena parte de todos os tipos de sonho que as pessoas sonham.

A questão era que Adegenor acreditava que seus sonhos eram mais que sonhos, mais que apenas o cérebro organizando suas bagunças do dia a dia.  Acreditava com todas as dobras de seu estômago que eram profecias, vaticínios, prenúncios.
E desta vez ele sonhou algo realmente contundente. Sonhou que era um macaco. Um bugio, peludo, avermelhado, beiçudo, que roncava, estercava na mão, cheirava e  depois atirava nos inimigos. Foi assim que aconteceu:

- Estando Adegenor tranquilo da vida, sentado em seu galho de pinheiro favorito, catando piolhos do saco e lambendo os dedos depois, que ouviu um zunido estridente, algo assim: zzz,,zziiimm, zzzz..
Pensou imediatamente em abelhas, ou talvez marimbondos, comuns na primavera. Olhou para todos os lados e não viu nada, mas o barulho continuava. Por vezes, dava a impressão que estavam à sua volta, mas não via nada. Começou a observar melhor, ergueu-se de seu galho e aguçou o olhar para todas as direções. Mesmo assim, nada. Apenas aquele zumbido. 

Catou mais um piolho e o mastigou lentamente, pois mastigar piolhos o ajudava a raciocinar com mais clareza. O zumbido continuava. Enfiou o dedo na língua e molhou a mão, levantando-a em seguida para perceber a direção do vento. Nada. Não havia vento algum, mas o barulho continuava.
Ora, quando o inimigo mostra sua presença por meio de sinais, temos que nos preparar para a batalha, para a guerra mesmo. Adegenor preparou sua defesa municiando a mão com bosta e ficou atento. Assim que ouviu novo zumbido, de chofre atirou uma carga na direção do zumbido. Uma tragédia: não demorou nem um minuto e começou a apanhar feito guri malvado. Levou tanto tapa que acordou. Ao seu lado, a mulher, com a cara toda enlameada, olhar de ódio, enchendo o cagão de tapa e pontapés.

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