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Golpe de Estado a caminho na Venezuela
Será hoje, 24 de março, ou amanhã, o possível fechamento do Congresso Nacional da Venezuela. E no dia 30, a declaração de Ditadura integral no país. Pelo menos é o que circula em grupos de whatsapp por lá, informando ainda que acabou a gasolina no país, e a população precisa buscar alimentos em Rondônia, no lado brasileiro, o que já é sabido por todos.
Como se prepara um golpe de Estado?
Esta pergunta é simples, mas a resposta é complexa. Atribui-se falta de inteligência à ditadores que se instalam no poder e lá permanecem ou tentam permanecer às custas do sofrimento do povo. Mas não é bem assim que acontece. Um golpe de Estado exige preparação, planejamento, acordos internos e externos, infraestrutura, e paciência. Nenhum golpe acontece da noite pro dia, e se assim às vezes parece ser, na verdade houve muito tempo de planejamento, costura de alianças, e distribuição de benesses, bem antes disso acontecer.
É possível um golpe de "Estado", em um Município?
Sim. Um golpe não significa necessariamente uma ditadura aberta ou a quebra da legalidade. É perfeitamente possível que aconteça um golpe, isto é, um conjunto de manobras para a manutenção e perpetuidade do poder por determinado grupo de governantes. Nesse caso é um golpe institucional, dentro da legalidade, mas completamente fora da moralidade.
Como ocorrem os golpes?
Geralmente começam nos braços do povo, mas nem sempre seus ditadores são populistas. No primeiro caso, um golpe militar pode acontecer por uma situação extrema, como quebradeira, falta de definição clara das instituições, em um momento onde a sociedade se encontra desmobilizada, e a baderna se instala pelas ruas,promovendo a insegurança coletiva, a falta de suprimento das necessidades básicas, como alimentação, medicamentos,combustíveis, e a partir disso, os quebra-quebra em supermercados, lojas, hospitais, etc. É aqui que entram as Forças Armadas em ação, e de forma ostensiva, tomam pontos estratégicos, como vias e acessos de mobilidade urbana,escolas, para conter os estudantes, estações de água, energia, abastecimento, hospitais, e principalmente, fronteiras. Para que tenham tranquilidade em suas estratégias, fecham jornais, emissoras de rádio e TV, bloqueiam internet, e cerceiam a liberdade de imprensa. Estes são os golpes militares. Já os golpes civis,geralmente opostos aos militares, seguem o caminho inverso, tomando ruas, os mesmos lugares estratégicos, mas principalmente chamando atenção da imprensa internacional e local. Precisam da opinião pública, e do senso de humanidade dos militares, que permanecem como observadores, de prontidão, mas sem interferência direta. Contam ainda com o senso de civilidade dos governantes, que no geral, são defenestrados mais por incompetência política ou administrativa, corrupção, e fraqueza moral, do que por atos de violência direta. Nestes casos, em determinado momento chega-se a um ajuste de contas onde os governantes são retirados pela pressão, ou então saem pela porta dos fundos, liberando os palácios, onde se instalam os novos mandatários provisórios. Daí pra frente,o Estado regride, a economia desaba, e durante muito tempo podem ocorrer trocas de governantes, para acomodação das diversas correntes que contribuíram para o sucesso do golpe, os Partidos e os Sindicatos, que querem agora a sua fatia de poder. O novo governo ou conjunto deste, tem que negociar com sindicatos os cargos, as benesses possíveis, e a formatação das políticas de Estado.
Como surgem os ditadores?
Nenhum ditador sobe sozinho, às suas expensas. Sempre que um nome se projeta como libertador, ou soberano, atrás de si se arrasta um rabo imenso de conspiradores e conspirações tramadas há muito tempo. Em todos os casos, o golpe é precedido por uma sequência de ataques ideológicos para enfraquecer as bases de sustentação da legalidade política, e o resultado disso é vendido ao povo, que faz como um bando de flamingos no cio, enfileirados, virando a cabeça de um lado a outro, até que são devorados pelos jacarés, que os atacam por baixo, enquanto olham pra cima.
E um golpe em um município, é possível?
E como! Sempre que se ouve falar de golpe, imagina-se a presença de tanques de guerra e carros militares nas ruas, um ditador com quepe alto como os nazistas usavam (leia-se Pinochet). Mas eles se atualizaram. São elegantes, bem falantes (isso quase todos são. Hitler, Mussolini e Fidel Castro hipnotizavam multidões quando falavam). Mudaram a abordagem de ataque. Enquanto os ditadores anteriores acentuavam o nacionalismo, a xenofobia, as causas sociais (Trump está ind na contramão da história), os modernos ditadores distritais servem-se do descontentamento natural do povo com seus governantes. Todo governante que permanece certo tempo no poder, arregimenta inimigos, e tudo o que fez, é lançado por terra, como se durante os cinco mil anos de civilização fossem anos de trevas, e uma luz salvadora fosse projetada sobre um líder que se evidencia, e deste líder viriam todas as soluções para os problemas do município, e principalmente para a prosperidade tão desejada, e muitas vezes desapercebida, por já existir, mas que agora, com este novo libertador, a paz reinaria imediatamente após sua vitória e posse.
Triste engano. Só que daí já é tarde. Seus fanáticos militantes descobrem que até a bailarina faz cocô, quanto mais o seu herói, que, não precisa mais nada exceto manter-se na legalidade para que permaneça com a caneta na mão, seja ela de esquerda ou de direita. Não precisa mais agradar o povo, pois a estrutura administrativa e gestora existente é capaz de manter-se funcionando sem grandes decisões de risco. Então, o ditador só precisa de uma forma de perpetuar-se no poder, e começa a fortalecer o Estado, isto é, sua estrutura administrativa, a criar vínculos de favorecimento de grupos, e estabelecer comandos específicos, benesses, cargos inovadores que enalteçam o ego dos assessores, e gerar polêmicas pontuais que desviem a atenção do principal.
Como reconhecer um ditador?
Pelo populismo. Todo ditador adora multidões, porque sabe manipular as palavras de tal modo que exerça, pela oratória eloquente, poder pontual, isto é, que é diante destas multidões que percebe seu carisma de motivador e acelerador das massas de manobra.
A multidão é acéfala. Sempre. Multidão não pensa. Apenas age. Quem pensa é quem planeja, quem desenha estratégias, e não necessariamente o ator-ditador, que também é manobrável e manobrado. Hitler não seria quem foi, se não tivesse Goebbels atrás de si. A ditadura militar no Brasil só se manteve enquanto Golbery do Couto e Silva esteve lúcido e ativo no planejamento das ações. Da mesma forma, os estrategistas nada são sem seus títeres para manipularem diante das massas alucinadas. O silêncio dos pensantes é o grande perigo das turbas ruidosas. É no silêncio dos olhares diagonais que o diorama dos generais de configura.
*Nota do editor
Nenhum ditador foi maltratado para a composição desta reflexão. Não tente fazer isso em casa com a família. Os resultados podem ser desastrosos. E para complementar, esta é uma elucubração fictícia e ninguém nesse mundo se encaixa no perfil do que foi descrito aqui. Qualquer coincidência é mera semelhança.
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