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quarta-feira, 22 de março de 2017

Procuro por herois



Sou palestrante e gosto de pensar que minhas palestras possam ter sabor de motivação para quem as prestigia. Gosto de pensar que ficar jogando vinagre na ferida não facilita a cura. Só faz assepsia. Muito bem. Assepsia está em curso no Brasil. A turma do fumacê está desentocando ratos, aranhas e baratas de cantos escuros, de onde apenas saem vermes, insetos e políticos de má qualidade. Então, é vinagre na ferida do Brasil, porque ardeu muito e vai arder muito mais ainda. O mundo viu, e embora sendo o mundo um lugar tão contaminado quando o Brasil, esta foi a nossa vez de gemer pelas feridas abertas. E gememos forte.  Os vizinhos escutaram e agora conhecem a nossa fraqueza, o nosso medo de injeção. Viu o nosso traseiro desnudo sendo esfregado pelo algodão embebido em álcool para desinfetar a picada da agulha curativa. Sim senhor. O mundo já sabe que somos fracos pra dor.

A vantagem é que o mundo também já sentiu a mesma dor, e até pior que a nossa. A civilização européia foi moldada no fio da espada e no calor da febre da Peste Negra, da Peste Bubônica, da inquisição, de duas guerras mundiais, do Império Romano e tantos outros impérios ao longo de tantos séculos. Então, sim, eles sabem gemer no tom certo. Tem o timbre adequado para o choro convulso. Tem a têmpera da espada que corta e mata. Tem a finesse de saber chorar em silêncio, mas também tem a ousadia de gritar em praça pública.

Eis a questão: saber gritar em praça pública. Até pra isso é preciso coragem, sabedoria, planejamento. Até para fazer panelaço, é mister (necessário -  é que resolvi falar mais erudito). Até nisso temos que educar-nos para que a bateção de panelas seja favorável às reivindicações. No ritmo certo, com a voz de comando adequada, e principalmente com os objetivos bem alinhados. Isso o que buscamos: objetivos alinhados. e quais são estes objetivos?

Nos dias de antanho, a mãe desejava para a filha nubente, que o noivo, seu futuro genro, fosse  um moço decente, honesto, respeitador, bom pai,e trabalhador. Já o pai, desejava para o filho que ele fosse másculo, viril, dominador, bem de vida, e que gerasse um filho homem, que daria continuidade ao seu bom nome.

Ora! Um e outro desejavam e projetavam no  filho, genro, nora, netos, tudo aquilo que entendia como objetivo de vida para sua prole. Mas e desde quando ser honesto, viril, dócil, decente, e outras virtudes, são de fato virtudes? Não são apenas elementos mínimos necessários para que a civilidade prospere? Onde ficam então os sonhos, as realizações, onde fica aquela velha força de vontade da juventude, quando queríamos mudar o mundo? Curar as feridas da sociedade?Onde ficou aquela rebeldia sem causa, que já era em si uma causa, quando precisamos bater panelas? mas bater panelas pra que? o que queremos alcançar com o barulho das multidões?

Pois, apesar da minha profunda mágoa e ira com os que praticam as coisas que abalam a minha confiança nos governos, ainda acredito na resiliência das pessoas, ainda que mergulhadas na fervura deste imenso panelão de discórdias.

Ainda sou daquelas pessoas que oro pelo meu país, pelo governo que temos, independente quem seja, acima deste, há Um Governo maior, a quem posso recorrer. Uma Instância Superior. E acredito que a resiliência não acontece sem vontade de mudar. A mudança então é agora. As forças do mal se arregimentam para votos de currais, para perpetuidade no poder, e o povo, como cordeirinhos que mesmo sentindo o cheiro do abate, deixa-se levar ao matadouro, sem reação, sem plano de fuga, sem determinação para promover as mudanças.

Triste país que precisa de heróis. Mas precisamos de heróis.Muitos. Talvez uns duzentos e vinte milhões deles. Talvez este herói seja eu mesmo. E talvez também possa ser você. Ou nós dois juntos. Ou juntos conosco os outros duzentos e vinte milhões. Aqueles das escolas arruinadas, das ruas inseguras, da falta de pão à mesa, dos hospitais superlotados e do Congresso exaurindo gordura. 

Não sei quem são os seus heróis, mas sei que é urgente que apareçam. Não temos mais tempo para nos tornarmos derrotados e infelizes.

Meu herói nesse momento chama-se trabalho. Dignidade. Emprego para todos. Saúde em abundância.Mesa farta, e sono tranquilo. Creio que vá gostar deste herói também quando o encontrar por aí.



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