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segunda-feira, 20 de março de 2017

Acreditei no Brasil. E agora?



O grande empecilho de uma carreira não é a concorrência, nem a falta de capacitação. O grande inimigo do sucesso em tempos de crise é o orgulho ferido, misturado com a falsa esperança que um raio de luz vindo do céu poderá acelerar a volta do sucesso, sem que muito sol a pino passe em nossos dias, até que o mundo volte a funcionar, e isso não sem os esperados e inesperados, mas indesejados estragos que todas as crises se comprometem em oferecer aos que ousam atravessá-las cm a cabeça erguida.
O problema do recomeço é o esforço inversamente proporcional ao sucesso que obteve antes da queda. Quanto mais alto voou, mais arrastada fica a nova decolagem. Quem já decolou como águia e aterrizou como um pato, não consegue administrar o recomeço sem o aperto da vergonha, por que passam aqueles que precisam redimensionar seus sonhos, enquanto atravessam o corredor polonês no vale das tentativas e erros, que o recomeço exige.
O mundo está virado de cabeça pra baixo. A Primavera Árabe, que prometia dar um fim na tirania de uns poucos ditadores, arrefeceram a esperança da tão sonhada democracia, em troca do terror diuturno do Estalo Islâmico, ou dos bombardeiros russos, ou ainda dos medievais fanáticos do Boko Haram, que tentam transformar a África em califados e feudos, arrastando o mundo árabe para a idade das trevas, mas não sem antes bater o ponto no Inferno de Dante.

Acreditando estarmos livres e vivendo num país democrático, acordamos estarrecidos com escândalos atrás de escândalos, de tal monta, que desenterra os pavores noturnos, e o angustioso medo de dormir, porque o castigo do sono pode ser um acordar ainda pior. Passamos a temer a noite e empreender a luta de Jacó contra o sono, para que ele não nos faça chegar ao amanhã desconhecido.
O amanhã, antes dito como esperança, torna-se nosso algoz. A angustiosa madrugada insone nos açoita. As divagações com o travesseiro são o libelo acusatório de nossos erros, e o primeiro canto dos pássaros apenas nos fazem lembrar que aquilo que fora esperança de um novo dia, revela-se apenas agora, como outro dia.Apenas um dia a mais.
Porém, este novo mundo depois da Primavera Árabe não é o mundo dos fracos. A lei do mais forte começa a ser cobrada pelos tribunais da sobrevivência. E o senso de manter-nos vivos e dignos aperta nossa garganta até que o fôlego que resta exala o grito de libertação. E vamos em frente. Recolhemos as forças, respiramos fundo, e enfrentamos co corredor polonês dos olhares, dos risinhos, das ironias. Mas aquilo que não nos mata, dizia Nietzsche, nos fortalece. E uma vez que os risinhos nos condenam, são os risinhos também que nos absolvem e nos libertam. E respiramos fundo, e seguimos em frente.
Seguir em frente é o refrão necessário ao Brasil.Os políticos e o governo, ao se aliarem com os empresários, e desta amálgama fazerem brotar as monstruosas aberrações como filhos espúrios cuja placenta é de estrume, cujo cordão são dutos por onde escoam as sujeiras do poder, onde o poder é a muleta para o genocídio sob a chancela da Justiça, agora revestida de injustiças, emergem vorazes como leviatãs que devoram seus filhos para satisfazerem suas panças gelatinosas e suas mentes viscosas, desesperados por devorar mais e mais.
Passei por muitos vales e subi muitas montanhas. Desci e subi muitas vezes, mas o que vale recordar é que também ajudei muitos a subirem, e não recordo que tenha empurrado alguém ladeira abaixo. Isso não significa que desafetos sempre trinfaram sobre minha perplexidade, mas que se despencaram, o fizeram por conta da própria incompetência, posto que já tenho a minha incompetência para administrar, e pior que isso, administrar o estrago da incompetência que o sistema deteriorado que mantemos tem despejado em nossos ombros dia após dia.
Andamos quase em círculos em busca de alternativas que nos permitam legarmos aos que nos sucedam motivos suficientes para que leiam nos anais da historia os nossos erros, mas contabilizem a razão daquilo que efetivamente fomos capazes de acertar. Eu, pelo menos, caminho nesta direção;
Estou disponível a novos desafios. Minha idade, cinquenta e nove anos, não é um peso, mas uma mola propulsora, porque se força física pode vir a faltar-me, compenso em força moral e boa memória para vivenciar outra vez aquilo que fiz de louvável.



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