Gosto de falar de coisas que elevam o espírito. Crise não eleva. Mas põe em alerta. Vacina. Fortalece. E crise é a palavra de ordem no mundo em nossos dias. Dias que sobrecarregarão as páginas de história. Dias que poderão separar os vencedores dos desiludidos. Então, preciso refletir sobre o dia na turbulência do dia, o que é raro, pois reflexão sobre as coisas, em geral, acontecem quando tudo terminou. Mas nem tudo terminou. Ou melhor: acaba de começar.
Minha reflexão caminha pela triste situação moral do Brasil, que não é nova, mas que se expôs à luz. Corrupção é antiga, mas agora desabou. Como a barragem de Mariana, a corrupção no Brasil soterrou esperanças e credibilidade nas instituições, nos empresários, nos políticos, e na pátria. A pátria pede socorro.
Mas o que é a pátria, senão o cidadão que encontra outro cidadão para edificarem coisas de benefício comum em busca da felicidade? A pátria é a terra apinhada de gente com ideais. Mas aqui e agora, os ideais ruíram. Pergunte a um jovem o que ele deseja para o futuro, em lugar de construir sonhos, ele deseja apenas honestidade. Deseja apenas prisão para os corruptos. Deseja apenas saber que seu trabalho não será em vão naquele dia e que seus impostos não serão solapados pela ganância daqueles que roubam nos impostos a esperança da pátria.
Gramado não é mais uma bolha, e a crise chegou. Leio que a lei Rouanet não vai mais financiar o Natal Luz. Mas é sério, eu não estou preocupado com o natal Luz. Ele não é só um momento de fé e descontração de uma comunidade, mas um negocio de milhões. E seus gestores devem pensar em milhões em cada evento que fazem. Então, se o dinheiro da República está minguando a cada dia, a exigência de imaginação e boas iniciativas emerge como resposta aos gestores e idealizadores.
Devo lembrar que quando foram criados os eventos de Gramado, lá em priscas eras, não havia dinheiro da República (exceto no período dos militares, quando jorrava em cascatas e sem exigência de prestação de contas), mas era o trabalho comunitário quem emprestava a beleza do que acontecia. E a seguir, buscar patrocinadores era apenas um passeio.
Gramado é linda, mas não é única. Hoje centenas de pequeninas cidades começam a mostrar seu próprio brilho, muitas delas inspiradas na própria Gramado. Outras inspiradas na pátria de origem, criam eventos que caracterizam suas culturas, e acabam por atrair a atenção de outras pessoas, e este crescente dá continuidade ao crescimento destes eventos. Uns vão, outros surgem. Não se pode imaginar que aquilo que deu certo por alguns anos vá ser padrão para a eternidade. Não tem como isso acontecer, mesmo porque o ser humano é transitório, efêmero, e se entedia facilmente, até mesmo com o excesso de brilho na escuridão das águas dançantes.
A atual administração ganhou de mão beijada um conjunto de eventos e estrutura, que os obriga a buscarem recursos para que não deixem cair o status de oferecerem melhor aquilo que os outros faziam bem feito. Só que está faltando criatividade, e então vão mascarando aqui e ali alguns componentes, até que descubram onde estão todas as gavetas deste armário intrincado chamado Eventos.
O desafio destes gestores, alem de não deixarem desabar aquilo que ainda estão tentando entender, é renovar seus estoques de inovação. E embora o tempo ainda seja curto (será sempre curto), Gramado espera expectante o desenho das estampas dos fogos que farão brilhar a noite da crise que está chegando, como aquelas explosões coloridas e faiscantes dos fogos de artifício. A pirotecnia dos gestores é um dos componentes que se exige de quem se propõe a comandar uma cidade que vive da inovação e do espetáculo. Mas até aqui, tudo ainda está cor de cinza. E a noite vem chegando.
O Prefeito não está conseguindo despertar o espírito pátrio de sua equipe, que ainda se debate em erros primários, e não encontrou seu ponto de equilíbrio entre o andar pra frete e o não retroceder. Há que se lembrar que Gramado não é uma cidade de 40 mil habitantes, mas é uma cidade de 40 mil habitantes que tem uma identidade única no Brasil e que recebe seis milhões de pessoas no ano, ávidas por êxtase e famintas por sabores. Não basta que seus gestores sejam "campeões de captação" (e ainda não deu pra saber isso), ou bons de discurso populista, ou empreendedores (o que ainda pode ser discutido), mas que sejam melhores do que aqueles que criticavam. Que sejam únicos, que sejam heroicos, porque o tempo é este. O Brasil precisa de heróis com urgência. E Gramado está na capa da gaita para precisar de alguns também, pois quanto mais alta a árvore, maior é o estabaco.
Fedoca tem o compromisso de ser melhor que Pedro e Nestor juntos, pois críticas não faltaram, ao referir-se à eles como "continuidade". Então, Fedoca certamente será a descontinuidade, e quando entendo continuísmo, entendo que nada daquilo que fizeram é digno de sua grandeza como gestor. Nesse caso, torna-se, por esta reflexão, um pequeno "Estadista", uma vez que seja capaz de entornar todo o mau passado que critica, no belo futuro que promete.
Tenho visto várias publicações onde Gramado ainda recebe prêmios, indicações, reconhecimento de figurar entre os melhores destinos do mundo, mas fico estarrecido que ao receber tais títulos, alguns com homenagem presencial, em nenhum deles vi uma menção aos que construíram o caminho para este reconhecimento, e passa a impressão, que certamente será utilizada em campanhas futuras, contando com a falta de memória das pessoas, que tais e tais prêmios tenham sido recebidos por méritos deste gestor. E não é assim que isso acontece. Então, posso cobrar aqui publicamente que Fedoca tenha o senso ético de lembrar isso, em beneficio de Gramado e não apenas como trunfo eleitoreiro.
Você vai esperar pra ver, ou vai agir? Vai cobrar do Prefeito e sua equipe que mostrem o que tem na mesa para enfrentarem a crise que está chegando? Digo por mim, que por várias vezes pedi informações, projetos inovadores, e só recebi simpáticas evasivas de que "nossa equipe está trabalhando nisso". Eu acredito que estejam, mas,o gramadense quer saber o que acontece nestas gavetas.
Acredite ou não, a crise chegou e O Prefeito tem responsabilidade em blindar sua cidade para que sofra o menos possível os danos causados.
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