"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." |
Obras Completas de Rui Barbosa. V. 41, t. 3, 1914. p. 86
Os dias não começam mais no fim da madrugada, como diz uma canção, mas na noite anterior, onde e quando as incertezas ofertadas pelas notícias que se amontoam, crescem em espiral, e devolvem-nos ao aprisco da ansiedade, onde uma caverninha parece ser o lugar dos sonhos, onde não desejamos mais as luzes, mas a quietude da paz.
A Justiça tornou-se um espetáculo para as luzes ofuscantes da mídia, e o progresso, apenas uma frase secundária no meio de uma bandeira que não simboliza mais aquilo que traduzia, ao ser desenhada no fim do Império.
Tornamo-nos espectadores e atores de um espetáculo que mistura tragédia com comédia, cujos protagonistas disputam a primazia das manchetes. Triste país, onde um Magistrado torna-se o primeiro bailarino de um bailado cheio de sombras, que assola o imaginário da platéia, a cada vez que rodopia versos do saber jurídico, para enredar outros versos das artimanhas dos oponentes, enquanto os réus riem-se à tripa-forra com aquilo que confiscaram do erário público, à luz de velas da penumbra dos hospitais de onde suprimiram equipamentos; ou das estradas que polvilharam buracos para matar pessoas, as mesmas que velozmente fogem do nada para lugar nenhum.
Triste país onde buscamos heróis, e onde os heróis nos salvam de nós mesmos,porque desejamos ver presos aqueles que conseguiram roubar mais do que nós, que roubamos nossas vidas e nosso tempo, enquanto eles roubam creches e escolas.
Triste país que busca heróis nos tribunais e não nas lavouras, nas fábricas, na Educação.
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