O ano era 1988. Eleições Municipais em Gramado, destacavam, de um lado, Enoir Zorzanello, pela Situação, e de outro, Nelson Dinnebier, na Oposição. Enoir era Vice Prefeito, e o Prefeito era Pedro Bertolucci. Enoir tinha uma dianteira confortável, que praticamente o assegurava como novo Prefeito de Gramado. Porém, como nada é garantido em política, na calada da noite, um costume contumaz da velha política, usado por todos os partidos em todas as eleições, que era largar folheteria apócrifa (oculta, secreta) nas portas das casas, poucas horas antes da eleição, dominou os comentários da população, e Enoir acabou derrotado por onze votos. Isso mesmo: Dez mais Um!
O que trazia de inusitado o tabloide da noite, que teve o poder de virar uma eleição? Continha uma infinidade de acusações contra o então Prefeito, Pedro Bertolucci, contra alguns de seus secretários, e mais outras pessoas envolvidas em uma obra gigantesca, que marcaria um divisor de águas em Gramado: o Lago dos Pinheiros!
A documentação relatava com riqueza de detalhes e um texto muito bem elaborado, denunciando uma imensidão de irregularidades e acusava a administração de desvio de recursos. Resultado: A eleição foi perdida. Anos se passaram e todos foram inocentados nos tribunais, em todas as instâncias. Comprovou-se que não é o fato que importa, mas a versão do fato, e o momento certo para levá-la ao eleitor.
O impacto da informação é mais relevante que a informação em si, e quando se tratar de uma eleição, até o último voto no fim da tarde, as redes sociais, e antigamente, os rádios de bolso, ficavam permanentemente ligados nas emissoras ou canais de notícias, mas especialmente as conversas de pé de ouvido, hoje trocadas pelo whatsapp, são instrumentos fundamentais neste processo. É assim que funciona. De todos os lados. Mas vamos adiante. A Barragem dos Pinheiros.
O Parque dos Pinheiros foi, e confio que ainda será, o grande projeto turístico de Gramado. E o que aconteceu no campo político, que travou a obra e nunca mais foi concluída, e se não houver um ponto de equilíbrio,se não for dado um fim ao ranço político, que já quase se tornou "apocalíptico",corre o risco de tornar-se um elefante lamacento, assim como foi o famoso "Cassino" de Canela, até hoje em ruínas. E quando falo em "mau cheiro", estou falando principalmente do mau cheiro da politicagem que precisa acabar, para que se conclua de vez este maravilhoso empreendimento, e torcendo para que seja uma obra celebrada por três Prefeitos abraçados no dia da inauguração.
Ouvi de um dos envolvidos no caso a seguinte historia:
A CORSAN (já ouvi esse nome antes, não lembro de onde) era responsável pelo Projeto da represa. Veio o projeto, foi liberada a verba, e deram início às obras de escavação e sondagem do solo. Eis que encontram uma rocha, a determinada profundidade, e o cálculo do material foi feito então para aquela profundidade. Porém, descobrem, durante a sondagem, que a tal rocha não era um rochedo e sim uma pedra solta. Grande, mas solta, e oferecia risco de deslizamento e uma catástrofe. As obras param, para que venha novo projeto da CORSAN. Esta, emperra na burocracia e o projeto não sai.Porém, havia uma equipe de trabalhadores contratados. Para que não ficassem lá contando moscas, Pedro Bertolucci, Prefeito, põe a equipe a plantar hortênsias na descida dos Três Pinheiros e Várzea Grande.
Troca de Governador
Acontece que o Governador Eleito era de oposição ao Governo Municipal, e assumiu o Governo do estado, com um canetaço, mandando parar a obra para investigações, etc e etc. Resultado: A obra estagnou, os processos começaram, e isso tudo juntado, empacotado e espalhado pelas portas das casas na madrugada da eleição, deu vitória ao PMDB. E o Parque dos Pinheiros não estava nas prioridades do novo Prefeito. Ficou a céu aberto.
Troca de Prefeito
Novamente Pedro volta e retoma o projeto e as obras, enquanto enfrenta uma sequencia de processos relativos ao projeto. Enfim, não sei de tantos detalhes nem vem ao caso agora. O que vem ao caso é que novamente o Parque dos Pinheiros, hoje um belo açude que recolhe o estrume de vários bairros, está lá esperando solução.
Fedoca e sua equipe então recebem a informação que há dois milhões a serem devolvidos ao Governo federal por descumprimento da obra. De novo, empenha o Prefeito da vez, energia e tempo, em busca de solução para o Parque. De novo, um Prefeito entra e desdenha o que o outro deixou de fazer. Fedoca não inventou esta prática, e certamente não encerrará em uma cápsula a última vez que um desafeto político joga cisco no olho do outro.
O que então aconteceu na gestão de Nestor Tissot, Prefeito que antecedeu Fedoca? Fui perguntar ao Nestor e eis o que respondeu:
Nestor Tissot
Dona Rosaura, funcionária na época da FEPAN, hoje Secretaria do meio ambiente, e a responsável junto com sua equipe da FEPAN, por termos conseguido levar adiante este projeto turismo de mais ou menos 50 milhões de Reais , tínhamos várias empresas interessadas neste parque , faríamos uma concessão pública , o ganhador instalaria, teleférico, trenó, gôndolas no lago, enfim, eram 5 equipamentos no parque e ainda haveria a possibilidade da prefeitura ter a participação na venda do ingresso. Ou seja, Gramado teria mais um grande atrativo turístico, sem colocar mais dinheiro e com o tempo, buscaria de volta todo o investimento público que fez, sem contar o número de visitantes que atrairia, fortalecendo ainda mais a economia.
Mas a digna secretaria não foi capaz de ajudar Gramado e o Rio Grande do Sul , como fazia; de tempos em tempos pedia mais documentos para licenciar o parque , uma, duas, três , quatro , cinco sei lá 10 vezes do 90 em 90 dias pediam mais e mais documentos. Chegou certa vez que pediram documentos que já havíamos mandado em uma destas ocasiões e nem lembravam, tanta era a bagunça ou ma vontade com Gramado.
Desta feita até meu secretário de meio ambiente na época , Arquiteto Marcio Coracinni perdeu a elegância lá na Fepan. Nos enrolaram 7 anos, até que desistimos de lutar numa coisa que não andava. Lembro que isto começou no governo Tarso , que quando assumiu o governo veio à Canela e na passagem me visitou no gabinete, acompanhado da Secretária de turismo do seu governo, Sra Abigail, ocasião em que mostramos o projeto, ele ficou encantado, determinando que a secretaria nos ajudasse junto à FEPAN pois o projeto era também um exemplo para o turismo no Estado.
O tempo foi passando e não andou, veio o Governo Sartori, levamos ao seu conhecimento também , mesma conversa, contém conosco, mas a FEPAN nao andou. E hoje vejo sta mesma a Senhora na chefia da Secretaria. No mínimo contando a sua versão contrária, com certeza,e a iniciativa também foi dela de achar de novo algum culpado para isso. Único culpado desta paralisação e ela e sua equipe da FEPAN que mandaram embora do Rio Grande do Sul centenas de investimentos, milhões e milhões de arrecadação, milhares de empregos que migraram, muitos para Santa Catarina , onde inclusive minha empresa também está indo, pelas facilidades e ajuda do governo catarinense.
Mais uma coisa: Quando fizemos o pedido de liberação na FEPAN , o parque estava licenciado, o que nos faltava, era só a liberação para instalação dos cabos do teleférico. Porém, o tempo foi passando, venceu a licença do parque , e não mais a conseguimos, sendo que hoje precisa das duas. O Coracinni está ao par de tudo isto , como também toda a equipe que estava conosco na secretaria do meio ambiente. E Paulo vejo com muita tristeza isso tudo , pois gostaria muito de saber os motivos sinceros que levaram à não autorização do parque , mas e agora será que já está liberado?
É curioso isso tudo.
Abraço
Nestor Tissot
Nota do Editor
Estou oferecendo espaço ao Prefeito Fedoca e também à Secretária Rosaura, mencionada na entrevista, para que deem seus depoimentos e esclareçam aos leitores o assunto.
Acrescento que existem muitas soluções práticas e rápidas para dar solução ao Parque, e eu mesmo tomei a liberdade de enviar ao Prefeito Fedoca uma destas alternativas, a partir de modelos existentes.
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