Em 1977, Gramado recebia uma equipe de produção da Linx Filmes, em co-produção com a Editora Três, para sediar o set de filmagem de uma história de terror, ao estilo "Bergmann", pelo Diretor de cinema, Walter Hugo Khoury. A produção teve apoio integral da Prefeitura, pela influência do então Secretário de Turismo, o Capixaba Esdras Rubim, entusiasta do cinema e das artes.
Entre outras facilidades, a cessão de um "coringa" da Secretaria de Turismo, com trânsito na região, para que localizasse e providenciasse cenários, objetos, figurantes, enfim, os periféricos da filmagem. Este coringa fui eu. Uma forma simpática do chefe livrar-se de um aborrecimento diário, destacando o indivíduo para um set de filmagem.
Metido como sempre fui, obviamente tratei de tentar entender tudo o que estava acontecendo na filmagem, fiz amizade com diretores, atores, equipe de produção, e em pouco tempo já cumpria minhas funções de regra três na equipe,como assistente de produção.
Obtive certo prestígio na comunidade, porque andava pra lá e pra cá ao lado dos atores, em busca de figurinos, cenários, objetos emprestados, enfim, eu tava nojentinho de bater de chinela. Haviam poucos restaurantes naquele tempo, e dois ou três eram o ponto de encontro da equipe à noite, especialmente nos fins de semana, pois recebíamos um vale-refeição da produtora que equivalia um belo refestelo regado a uma garrafa de bom vinho, nos melhores lugares. Mas além disso, também fazíamos as refeições no próprio set de filmagem, para não perder tempo e dias ensolarados, que eram raros. Desta forma, acumulávamos os vales, que eram distribuídos aos amigos para umas festanças de vez em quando.
O interessante destes encontros,especialmente no "Chez Pierre", a que o diretor da Linx Filmes não conseguia lembrar do nome de um prato, a Raclette, e chamava de "Tarraqueta". Daí Chez Pierre recebeu também o codinome de tarraqueta. Era então na Tarraqueta que aconteciam as prosas políticas, especialmente, e como eram todos opositores dos militares, ouviam-se histórias interessantíssimas das conspirações dos atores contra o Regime Militar.
Numa destas conversas, e animado com minha cidade, com aquelas filmagens, e também por eventuais comerciais que faziam locações em Gramado, perguntei ao Khoury, por que razão não se faziam mais filmes em Gramado, pois com tantas locações, com cenários tão lindos, certamente não faltariam bons roteiros e apoio para tal proposta.
Gentilmente, Khoury deu-me uma aula de cinema, e nesse quesito, o que pude concluir é que Gramado, apesar da fama e da boa vontade, não tinha ambiente para tornar-se uma Hollywood brasileira, por uma razão muito simples: O clima não colaborava. Gramado tem clima muito instável, chove, faz frio, neblina em excesso, umidade, enfim, uma produção de cinema tem prazo limitado para trabalhar, pois depende de locação de equipamentos, cenários, e com esta instabilidade climática, torna-se inviável qualquer tipo de produção na região. E como argumento, deu exemplos de Hollywood, que fica no deserto; ou muitas filmagens brasileiras, feitas no sertão, onde chuva é o que menos tem. Então, o custo de uma filmagem em Gramado seria muito maior e com probabilidade de fracasso ainda durante a produção.
Leio então que Fedoca demonstra interesse em inovar conceitos, e uma destas inovações estaria atrelada ao sucesso do Festival, propondo que Gramado torne-se também um polo de produção de cinema. Vamos analisar a questão sob a óptica da tecnologia, e sim, não há nenhuma restrição a isso, e creio que poderia ser o mote de alinhamento de sua proposta de Cidades Inteligentes. Interessante.
A restrição está, no entanto no mesmo problema do polo e tecnologia: antes de formar a produção, é preciso antes formar a inteligência. para isso, universidades. Fedoca começou bem nesse aspecto, trazendo uma extensão universitária para Gramado. É pouco, mas é muito também, pois ninguém fez isso antes. Houve tentativa com a Ulbra, e com uma EAD. Ajuda, mas isso não é suficiente.É preciso mais. É preciso motivar uma ou mais universidades para que sejam instaladas em Gramado. Aí vale repensar a ideia do Hospital, se houver um complexo que junte hospital, universidade, incubadora, e ainda contemple a população de menor renda com uma fatia do bolo tecnológico.
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