Foto: Professora Sandra Baldisserotto (a pessoa sorridente e sem bigode da foto )
Se você já levou uma bela maçã à sua professora, então você definitivamente está chegando na idade das boas lembranças. Não sei o que a tal "geração índigo" faz para agradar sua professora do Ensino Fundamental, mas na minha geração (aquela que por pouco não beija a mão de D. Pedro), custumava adornar seu relacionamento com a professora dos primeiros anos, com uma bela e suculenta maçã.
Sinceramente, nunca entendi a relação da maçã com o magistério. Talvez aquele cantinho da "casa de Freud" que relaciona a professora com a mãe, mas para acentuar a diferença, porque mãe é uma mescla de anjo com algodão, e portanto impensável, resta à professora trazer nosso imaginário ao mundo físico, e aí a maçã, um adereço que remete à Eva, torna-se a chave para que o imaginário impúbere relacione este Ser Humano angelical com as possibilidades e os primeiros passos para que o menino comece a despertar a intenção de uma eventual possibilidade de casar-se algum dia, e para que tal futuro matrimônio seja pleno de êxito, faz-se mister que a noiva tenha a doçura de um anjo combinada com a sensualidade de uma mulher. Aí ninguém melhor que a professora para tornar-se a escolhida para este imaginário enlace.
Isso dito, trago à baila (não falei que D. Pedro foi paraninfo de minha formatura de ginásio?) a boa recordação das professoras e depois, já em tempos ginasiais, os professores que passaram a povoar nossas boas e más lembranças dos tempos estudantis. Permanecerei apenas com os bons, posto que os medíocres tiveram sua paga efetuada com o esquecimento de todos.
Vamos começar pela minha primeira promessa de felicidade eterna em um lar coroado por possíveis doze ou quinze filhos com ela: Dona Rejane! Ah, que doces lembranças de minhas fantasias maritais, tais como: Arroz Doce, Ambrosia, Feijão com Arroz, Pão com Chimia e Nata...tudo colocado à minha frente por este monumento do céu, com quem planejei contrair matrimônio futuro, e que só não aconteceu, porque eu tinha seis anos de idade e ela, acho que uns vinte, talvez, e por esta pequena diferença de idade, tivemos contrariedade da família e do noivo dela. Pena! Teríamos sido tão felizes...
Seguindo os tempos, tive outras queridas professoras. Até uma que gritava o tempo todo. Mas gritava porque falava alto. Não era má pessoa. Éramos até bem amigos. Aí outra que..ah, desta eu não quero falar. Tomei uma surra inesquecível por conta dela. Bem, o que importa é que sobrevivi ao Primário, e cheguei ao Ginásio. Sem passar pela quinta série. Absurdo,mas é verdade. Na época havia uma espécie de vestibularzinho, o Exame de Admissão, e quem acertasse a média, ingressava no Ginásio. Tive ajuda da minha mãe, também Professora, que repassou comigo, nas madrugadas, as matérias de quinto ano, e outra ajudinha do Professor Romeu Dutra, que achou pitoresco aquele sujeitinho com nove anos de idade prestando exame ao lado de marmanjos com até quarenta anos, adultos que resolveram retomar os estudos. Então, com umas respostinhas aqui, outras aqui, de canto de boca, Romeu foi soprando tudo, e eu passei.
Ali, mudou tudo. Não era mais uma professora. Eram muitos. Terrível, ter que decorar os nomes de todos.Mas daí começam os meus estoques de lembranças destes professores. Doutor Censo Dalle Mole, com quem tive Historia durante todo o ginásio. Contador de historias e apaixonado por ficção científica. Sujeito bonachão e apaixonado pelo que ensinava. Gosto de historia até hoje por conta de suas aulas. Não está mais contando suas historias, porque já descansa.
A esposa do Dr celso, Dona Theresa Dalle Mole, foi nossa professora de Inglês. Elegante, sempre bem vestida, Dona Theresa era a doçura em pessoa , e ainda é, ao que sei. Gostava de desenho e religião,e embora não tivéssemos a mesma crença, sempre foi uma pessoa elegante até mesmo no contraditório das ideias. Bons tempos.
Matemática era um problema. Era o trauma de uns, a arrogância de outros, os que sabiam. Ah, como eram odiados os colegas que tiravam boas notas nesta disciplina. Não sei quanto aos outros, mas eu os odiava, porque minhas notas eram péssimas. Foi, no entanto, um professor bonachão e severo, Ênio Spier, a quem chamávamos de Ki-Suco sem nenhum constrangimento, e ele retribuía nos ensinando matemática de um jeito que ninguém nos ensinara antes. Já descansa também. Saudade dele. Tínhamos um acordo: fazíamos silêncio durante a aula e teríamos cinco minutos inteiros para a bagunça ao final. Feito.
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Roberto Sperb, o "Robertão". Olhar de peixe morto, cigarro com um terço de cinza no canto da boca, e um vozeirão, entrava na sala e sentenciava: "Cardoso! Vai pra rua!" E mesmo assim eu gostava do traste. Todos gostavam.
Sebastião Félix, que depois tornou-se Promotor de Justiça, era um dos favoritos de todos. Uma voz que parecia um trovão, grave, mas generosa, falava mansinho, compassado, andava devagar, e acho difícil encontrar alguém que pense o contrário dele. Passei a gostar de língua portuguesa e literatura a partir de suas aulas. Também repousa entre os justos.
Outras doçuras em sala de aula eram a Roswitha Radtke, a Dulce Bordim, a Zenaide Korb. Ô. A lista é grande.
São muitos, mas homenageio por aqui a todos. Finalizo com Silvia Zorzanello, minha mestra de língua portuguesa, teatro, e arte de sorrir.
Desta forma, um a um dos velhos mestres povoam nossas lembranças. Mas, deixei a cereja do bolo para o final. A professora que nos fez amar as ciências, a biologia, a Natureza e a cumplicidade que pode existir entre alunos e professores. Falo da belíssima jovem caxiense, Sandra Regina Siqueira Baldisserotto, hoje Sandra Regina Baldisserotto Filipini, por quem todos os meninos eram deliciosamente apaixonados, e as meninas encontraram seu modelo de inspiração para avida com entusiasmo.
Certo dia, levei uma grande e vermelha maçã, acompanhada de uma rosa que subtraí no jardim da casa do Professor Hahn, daquelas de vencer cocursos, enormes, perfumadas, e levei escondidas, maçã e flor para a aula. Acomodei debaixo da mesinha de estudos, e ao ouvir o soar do sinal de recreio, csamei a professora discretamente à minha mesa, e dei-lhe meu regalo. Ah, por misericórdia! Eu descobri, naquele instante, que o céu poderia ser aqui. Dentro de uma sala de aula. E acontecia sob um abraço daqueles de rodopiar, acompanhado de um beijo em cada bochecha, que ficou guardado pelas eras das lembranças. Certamente, tornei-me uma celebridade. Foram semanas contando e recontando aquele momento aos grupinhos à minha volta.
Os anos se esvaíram pelas mãos e o tempo, como um furacão, nos distanciou da infância. Levou muitos sonhos e despedaçou esperanças.Mas preservou em uma cápsula das boas lembranças, o que tínhamos de bom.
Pois este ensaio foi motivado pela alegria de ter reencontrado a querida professora Sandra. Linda da mesma forma, ou talvez ainda mais, porque junto dela uma penca de filhos e netas que darão continuidade à dinastia de entusiasmo e determinação, capazes de comover e despertar paixões em uma cidade inteira.
Desculpem os pimpolhos que me leem, mas esta página de hoje tem sabor de saudade. Serve para meus pares da infância lembrarem que ainda estamos aqui.
Se você já levou uma bela maçã à sua professora, então você definitivamente está chegando na idade das boas lembranças. Não sei o que a tal "geração índigo" faz para agradar sua professora do Ensino Fundamental, mas na minha geração (aquela que por pouco não beija a mão de D. Pedro), custumava adornar seu relacionamento com a professora dos primeiros anos, com uma bela e suculenta maçã.
Sinceramente, nunca entendi a relação da maçã com o magistério. Talvez aquele cantinho da "casa de Freud" que relaciona a professora com a mãe, mas para acentuar a diferença, porque mãe é uma mescla de anjo com algodão, e portanto impensável, resta à professora trazer nosso imaginário ao mundo físico, e aí a maçã, um adereço que remete à Eva, torna-se a chave para que o imaginário impúbere relacione este Ser Humano angelical com as possibilidades e os primeiros passos para que o menino comece a despertar a intenção de uma eventual possibilidade de casar-se algum dia, e para que tal futuro matrimônio seja pleno de êxito, faz-se mister que a noiva tenha a doçura de um anjo combinada com a sensualidade de uma mulher. Aí ninguém melhor que a professora para tornar-se a escolhida para este imaginário enlace.
Isso dito, trago à baila (não falei que D. Pedro foi paraninfo de minha formatura de ginásio?) a boa recordação das professoras e depois, já em tempos ginasiais, os professores que passaram a povoar nossas boas e más lembranças dos tempos estudantis. Permanecerei apenas com os bons, posto que os medíocres tiveram sua paga efetuada com o esquecimento de todos.
Vamos começar pela minha primeira promessa de felicidade eterna em um lar coroado por possíveis doze ou quinze filhos com ela: Dona Rejane! Ah, que doces lembranças de minhas fantasias maritais, tais como: Arroz Doce, Ambrosia, Feijão com Arroz, Pão com Chimia e Nata...tudo colocado à minha frente por este monumento do céu, com quem planejei contrair matrimônio futuro, e que só não aconteceu, porque eu tinha seis anos de idade e ela, acho que uns vinte, talvez, e por esta pequena diferença de idade, tivemos contrariedade da família e do noivo dela. Pena! Teríamos sido tão felizes...
Seguindo os tempos, tive outras queridas professoras. Até uma que gritava o tempo todo. Mas gritava porque falava alto. Não era má pessoa. Éramos até bem amigos. Aí outra que..ah, desta eu não quero falar. Tomei uma surra inesquecível por conta dela. Bem, o que importa é que sobrevivi ao Primário, e cheguei ao Ginásio. Sem passar pela quinta série. Absurdo,mas é verdade. Na época havia uma espécie de vestibularzinho, o Exame de Admissão, e quem acertasse a média, ingressava no Ginásio. Tive ajuda da minha mãe, também Professora, que repassou comigo, nas madrugadas, as matérias de quinto ano, e outra ajudinha do Professor Romeu Dutra, que achou pitoresco aquele sujeitinho com nove anos de idade prestando exame ao lado de marmanjos com até quarenta anos, adultos que resolveram retomar os estudos. Então, com umas respostinhas aqui, outras aqui, de canto de boca, Romeu foi soprando tudo, e eu passei.
Ali, mudou tudo. Não era mais uma professora. Eram muitos. Terrível, ter que decorar os nomes de todos.Mas daí começam os meus estoques de lembranças destes professores. Doutor Censo Dalle Mole, com quem tive Historia durante todo o ginásio. Contador de historias e apaixonado por ficção científica. Sujeito bonachão e apaixonado pelo que ensinava. Gosto de historia até hoje por conta de suas aulas. Não está mais contando suas historias, porque já descansa.
A esposa do Dr celso, Dona Theresa Dalle Mole, foi nossa professora de Inglês. Elegante, sempre bem vestida, Dona Theresa era a doçura em pessoa , e ainda é, ao que sei. Gostava de desenho e religião,e embora não tivéssemos a mesma crença, sempre foi uma pessoa elegante até mesmo no contraditório das ideias. Bons tempos.
Matemática era um problema. Era o trauma de uns, a arrogância de outros, os que sabiam. Ah, como eram odiados os colegas que tiravam boas notas nesta disciplina. Não sei quanto aos outros, mas eu os odiava, porque minhas notas eram péssimas. Foi, no entanto, um professor bonachão e severo, Ênio Spier, a quem chamávamos de Ki-Suco sem nenhum constrangimento, e ele retribuía nos ensinando matemática de um jeito que ninguém nos ensinara antes. Já descansa também. Saudade dele. Tínhamos um acordo: fazíamos silêncio durante a aula e teríamos cinco minutos inteiros para a bagunça ao final. Feito.
Continua após o anúncio
Roberto Sperb, o "Robertão". Olhar de peixe morto, cigarro com um terço de cinza no canto da boca, e um vozeirão, entrava na sala e sentenciava: "Cardoso! Vai pra rua!" E mesmo assim eu gostava do traste. Todos gostavam.
Sebastião Félix, que depois tornou-se Promotor de Justiça, era um dos favoritos de todos. Uma voz que parecia um trovão, grave, mas generosa, falava mansinho, compassado, andava devagar, e acho difícil encontrar alguém que pense o contrário dele. Passei a gostar de língua portuguesa e literatura a partir de suas aulas. Também repousa entre os justos.
Outras doçuras em sala de aula eram a Roswitha Radtke, a Dulce Bordim, a Zenaide Korb. Ô. A lista é grande.
São muitos, mas homenageio por aqui a todos. Finalizo com Silvia Zorzanello, minha mestra de língua portuguesa, teatro, e arte de sorrir.
Desta forma, um a um dos velhos mestres povoam nossas lembranças. Mas, deixei a cereja do bolo para o final. A professora que nos fez amar as ciências, a biologia, a Natureza e a cumplicidade que pode existir entre alunos e professores. Falo da belíssima jovem caxiense, Sandra Regina Siqueira Baldisserotto, hoje Sandra Regina Baldisserotto Filipini, por quem todos os meninos eram deliciosamente apaixonados, e as meninas encontraram seu modelo de inspiração para avida com entusiasmo.
Certo dia, levei uma grande e vermelha maçã, acompanhada de uma rosa que subtraí no jardim da casa do Professor Hahn, daquelas de vencer cocursos, enormes, perfumadas, e levei escondidas, maçã e flor para a aula. Acomodei debaixo da mesinha de estudos, e ao ouvir o soar do sinal de recreio, csamei a professora discretamente à minha mesa, e dei-lhe meu regalo. Ah, por misericórdia! Eu descobri, naquele instante, que o céu poderia ser aqui. Dentro de uma sala de aula. E acontecia sob um abraço daqueles de rodopiar, acompanhado de um beijo em cada bochecha, que ficou guardado pelas eras das lembranças. Certamente, tornei-me uma celebridade. Foram semanas contando e recontando aquele momento aos grupinhos à minha volta.
Os anos se esvaíram pelas mãos e o tempo, como um furacão, nos distanciou da infância. Levou muitos sonhos e despedaçou esperanças.Mas preservou em uma cápsula das boas lembranças, o que tínhamos de bom.
Pois este ensaio foi motivado pela alegria de ter reencontrado a querida professora Sandra. Linda da mesma forma, ou talvez ainda mais, porque junto dela uma penca de filhos e netas que darão continuidade à dinastia de entusiasmo e determinação, capazes de comover e despertar paixões em uma cidade inteira.
Desculpem os pimpolhos que me leem, mas esta página de hoje tem sabor de saudade. Serve para meus pares da infância lembrarem que ainda estamos aqui.
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