O poder tem muitos caminhos. Não se trata apenas do mais forte dominar o mais fraco. Ou do mais erudito sobrepujar ao inculto. Não se trata de competir beleza, fortuna, fama, "status quo" ou altruísmo, ou qualquer virtude sobre a falta de virtude dos dominados.O poder é tudo isso junto. Parte hedonismo, parte altruísmo, amor coletivo, parte narcisismo e parte egoísmo. Uma salada confusa que encontra portas abertas na política e nas artes, mas em qualquer situação da vida, onde houver duas pessoas, uma delas dominará, mesmo que inconscientemente.
Se eu quisesse subir ao poder, o que faria? São muitos caminhos. Mas um deles seria ter uma meta a alcançar. Conhecer meu potencial, conhecer minha meta, conhecer os caminhos até ela, e finalmente, alcançá-la. Isso seria o poder na sua essência.
Mas para chegar ao poder, são necessários alguns requisitos. O primeiro deles seria conquistar prosélitos. Começaria pelos eruditos, depois os virtuosos, mais adiante buscaria os descontentes (porque ninguém adere a uma causa se estiver satisfeito com a situação em que vive), os famintos, os rejeitados, os valentes, os fortes, os fracos, e por fim, para abrir caminho durante a batalha os tocadores de tambor, isto é, nesta metáfora, os loucos, os estúpidos, os desqualificados.
Cada um destes personagens compõe o palco de operações, o aparelhamento de guerra, e fornecem munição e logística para o avanço das hordas conquistadoras.
Uma vez conquistado o território, trataria de estabelecer meu domínio. Aqui não serei original, pois Maquiavel já fez isso há quinhentos anos atrás, e antes dele, Sun Tzu, Gengis Khan, Átila, e tantos outros. Mas tentarei contextualizar para mina reflexão, e tentarei descrever os passos que seguem-se à vitória e domínio. Desta forma, estabelecerei dois parâmetros: O primeiro serão as obras propostas e intentadas. Outro, será o confronto com os focos de resistência dos vencidos.
No primeiro caso, as obras são fáceis, pois agradam ao povo. De quando em quando emitiria decretos que fossem benéficos a pequenos grupos. Pão e Circo, não necessariamente juntos.Jamais um único decreto que beneficiasse à todos, pois não poderia suportar a avalanche de pleitos que chegariam a seguir, pois segundo Maquiavel, não pode o Príncipe (governante qualquer) cometer um ato inferior ao anterior, e cada ação ou decreto, por mais benéfico que seja, suscitará do seguinte benefício ainda maior,e desta forma, não suportará o governante a carga e os custos de tais empreendimentos. Usaria o modelo utilizado pelos adestradores de feras ou animais selvagens: dar pequenos benefícios consoante recompensas merecidas por determinado período.Chamar-se-ia "Meritocracia Política", isto é, não extensível apenas aos servidores a meu comando,mas a todo o povo sob minha jurisdição. Desta forma manteria o controle de grupos isolados, pois já de antemão estabeleceria grupos distintos entre os que me servem, posto que o grupo recém beneficiado lutará com unhas e dentes para manter suas benesses, e terei sempre dragões ferozes a guardar minha fortaleza. Um rodízio, para usar termos mais atuais, diria eu.
No segundo caso, teria que tratar com os vencidos. O problema estaria em que vencidos não seriam comovidos com benesses pontuais e seu foco estaria direcionado a desmantelar meu poder, e causar desequilíbrio de forças entre os derrotados. Desta forma, transformaria vencidos em oprimidos. Lançaria meus cães raivosos sobre eles nas noites escuras e os colocaria em fuga dispersa, para que não tivessem tempo ou condições de se juntarem e planejarem contra-ataques contra mim. Perverso, mas eficaz.
E quem seriam estes cães ferozes, uma vez que não estaria ainda chegada a hora da agressão física (esta viria numa etapa final para acabar de vez com o ânimo e as forças dos derrotados, antes adversários, mas agora inimigos)? Seria eles, os loucos, os desvairados, os chupa-cabras do poder.
Mas como dominar um louco, que não domina nem a si próprio? Pela humilhação. O método é assim: Primeiro você usa os loucos na artilharia de frente. Manda que eles agridam os adversários, que sirvam de escudo às flechas do exército oponente, e para que todas as pragas sejam rogadas a estes infelizes. De tempos em tempo, soltam-se as focinheiras destes malucos para que façam cortina de fumaça ao perceberem que os adversários se aproximam de suas defesas. Há casos em que que os adversários estão tão, mas tão perigosamente próximos, que são necessárias ações de desespero, desespero ideológico.Onde os argumentos se esgotaram, então começa o front camicase. Jogam hordas de destrambelhados contra os oponentes para que façam toda espécie de barulho, e abafe as desafinadas cantilenas que cantam os seus mentores.
Enfim, se eu tivesse esse tipo de ambição ao poder, e não tivesse nenhuma ética, talvez viesse a pensar nestes artifícios do submundo. Porque se nada disso desse resultado, eu teria que recorrer ao último estágio da razão: a baderna, a baixaria, à violência por todos os seus meios.
Felizmente vivemos em um mundo civilizado onde tudo isso que falei não passa de elucubração romântica, de épicos que ficaram na bravura dos anti heróis do passado.
Como frear os loucos? Só seus ídolos podem fazê-lo. E se não o fazem, é porque divertem-se com as sandices de seus bufões. E o povo que espere sua vez de ter seus próprios bufões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário