Num montante de setenta e oito expositores, menos de dez são de Gramado. Pelo menos foi isso que vi no site oficial do Salão de Gramado, em sua quinta edição. Um número absolutamente inexpressivo de fabricantes que ainda resistem ao ocaso do setor moveleiro, que já foi um dos pilares econômicos do Município de Gramado, e com expressiva participação também no Município vizinho, de Canela, na Serra Gaúcha.
O polo moveleiro das duas cidades contava com quase duzentas micro e pequenas empresas no setor, na primeira década do Século vinte e um. Este número foi, a partir da segunda década, reduzindo drasticamente, e hoje ainda resistem cerca de cinquenta associados ao SINDMOBIL Região das Hortênsias, e destes ainda, nem todos são fabricantes de móveis.
Numa tentativa de revigorar o setor, o esforço dos gestores é explícito, através de exposições anuais na Rua Coberta de Gramado, ou o Salão do Móvel, com setenta expositores, em um espaço que caberiam dez vezes mais.
Não cabe julgar o mérito deste declínio à gestão ou visão empreendedora dos atuais gestores, ou seus ancestrais. É uma questão conjuntural. Nacional e internacional. Gramado não foge à regra deste cenário, que começa pela formação de mão de obra qualificada. Gramado não tem e nunca teve uma escola dedicada à instrução de novos talentos para a movelaria. Nunca investiu em capacitação de inteligência de mercado para este setor. As coisas aconteciam naturalmente. O conhecimento era passado aos moldes bíblicos da antiguidade: de pai pra filho. De geração a geração, apesar de estaremos apenas na terceira geração destes pioneiros, que iniciaram lá nos não tão distantes anos setenta.
Gramado sempre foi bom vendedor de si mesma. Tudo o que se produzia em Gramado era vendido com facilidade. E sabemos que inanição gera obesidade. A obesidade leva à falta de ânimo e a falta de ânimo gera depressão (não é a única causa). O setor d móveis de Gramado tosse com fraqueza e com franqueza seu declínio. Não um declínio por falta de mercado, nem por falta de produtos com qualidade. Pelo contrário, tudo o que é produzido hoje tem infinitamente mais qualidade que aquilo que se fazia ha vinte anos atrás. O que acontece então?
Acontece que não há mais motivação para que um jovem queira aprender a fazer móveis, como faziam seus pais e avós. Simples assim. Com as novas tecnologias também, Gramado buscou aprimorar-se em tudo. Tudo o que é feito, faz-se com esmero,mas é exatamente este esmero que cria um gargalo produtivo, porque não há mais mão de obra. A demanda por outras ocupações menos sofridas (pense em descarregar pranchas às sete horas de uma manhã de geada), buscando por profissionais, e certamente também a automação industrial disponível em todos os centros produtivos, associada à oferta sempre abundante de mão de obra, fizeram com que em outros polos fossem reproduzidos com muito mais agilidade e menor custo, móveis com a mesma qualidade e a mesma criatividade que aqueles feitos em Gramado.
Outro fator a ser considerado é que Gramado,por muitos anos, teve um estilo com seu nome, mas que também sucumbiu à moda e foi relegado ao passado. Mudou então seu estilo,mas esqueceu de comunicar isso ao grande mercado, que até hoje ainda acredita que em Gramado sejam produzidos móveis de madeira pesada e pintados com betume e cera.
E para arrematar a questão, o setor moveleiro de Gramado teve mês e ano de seu declínio: Fevereiro de 2004, quando foi realizada a última Feira de Móveis de considerável porte, onde haviam dois centros de eventos competindo entre si: Sierra Park e Expo Gramado. No primeiro, acontecia o Salão do Móvel Brasil que reunia o melhor do Brasil e do mundo, atraindo milhares de compradores. O segundo, buscou o caminho paralelo e realizou na mesma data um evento satélite, contando com os visitantes do primeiro. E isso não aconteceu. E nunca mais Gramado foi a mesma desde então.
Não posso estabelecer que a culpa tenha sido de um ou de outro. Os tempos haviam mudado e Gramado não deu ouvidos à vosa das mudanças. Acreditou que o método empírico de transmissão de conhecimento e gestão não mudaria nunca. Mudou. E mudou com velocidade espantosa.
Tenho conversado com os novos gestores do Município a respeito disso, que em campanha, se comprometeram em oferecer uma solução ao declínio do setor em Gramado. Tal promessa poderá ser cumprida, mas não creio em milagres em se tratando de dar murro em ponta de faca. Promessas de campanha são feitas ao calor do abraço, mas na fria letra dos números, o abraço é o que menos interessa. Investir mais dinheiro para "empoderar" o setor é um tiro no pé. No máximo, boas feiras. Como eventos. Isso sim pode crescer muito além do que já cresce.
Faço aqui uma previsão, com base no que tenho acompanhado ao longo de mais de quarenta anos como designer do setor: Gramado não terá mais que vinte fábricas de móveis em funcionamento nos próximos cinco anos. Quem viver verá.
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