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Diferente dos animais, das plantas, dos meteoros e das bolinhas de gude, o Ser Humano, o Homem (vou chamar de pessoas, pois mesmo que cientificamente correto chamar o indivíduo antropomórfico de Homem e não homem, nesta sociedade de esquerdismo impregnante, torno-me incorreto e antis-social se chamá-lo pela forma correta), tem não apenas a oportunidade, mas a obrigação de tomar decisões em cada estágio de seu crescimento, e assim, desde que começa a raciocinar (que é diferente de pensar), passa a ter obrigações sociais e individuais, que o obriga a pertencer ao grupo, e, em todos os casos, a grupos que não escolheu pertencer. Tanto é que, no momento em que começa a pensar, e pensar diferente, deixa o grupo, ou em algumas vezes, é banido do mesmo.
Mas o que são nossas escolhas, senão a oportunidade que temos de reflexão sobre a vida, já que viver não foi uma escolha nossa, mas continuar a viver é uma oportunidade que temos?
Sendo assim, nossas escolhas são a carta que mapeia nossa trajetória, do nascer ao ocaso, e muitas vezes também, ao acaso. Do espermatozoide à foto ovalada em uma pequena porcelana sobre uma lápide, ou nem isso, quando nossa existência foi fugaz e sem afetos para nos guardarem-nos em suas lembranças e saudades, somos temporários, e mesmo que temporários, não somos provisórios. Somos únicos entre tantos bilhões de outros semelhantes a nós.
No entanto, cada estágio de nossas vidas, e há estágios que duram apenas um dia ou menos, temos que decidir, de chofre, caso contrário, decidem por nós, e, na total maioria das vezes, decidem errado, mas que ao estar decidido, e inevitavelmente, por não termos decidido nós mesmos, por alguma escolha que nem sabíamos existir, acabamos não tendo força alguma para nos opor ao que nos foi imposto, sob a forma de conselho. Uma destas escolhas, é a nossa carreira profissional.
Quando estamos no fim do Ensino Médio, antes chamado de Científico, ou Liceu, dependendo do lugar, as inevitáveis questões de orientação profissional nos são enfiadas goela abaixo, sem que tenhamos ainda nos dado conta que nossas sinapses acabam de serem renovadas, e que mal conseguimos perceber que não somos mais nós aquilo e aqueles que éramos antes, uma vez que a infância foi devorada pela adolescência e a adolescência foi varada das flechas das incertezas, mas que, mesmo assim, sufocam-nos com a urgência da tomada de decisão acerca de nossa carreira profissional, ou seja, obrigam-nos a escolher aquilo que seremos durante o resto de nossas vidas, quando ainda nem descobrimos quem somos na curta vida que começamos a viver.
A crueldade das escolhas para contentarmos a sociedade que nos acolhe, e por isso cobra como uma dívida impagável aquilo que acha que a ela devemos, acaba criando uma geração de infelizes que perambulam pela vida com a garganta travada pelas canções que não fomos capazes de cantar, nem pelas coisas que não tivemos a oportunidade de dizer, ou ainda pelos sonhos que não nos deixaram sonhar, porque tínhamos que estar despertos e alertas para escolher o interminável carrossel de opções profissionais que o mundo repleto de escolhas tem para nos oferecer.
Isso me faz-me voltar ao mundo antigo, nos tempos bíblicos, onde o rapaz tinha, na sociedade judaica, a obrigação de casar-se aos dezoito anos, e somente aos vinte anos, é que deveria tomar uma decisão quanto ao seu futuro profissional.
É bastante sabido que naqueles tempos a prateleira de profissões era reduzida a um punhado ínfimo de escolhas, sendo a principal delas, a lavoura. Pois bem, mas mesmo sendo uma escolha simples entre a lavoura ou o cinzel de pedreiro, a escolha feita duraria por muitas gerações. Então, o método escolhido por D's, segundo a Torá, a Lei de Moisés, era que por primeiro fosse estruturada a sua vida familiar. Primeiro ele deveria construir a sua base para a felicidade. Primeiro, ele deveria escolher a parceira de sua vida (vou ater-me ao homem, uma vez que a sociedade era patriarcal, mas se quiser ajustar-se ao feminismo marxista escatológico, então pode transferir todos os parâmetros para a mulher. Não me importo), e só depois de com esta parceira gozar dois anos de pleno prazer, é que, já saciado de ternura, deveria buscar estabelecer sua base profissional.
É evidente que durante estes dois anos, havia o suporte financeiro dos pais e da própria comunidade, isso porque, naqueles tempos, comunidade era uma palavra e um conceito que tinha muito valor. Então os jovens poderiam, entre uma pegada daqui, e uma agarrada ali, pensarem detidamente sobre o futuro do casal, no tocante ao trabalho e aos filhos, que viriam às pencas. Era assim que se construía a sociedade e a família. Era desta forma que as pessoas buscavam equilíbrio para solucionarem sua questão de escolhas. E quando havia dúvidas, ao longo do caminho, haviam os Juízes, que eram buscados para aconselhar as pessoas e a comunidade, e as Leis, eram vetores de orientação para a vida.
Infelizmente, com o abandono de velhas práticas, junto vieram as consequências. Os Juízes não mais aconselhavam, mas passaram a julgar delitos. As Leis, em lugar de instruções, tornaram-se instrumentos policialescos. E a Justiça, que dirimia dúvidas, tornou-se escudo de barganha. Foi desta forma, aos poucos e com decidida ânsia pelo fracasso, que tornou-se uma fábrica de pessoas infelizes, desajustadas, e sem rumo.
Assim, as escolhas que não fazemos, fazem doe nós o que somos, e somos aquilo que não desejaríamos ser, e não temos mais a capacidade de desejar aquilo que não conhecemos, porque as escolhas são múltiplas, e as escolhemos exatamente pelo processo de múltipla escolha, e porque trocamos a busca da felicidade como prioridade, pela busca da segurança financeira como primeira opção. Ficamos sem as duas, na maioria das vezes.
*Com agradecimento à Revisora Heloísa Araújo
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