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terça-feira, 27 de junho de 2017

Uber ou Táxi - O que é você?



A dialética* é uma constante no dualismo que nos acomete de idas e vindas todos os dias ao longo da nossa vida. Somos chamados à decidirmos sobre isto, isso, aquele, aquela ou aquilo, em quase todos os momentos, em quase todos os lugares, em quase todas as situações, e com quase todas as pessoas.

No super mercado, temos que escolher esta ou aquela marca se sabão, este ou aquele tipo de pão, esta ou aquela revista, este ou aquele livro, quando na livraria ou na banca da esquina.

O primeiro e o maior de todos os atributos que nos define por Humanos é o Livre Arbítrio, aquilo que nos torna Semelhantes à D-s, e a única benesse que O Criador nos outorgou sem imposição alguma. Somos livres para o bem e para o mal. Alguns escolhem o segundo, e felizmente, muitos optam pelo primeiro.

A sociedade pós moderna nos atribui obrigações tais que, nossa mente precisaria ter mais de mil outras mentes auxiliares para contabilizar tudo o que temos à nossa disposição para tornar nossa existência tão dinâmica quantas são as opções de escolha. Viva a Dialética então. Viva as escolhas. Viva a dúvida e viva também ao exercício de reflexão que somos obrigados a desenfrear em cada uma destas escolhas.

A escolha de minha reflexão de hoje é um novo desafio à civilidade, ao livre arbítrio, ao direito do ir e vir, mas em paralelo a isso, o respeito ao Ser Humano.

Vou aqui relatar duas historias hipotéticas entre dois personagens que criei, mas inspirados em personagens verdadeiros, para ilustrar meu raciocínio, e meu convite a que reflitam meus queridos leitores e minhas perfumadas leitoras sobre a questão, que não envolve apenas uma opção de condução, mas o sustento de famílias dos dois lados da mesma moeda: a crise! Eis o caso:

João e José são dois amigos de infância. Jogavam pelada, trocavam figurinhas, iam ao "matineé" (sessão de domingo à tarde do cinema), tomavam banho de rio juntos, e frequentavam a mesma escola. Apaixonaram-se por duas belas moçoilas casadoiras, e enfim, o enlace de um e de outro, momento em que a vida começa a tomar rumo diferente de um e de outro.

João, era mais afeto aos livros, e por esta razão, cursou uma faculdade, fez pós graduação, e tornou-se gerente de uma grande empresa. Ganhava bem, pagava uma boa escola para os filhos, e a vida ia bem boa pro João.

José teve um pouco menos de oportunidade para estudar, mas era trabalhador. Também casou-se, e João foi seu padrinho de casamento. A amizade continuou, cresceu, à medida que os filhos também cresciam, e com muito sacrifício, pagava para colocar os filhos na mesma escola dos filhos de João. Aos fins de semana, quando José não trabalhava, reuniam-se para um almoço entre as famílias e um bate papo com mais amigos. Assim era avida. Pura felicidade. José tornara-se um taxista. Tinha um carro sempre novo, asseado e era um dedicado profissional, muito requisitado. Pagava seus impostos, renovava suas licenças, e a vida ia bem com José.

Um dia, choveu menos na lavoura. O gado morreu de fome. Uma crise internacional assolou a economia. Uma crise moral assolou a política. E João perdeu seu emprego. Ganhava muito bem, e de um dia para outro, precisou começar a contar moedas para comprar comida,abastecer o bom carro que ainda não vendera, pela esperança que a crise fosse passageira, enfim, todas aquelas coisas pelas quais passa alguém que teve um padrão de vida, e mais que isso, deu um padrão de vida á família,e o que v~e pela frente são outros desempregados em busca de uma luz que os liberte do pesadelo da SERASA, do SPC, da Escola Pública, das roupas remendadas, dos impostos em atraso, da falta de combustível para o bom carro, do mau humor da família, e da vergonha por achar-se incompetente para devolver-lhes o padrão ao qual os acostumara.

José, também reduzira seu padrão, mas como era já acostumado a apertar o cinto, pouco sofreu com a crise, e com seu bem cuidado Táxi, trazia o sustento da casa todos os dias.

Os almoços de fim de semana foram reduzidos  também. João oferecia desculpas por vergonha de não poder colaborar com as despesas da festa, ao mesmo tempo de ter ainda mais vergonha de ver sua parte das despesas pagas pelos amigos.

Um dia, aparece a João uma proposta: Transforma seu carro em um negócio, através do UBER. Não era para enriquecer, nem tampouco resgatar rapidamente o padrão que tivera antes, mas era uma forma de manter sua dignidade, e não perder se carro, e quem sabe, com um pouco de economia, não precisar tirar os filhos a escola particular. E começa a trabalhar.

José, que pagava seus impostos, taxas da Prefeitura, mantinha seus compromissos com o Sindicato, a Associação dos Amigos Taxistas e todos os afins em dia, começa ver no antigo colega de infância uma ponta de traição. Influenciado por outros que passam pela mesma situação, passa a ver em João não mais o amigo, mas o concorrente, e pior que isso,o concorrente desleal. E a amizade se esvai pela desconfiança e pela crise.

João, por sua vez, percebe a mudança no amigo, mas vida que segue, tem que dobrar horário para atender à demanda que cresce. Os negócios começam a prosperar, e mesmo que trabalhe dezesseis horas por dia, não pode perder a oportunidade que a vida lhe outorgou, de recuperar o padrão de vida de sua família. E assim crescem os negócios e perdem-se as amizades.

João e José eram dois grandes amigos. João e José tornaram-se grandes rivais depois da crise. Um porque precisou mudar.  Outro porque não aceitou as mudanças. E assim, de João em João, e de José em José, as amizades se esvaem pelo direito de escolha de um e de outro,e daqueles que usufruem dos serviços do outro e do um. Triste cenário. O cenário que descreve o declínio da Classe Média. O Declínio da economia,mas acima de tudo, o declínio da civilização.




dialética
substantivo feminino
filosofia -  em sentido bastante genérico, oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos.
  • filosofia no platonismo, processo de diálogo, debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias.
  • filosofia no aristotelismo, raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu âmago a possibilidade de ser refutado. (Fonte: Wiki)
     
     
     

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